Após a segunda tentativa sem sucesso fomos até o médico, assim como na primeira vez, e ouvimos quais eram nossas alternativas. Poderíamos tentar novamente o IUI, cuja taxa de sucesso era 20%, ou partir para o ICSI, cuja taxa de sucesso para o nosso caso era de 80%. A escolha parecia simples, mas o segundo método é consideravalmente mais caro e agride muito mais o corpo da mulher. Além disso, ao invés do processo durar 1 mês, duraria 2. Isso nos assustou um pouco. Sabíamos que para ter sucesso precisaríamos acreditar e estar com toda a nossa atenção focada. Este definitivamente não era o caso naquele momento.
Decidimos então ficar um mês sem nem tocar no assunto. O incômodo em relação às tentativas falhas era grande, mas o alívio de não encarar tudo de novo era maior. A Nanade estava esgotada fisicamente e nosso psicológico estava completamente destruído. Precisávamos, antes de tudo, resgatar a nossa alegria, pois era isso que nos impulsionava. Hoje me dei conta de uma coisa que havia passado despercebida. Vocês notaram que o último post do blog antes da notícia da gravidez havia sido em março? Isso não foi uma coincidência...
Quase não tocamos no assunto no primeiro mês. Nos unimos muito, nos conhecemos ainda mais, descobrimos novas alegrias e resgatamos algumas outras esquecidas. Porém, foi um período que sumimos do mapa. Nossos amigos sempre perguntavam pela nossa ausência, se estava tudo bem, mas resolvemos não compartilhar esse desafio naquele momento. Foi mais uma excelente época de auto descoberta. Conversamos sobre a importância de termos saúde, de sermos pessoas com boa capacidade de relacionamento, comemoramos nossas conquistas, revivemos momentos de alegrias. Chegamos ao final do primeiro mês descansados e resolvemos que começaríamos o processo de novo. Porém, havíamos ignorado o assunto por 1 mês e decidimos esperar mais 1 mês para podermos definir nossos planos e táticas para encarar essa jornada. E assim se seguiu.
Durante nossas conversas no segundo mês chegamos a pensar em desistir e começar um processo de adoção, mas sabíamos que a luta seria tão grande quanto a continuação desse que já havíamos iniciado. Além disso, queríamos esgotar todas as nossas possibilidades antes de partirmos para algo radical. Assim, decidimos partir logo para o ICSI. Fizemos contas, conseguimos apoio da família, lemos muito sobre o processo e voltamos a falar com o médico. Ele nos pediu para voltar no início do ciclo menstrual da Nanade para dar início à primeira fase de monitoramento. Estávamos animados novamente e o médico nos alertou que isso nos ajudaria, pois o processo iria requerer muito da gente, principalmente da Nanade.
Monitoramento se inicia, exame de sangue e ultra quase todos os dias. Essa rotina já era conhecida, mas a Nanade já não estava reclamando. As coisas começaram a mudar quando foi identificada a ovulação. No processo anterior iríamos coletar os espermatozóides e inserir na Nanade, mas desta vez recebemos uma lista de afazeres. Teríamos que conversar com a enfermeira, counselor, embriologista, começar a tomar as tão temíveis injeções diárias na barriga e fazer uma biópsia do últero. A biópsia foi o primeiro alerta do que a Nanade passaria a enfrentar a partir daquele momento. O médico enfiou uma tesoura cirúrgica em seu útero, sem anestesia, e retirou um “taco” da parte interior. Antes de cortar ele disse “it is going to hurt a little, but you need to hang on. It will be quick”. Vendo a cena eu soube exatamente os dois momentos que ele fechou a tesoura para tirar o pedaço, pois o rosto da Nanade se contorcia de dor. Ele nos explicou que a biópsia serviria para avaliar se as paredes do útero estavam prontas para “agarrar” um embrião e também que a falta do pedaço retirado iria causar uma inflação no útero que aumentaria a chance de engravidar no mês seguinte. Putz, precisava arrancar um pedaço para isso? Não tem um supositório de superbonder que pudesse auxiliar? Acho que seria mais tranquilo desta forma. Após a retirada, o médico perguntou se a Nanade estava bem, se ela iria “faint”, já que isso é normal devido à dor. A Nanade pediu um tempo para se recuperar e ele nos avisou que estávamos liberados para ir para casa. 5 minutos depois a Nanade se levantou e tentou se vestir. Neste momento ela anunciou “Amor! Eu acho que vou fancy!”, já se agarrando pelas paredes. Eu não sabia se ria ou a ajudava a ficar em pé. Você vai o que? “Para de gracinha, me ajuda aqui que tá tudo rodando”. Fica esperta, mulher! Fancy você fica quando se “emperequeta” toda para tirar sangue.
Neste dia começamos a tomar a injeção. A enfermeira aplicou a primeira e disse que deveríamos voltar no dia seguinte para conversar com a enfermeira chefe. Ela seria responsável por nos explicar como seria o andamento da nossa jornada. Dia seguinte estávamos lá para ouvir o que nos esperava. A idéia básica é a seguinte. A partir do próximo ciclo eles irão estimular o ovário a produzir a maior quantidade de óvulos possível para que possam coletá-los e inseminá-los. Quanto mais embriões formados (óvulos inseminados), mais chances teríamos de engravidar. Para estimular a formação de óvulos, eles precisavam cortar a comunicação entre o ovário e o cérebro, caso contrário haveria a liberação prematura dos óvulos e todo o trabalho seria jogado por água abaixo. A injeção que ela começou a tomar no dia anterior era exatamente para evitar este problema. Pois bem, a Nanade deveria tomar essa injeção todo dia na parte da manhã e não havia condição de ir todos os dias na clínica, que fica em Mississauga, só para isso. A Nanade falou logo que não tinha coragem para fazê-lo, mesmo sendo aquelas injeções pequenininhas, tipo de insulina. Sobrou para quem? Dalila! Eu ficava imaginando como o gato iria se virar para dar estas injeções na Nanade. Bom, pelo menos foi essa a sugestão que eu dei. Eu acredito que ela estaria mais segura com a Dalila fazendo este trabalho do que com a absurda idéia de me envolverem nesta brincadeira. Injeção! Vocês estao falando sério? Não tive como fugir! A enfermeira me explicou como fazia e me disse que era para eu relaxar que não iria causar mal algum à ela. “Pinch her belly skin and perform one quick movement in, that is it”. Ok! Depois não digam que não avisei.
A enfermeira nos trouxe um calhamaço de documentos para assinarmos. Deveríamos aceitar os riscos e definir o futuro do material colhido que não fosse usado. Ela nos explicou o que eram os papéis e quais eram nossas opções. Assim, levamos tudo para casa para tomar nossas decisões. No fim, iremos doar tudo para pesquisas, afinal só estamos tendo a oportunidade de passar por isso porque outras pessoas fizeram esta boa ação. Sentimos que esta é a nossa forma de darmos algo em troca ao que estamos recebendo.
Uma grande preocupação da Nanade era a retirada dos óvulos. Ela estava traumatizada com a biópsia e saber que alguém iria ter que chegar até os ovários com uma agulha, a assustava terrivelmente. A enfermeira nos acalmou e disse que ela passaria por esta experiência enquanto estivesse dormindo. A recuperação às vezes é um pouco mais complicadinha, mas o dia da retirada é tudo tranquilo. Ok! Continuamos nossa jornada.
Fomos conversar com a counselor e ela achou muito legal a idéia de que eu estava dando as injeções. Isso demonstrava muito companheirismo, pois eu estava sentindo o momento e participando ativamente de cada passo. Mal sabia ela que só estava fazendo isso porque temos um gato incompetente que não consegue aplicar uma simples injeção. Eu falei que já tinha machucado muito a Nanade nas primeiras injeções, pois não tinha muita prática. Porém, havia pesquisado o melhor método e agora utilizava a técnica do dardo. Eu segurava a barriga e imaginava que estava no campeonato mundial: 1, 2, 3 e lança! (Conseguiram entender o movimento?) Era a forma que mais me sentia seguro. Fomos ao embriologista e ela nos mostrou passo a passo como funcionaria a fertilização. Foi uma experiência muito interessante. Eu recomendo a todos que vejam o vídeo que indiquei no post anterior para terem uma idéia de como funciona. Ela nos disse que retirar muitos óvulos não significa que serão gerados muitos embriões, mas que quanto maior o número de óvulos retirados, maior a possibilidade de se chegar a um bom número. O normal é retirarem cerca de 25 óvulos e no final gerarem cerca de 4 embriões prontos para serem implantados. Começamos a discutir então quantos óvulos seriam inseridos. Eles normalmente inserem de 1 a 3 embriões. Nosso caso, como a Nanade não apresentava nenhum problema, colocar 3 seria um pouco de exagero, uma vez que a chance dos 3 se implatarem era grande. Por outro lado, colocar 1 também seria arriscado, pois é um tiro único para acertar o alvo. Concordamos com o número 2. Afinal, se 1 falhar, tem o outro, se os dois obtiverem sucesso, não seria o fim do mundo. Muito pelo contrário, a Nanade realizaria seu sonho.
Chega o fim do primeiro ciclo e as coisas ficam cada dia mais próximas. Estava na hora de começarmos a estimular a produção de óvulos. Como? Outra injeção na barriga! Agora iria dar uma injeção de manhã para cortar a comunicação entre o ovário e o cérebro e outra de noite para estimular o ovário. A barriga da Nanade parecia uma peneira. Fizemos um mapeamento para planejar uma estratégia de onde seriam dadas as injeções, mas não tinha jeito. Porém, apesar desta provação a Nanade estava com um excelente espírito. Acredito que eu ficava mais nervoso para dar as injeções do que ela para receber (vocês podem confirmar isso no vídeo que colocaremos no final do post). A parte das injeções foi uma boa surpresa. Nós pensávamos que seria um período muito complicado, mas não foi. Junto com a segunda injeção voltaram também as práticas de monitoramento para ver os óvulos. Agora ao invés de aparecer um óvulo se desenvolvendo, a ultra mostrava um exército se formando. Em uma das ultras a mulher parou de contar depois que passou de 20. Isso era um excelente sinal. Tudo estava correndo como planejado, mas tinha um efeito colateral. A mulherada vai entender melhor esta parte do texto. Vocês sabem aquela dorzinha que dá quando um óvulo está quase maduro e perto de ser liberado? Pois é! Imaginem como seria ter mais de 20 óvulos neste estado. A barriga da Nanade estava inchada, ela tinha dificuldade de andar, sentar e levantar. Os hormônios estavam em níveis assustadores e o gênio da mulher... sem comentários. Porém, por incrível que pareça estávamos levando tudo com muita tranquilidade. O tempo passava muito rápido e logo chegou o dia da retirada dos óvulos.
Há dois dias da retirada estávamos muito empolgados. Conversamos com o médico e ele nos falou para parar com todas as injeções. Agora só faltava a última, aquela que a Nanade já havia tomado duas vezes para liberar os óvulos (nos ciclos de IUI). Assim ocorreu e dois dias depois estávamos na clínica para o grande desafio. A Nanade estava nervosa, mas muito confiante. Assim que chegamos à clínica ela já colocou aquelas roupinhas de cirurgia e sentamos na sala de espera e recuperação. Pudemos presenciar que muitas pessoas passam por este processo. Só neste dia tinham pelo menos 4 casais além de nós. Haviam duas histórias interessantes que merecem comentários. A primeira eram duas mulheres casadas que estavam realizando o sonho da maternidade. Para isso, elas iriam retirar o óvulo de uma, inseminar com um espermatozóide conseguido num banco e a transferência seria feita para que a outra pudesse engravidar. Neste dia elas estavam fazendo a transferência do embrião e a enfermeira sempre muito simpática estava as parabenizando. “Espero que dê tudo certo a partir de agora. Parabéns mamãe e parabéns mamãe”. A outra história não é tão feliz. Havia um casal que já havia tentado uma vez e no processo anterior não haviam conseguido recuperar nenhum óvulo. Logo que ela saiu da sala de cirurgia, a Nanade entrou. Assim, pude ouvir um pouco da história deles. Ela tinha um problema no ovário e estava tentando pela segunda vez passar por todo esse processo. A enfermeira voltou e disse que haviam retirado o líquido, agora era hora de procurar pelos óvulos. Até aquele momento, tudo estava dentro do esperado. A Nanade retorna da sala de cirurgia junto com a enfermeira que deu a notícia bombástica para esse casal. Novamente eles não tinha conseguido achar nenhum óvulo. A mulher não consegia se conter e aquela imagem foi muito marcante. Eu conseguia entender o que ela estava passando e nem precisei tomar injeção para isso. Passar por todo esse processo e não conseguir chegar ao objetivo final deve ser uma sensação devastadora. Ao mesmo tempo me dei conta que ainda não tinha recebido a notícia de qual era o resultado da pesquisa da Nanade e isso me afligiu. Eu não sabia que havia esta possibilidade. Para mim, se tinha os folículos obrigatoriamente existiam óvulos ali, mas parece que não era o caso. Neste meio tempo eu tive que fazer a minha parte do processo. Porém, nada de agulhas, injeções, remédios, biópsias. O homem tem uma vantagem incrível. Há uma ferramenta própria para retirada do material necessário, basta chacoalhar. De volta à sala de recuperação passei mais 5 minutos de angústia com a Nanade passando mal e a falta da informação sobre o resultado. Até que vem a notícia em alto e bom som. "Parabéns, nós conseguimos coletar 34 óvulos". Eu sinceramente não consegui comemorar como deveria. A mulher em prantos ao nosso lado prestou bastante atenção no que a enfermeira falou, isso trouxe mais um enxurrada de lágrimas de sua parte. Quase pedi para a enfermeira pegar meia dúzia e oferecer para ela, mas não seria muito educado de minha parte.
Chega o momento de fecundarem os óvulos e esse passou a ser nossa grande expectativa. Este passo tem uma importância enorme pois gerar embriões de qualidade é uma tarefa complexa e primordial para alcançar o sucesso. Porém, falaremos mais sobre isso no próximo post. Acredito que estamos dando detalhes demais e isso está deixando os posts muito grandes.
Aguentem firmes, pois as emoções ainda estão por vir. Por enquanto fiquem com um apanhado de vídeos e fotos que mostram um pouco do que passamos.
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8 comentários:
Olá Luciano e Nanade, acompanho o blog de vocês a algum tempo e estou emocionada com a história. Não tem detalhes demais, pelo contrário. O que vocês viveram não cabe no papel.
Eu e meu marido estamos tentando engravidar há um ano e a história de vocês tem me dado a maior força. Aguardo os próximos capítulos.
Parabéns pelos bebês!
Nanade e Luciano,
Vcs. são meus heróis !!!
Wow !!!!
Flavio
Ual...
Eu estou sem saber o que escrever pra vcs. Quanta garra gente! É emocionante ver a união e amor entre vcs. Esses bebês realmente são e serão muito amados.
É difícil a gt conseguir expressar com palavras o quanto a gt se envolve com a história de vcs e quanto foi difícil pra vcs todo esse processo...Mas agora eu só desejo que vcs aproveitem tudo o que puderem. Ainda bem que chegarei ai antes da barriguinha dela crescer, pois quero com certeza ver a Nanade linda com o barrigão...aqui em casa passamos por algum processo parecido. Sei o quanto é doloroso...mas enfim, toda felicidade p/ 4.
Grande abraços,
Ninha e Do
Nossa mãe, quanta emoção!
Não dá nem pra imaginar tudo o que vocês passaram... impressionante vocês terem tido o discernimento de dar uma parada pra recarregar as energias, conseguindo controlar a ansiedade. Eu não sei se seria capaz de algo assim, o que muitas vezes coloca tudo a perder.
E, apesar da dor, é notável a felicidade da Nanade na hora das injeções, assim como é notável o silêncio apreensivo do sempre tão falante Luciano.
Já imaginou o filho de vocês lendo e vendo isso tudo? Nossa, vai ser muito legal. Portanto, não economizem nos detalhes!
Beijo,
K.
Olá Nanade e Luciano! Estou acompanhando a história de vcs e estou bem emocionada com toda esta trajetória e sofrimento para realizar o sonho de ter filhos!
Parabéns!
Fernanda
Oi Luciano, oi Nanade,
Caraca gente, sempre que tenho um tempo dou um pulo no blog de vocês por curiosidade e também para ver como estão as coisas. Lendo sobre a caminhada de vocês só tenho a dizer duas coisas, primeiro super parabéns, a emoção de ser pai ou mãe é algo indescritível e é lógico que para vocês isso terá um gosto ainda mais especial. Em segundo, acho que o texto de vocês me fez dar ainda mais valor a minha mulher e filha e valorizar ainda mais cada segundo que passo com elas. Vcs são um super exemplo de superação, companherismo e com certeza vão ser super pais (x2) !
Saudações das terras baixas,
Anderson
meu Deus!!! A barriga da nanade .... aff ... achei bem interessande é muito claro ver a felicidade e a esperança que crescia a cada injeção recebida, e dada.
nao podemos dizer que foi uma bençao, e sim duas!!!
bjao para vcs 4, ou melhor 5 -para a dalila nao ficar com ciumes....
Já tem um post de 02 de agosto e eu acabei de começar a ler este.... como sou apressada, comecei pelo fim assistindo o vídeo dolorido das injeções na Nanade.
O Luciano estava irreconhecível, muito abatido...
:(
Elis
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