sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Lista de Programas de Índio

Como somos pessoas solícitas e sempre queremos o bem dos outros, resolvemos divulgar nossa lista secreta de programas de índio. Aqueles programas que à primeira vista são de primeira linha, muitas vezes até os aproveitamos bastante durante os momentos que vivemos, mas ao final juramos que aquela seria a última vez que vivenciaríamos tal evento. Resolvemos divulgá-la pois a lista sofreu uma adição hoje. Acredito que a Nanade não concorde com esta última, mas os homens concordarão com certeza.
  • Reveillon em Copacabana

Cenário paradisíaco de praia com o Rio de Janeiro como pano de fundo, fogos de artifício de tirar o fôlego. A qualidade do espetáculo é indiscutível. Passamos o reveillon no Forte de Copacabana com uma visão frontal de Copacabana, a mesma dos diversos transatlânticos ancorados. A companhia era excelente e a comida ídem. Porém, vamos à realidade...

Devido à organização do evento tivemos que parar o carro no Rio Sul. Quem conhece sabe que o shopping fica no extremo oposto do forte. O passeio de ida é maravilhoso, aproveitamos bastante a (falta de) organização, uma "fauna" variada e aquele velho olhar para trás para ver se havia alguém nos seguindo. Ainda estávamos no começo da noite, descansados e empolgados com a oportunidade de vivenciar um dos reveillons mais bonitos do mundo, portanto tudo ainda era festa. A noite foi ótima! Estávamos na companhia, além de grandes amigos, de nada menos do que o Vice Presidente da República. Começa o show, os fogos são lindos nos 3 primeiros minutos, depois o pescoço já começa a reclamar mais do que a emoção vislumbrada pelos olhos. O espetáculo começa a ficar mais e mais desinteressante e a vontade de ir para casa aumenta e aumenta. Neste momento começa o calvário. Pegar ônubis para atravessar copacabana, impossível! Táxis só querem pegar pessoas que vão para a Barra da Tijuca. Aliás, parêntesis neste aspecto para enfatizar este assunto. O Rio de Janeiro é o único lugar do mundo onde os taxistas se sentem no direito de escolher as pessoas que querem levar de acordo com o destino. Enfatizando ainda mais, os taxistas do Rio de Janeiro deviam entrar no livro dos recordes como os piores do mundo. Voltando à nossa saga, só nos restou voltar andando para o Rio Sul. Como não dava para voltar andando pela orla, pois havia dois shows e aproximadamente 2 milhões de pessoas na praia, resolvemos voltar pela Nossa Senhora de Copacabana. Aquilo foi a visão do inferno. Durante 1 hora de caminhada o cheiro de urina, misturada com outras coisas piores, nos perseguiu. Pessoas gritando, passando mal, brigando com motoristas, penduradas nas portas dos ônibus, tentando "contratar namoradas", vomitando no meio da rua. Finalmente chegamos ao Rio Sul sem maiores problemas e prometemos que aquele evento entraria em nossa lista de programas de índio.

  • Grande Prêmio de Fórmula 1

São Paulo, penúltima temporada do Michael Schumacker, toda a festa preparada para o maior vencedor de todos os tempos, apesar da temporada estar sendo dominada pelo Espanhol Fernando Alonso. Gostando ou não, devemos reverenciar o alemão. É possível sentir a diferença de sua técnica apenas pela forma que testa as curvas ao limite. O ronco do motor, o barulho das freadas, o cálculo das tangentes, a precisão da reaceleração. O clima de paixão pelo esporte é impressionante. Porém vamos à realidade...

O treino no sábado é uma degustação do que virá no domingo. Fui para o evento com um amigo experiente no assunto e comecei a me assustar quando ele disse que deveríamo fazer amizade com quem iria dormir na fila para poder pegarmos um lugar bom. Dormir na fila? Isso não estava nos meus planos! Então, exatamente por isso deveríamos fazer amizade com aqueles que dormiriam. Ok, vamos nessa. Nossa conversa com os "vizinhos" de arquibancada começava assim: e aí? Vocês vieram de que cidade? Vão dormir na fila? Se a resposta fosse não, já despachávamos os ex-futuros melhores amigos. Após 5 tentativas achamos nossas vítimas, gasp!, amigos. A primeira vez que um carro sai dos boxes durante o treino e acelera na reta é quase impossível não se emocionar. As rotações aceleram não somente o motor, mas também as batidas do coração. Sem viadisse, mas arrepia todos os cabelos do corpo. Acabando o treino fomos bancar os homeless. Montamos a barraca com nossos amigos e fizemos 4 horas de social com todos os vizinhos de "quarto". A idéia era que dia seguinte chegaríamos na fila e todas as pessoas em volta teriam certeza que estávamos lá na fila desde o dia anterior. Assim o fizemos, dormimos em casa e voltamos para a fila às 4:30h da manhã. Grande vantagem! Entramos na fila e tudo funcionou como planejado, algumas pessoas reclamaram, mas logo um grupo avisou que já estavamos lá desde cedo. Agora era só esperar até 7:30h para que os portões fossem abertos. Só! Acharam que isso era a pior parte. Bom, a corrida começa às 2:00h, eram 7:30h. Quem acompanha a Fórmula 1 sabe qual é o padrão do Grande Prêmio Brasil: etapa com chuva. E ela fez questão e aparecer logo às 8:00h. Curtimos a chuva por 2 horas até que chegou a hora dos ricos desfilarem suas Ferraris e Masseratis pelo autódromo. Dois mundos distintos, você ali ensopado e com frio e os caras preocupados em demonstrar a força do motor de seus brinquedos. Acontece, quem sabe um dia não trocamos de lugar. Nenhum recalque guardado, que venha a corrida. Mais 4 horas de espera, onde a única diversão é sacanear as pessoas que chegam tarde e tentam achar lugar nos melhores assentos da arquibancada, e chega a hora da largada. Volta de apresentação e a emoção e ansiedade começam a aumentar. Primeira volta, todos os carros chegando acelerados na curva no final da reta oposta e mais uma vez o arrepio geral. Pronto, depois disso dá vontade de mudar de canal, mas esta opção não estava disponível. Você começa a torcer para que haja um acidente sinistro e que as pessos saiam pegando fogo pelo meio da pista ou algo parecido. O barulho, que antes causava uma sensação extasiante, agora incomoda. As falhas do motor ainda geram a expectativa que tudo vai explodir, mas nada acontece. Espanhol ganha e é campeão. A saída do autódromo é uma loucura e 3 horas depois chego em casa prometendo que aquele evento entraria em nossa lista de programas de índio.

  • Carnaval de Salvador

Bahia de todos os santos, clima de alegria contagiante, melhor carnaval do mundo. A companhia da família e graaaaandes amigos completavam o ambiente. Estávamos nos camarotes do Forte de São Pedro bem no início do Circuito Campo Grande que incluia a Praça Castro Alves. A proteção era total, chegávamos e saíamos escoltados e sem nos preocupar. Durante as manhãs usufruíamos das praias e as tardes e noites dos "desfiles" das maiores atrações da música bahiana. Porém, vamos à realidade...

Um dos amigos resolveu que queria sair pelo menos um dia dentro do bloco e é neste minuto que começa a aventura. Primeiro tivemos que ir ao Aeroclube para conseguir negociar e comprar os abadás. Como iríamos apenas um dia, então resolvemos ir em grande estilo. Após muita conversa e discussões, pagamos R$150.00 por abadá. O preço inicial era R$300.00, mas já era meio dia e o horário de início já havia passado. Corremos todos sujos de areia de praia para alcançarmos o bloco na avenida, pela primeira vez chegávamos ao centro da bagunça sem estar protegidos. Aquela "muvuca" sem tamanho, empurra-empurra para chegar até a "proteção" das cordas. Proteção? Dentro do bloco o aperto era maior ainda. O bloco Coruja, com Ivete Sangalo, é um dos mais famosos do carnaval, só perde para o Nana Banana, então além do aperto interno, a multidão externa, vulgo pipoca, apertavam mais ainda. Resumindo, baby steps do início ao fim. Mas não é ruim, estávamos ouvindo Ivete Sangalo ali pertinho, com cerveja à disposição (cara, mas a disposição) e os amigos em volta. O segredo é não largar a mão da esposa, caso contrário sempre chegará algum engraçadinho para "conversar". Já que estamos ali, vamos aproveitar. O Circuito tem 7Km de comprimento. Todo poste do trajeto tem um número. Perguntei para um dos amigos o que seriam aqueles números e o otário disse que era a metragem do circuito. Hummm, faz sentido! Os postes têm aproximadamente 10 m entre eles então quando chegarmos em 700 chegaremos ao final, excelente! Vamos pra frente. Cerveja, dança, segura mão da esposa, encontra amigos bêbados, música show de bola, lá vem a curva, abraça a esposa, cerveja (nós não bebemos, estou me referindo a amigos), dança, música legal, pula demais, emoção. Número no poste: 30. Vaaaamos nessa! Dança tapa na cara, cadê a cerveja, segura a mão da esposa, pula, encontra amigos, esse negócio já tá cansando, alguém tá com vontade de fazer xixi (obviamente), segura a esposa, cuidado com a latinha de cerveja voadora, alguém passa a mão na sua bunda, as mãos da esposa estão com você, espero que não enfiem o dedo, lá vem a curva. Número no poste: 60. Queria dizer não, mas já to começando a cansar. Mais música boa, alguém vomita por perto, desvia aíííí, vontade de fazer xixi incontrolável, se vira cumpadi, segura mão da esposa, olha o rio de mijo, pula, segura a esposa, mais amigos, bêbados fazendo xixi na latinhas, hummm eram essas que tavam voando? Mais cuidado com latinhas voadoras, elas estão recheadas, músicas já não são mais tão legais. Número no poste 80. Bicho, eu ja não aguento mais e ainda estamos a pouco mais de 10% desta brincadeira, você não pode estar falando sério!!!! [Amigo trêbado] Nada cara, eu tava só zoando! Vontade enorme de matar a figura, segura a mão da esposa, olha a curva. Finalmente a Ivete anunciou que havíamos chegado à praça Castro Alves e eu sabia que dali para frente seria a perna menor. Porém, não sabia que seria a pior. Os trios eléricos não podem parar no meio da ladeira e a pressão sobre todos é enorme. Vamos motorista, pessoal não podemos parar, corre mais, mais difícil segurar mão da esposa, segura os bêbados, não larga da mão da esposaaaaaaa... Resumindo a agonia 1 hora depois estávamos de volta ao forte aos pedaços, quase não conseguindo andar. Eu não sei como as pessoas conseguem encarar essa maratona diariamente e ainda por cima saem dali e entram no circuto Barra-Ondina. Aliás, sei sim! Muita birita! Chegamos em casa e prometemos que aquele evento entraria em nossa lista de programas de índio. Aliás, a Nanade quer voltar, mas da próxima vez eu trocarei de papel com ela. Ela será a segurança particular.

Agora a mais nova adição à lista
  • Boxing Day

Dia 26 de dezembro é um feriado no Canadá e é por tradição um dia em que o comércio promove uma grande queima de estoque. Isso é o paraíso para as pessoas consumistas, estou me incluindo neste grupo, onde as lojas oferecem produtos variados, de roupas a eletrônicos, por preços que são uma loucura. Conseguimos achar produtos com até 80% de desconto e isso não é enrolação. Porém, vamos à realidade...

Este dia consegue unir tudo que os outros programas de índio contêm de pior. Para os homens então, é o símbolo maior da perda de tempo. Imaginem sair para compras com as mulheres onde o objetivo delas é comprar tudo o que está em promoção. Não podemos negar que as promoções são imperdíveis, mas 10 minutos são suficientes para os homens coseguiem o que querem. Uma visita à Best Buy, Future Shop ou Circuit City são suficientes. Pior, podemos faze isso pela Internet. Por causa desses 10 minutos de prazer temos que pagar por dois dias de perrengue. As filas para entrada nas lojas começam a se formar no dia anterior, assim como na Fórmula 1. Os shoppings são tão lotados e fedidos como como a volta do reveillon pela Nossa Senhora de Copacabana e o segredo é não largar a mão da esposa, assim como no carnaval de Salvador, mas neste caso é por pura proteção ao seu histórico de crédito. Cada loja que entrávamos demorávamos 1 hora para achar alguma roupa e mais 1 hora na fila para pagar. As coisas estavam mais difíceis do que fila para montanha russa no Wonderland. Depois de andar 5 horas naquele mafuá saímos, eu, prometendo que aquele evento entraria em minha lista de programas de índio e a Nanade prometendo que dia seguinte estaria na mesa zona. Espero que ela arrume um grupo de malucas para acompanhá-la, pois eu, tô fora!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Compra do Carro. Novo ou usado? Japonês ou americano? 4X4 ou FWD? Leasing ou financiamento?

Continuando nossa aventura da compra do carro. Já havíamos decidido que iríamos adquirir o bem. Agora começamos nossa procura efetiva pelas melhores opções. Durante nossas pesquisas começamos a nos familiarizar com as questões financeiras. O que nos chamou mais atenção foi a questão das taxas de juros. Existem diversas empresas que cobram 0% de juros. Porém, isso é uma realidade apenas para carros novos (0 Km). Carros usados normalmente tem juros muito maiores, cerca de 9%, e a quantidade de parcelas muito menor, máximo 24 meses. Essas variáveis foram decisivas para escolhermos comprar um carro novo. Nós não queríamos desembolsar valores altos e não vemos vantagem em pagar o mesmo preço mensal por um carro usado (logicamente por um menor espaço de tempo).

Esta decisão talvez tenha sido a mais complicada, pois a mudamos várias vezes. Saíamos de casa dispostos a achar um carro zero, mas quando chegávamos nas lojas nos deparávamos com situações que nos balançavam. Alguns exemplos: PT Cruizer 2007 - $11K, Chrysler C300 2005 - $14K, Mercedes M-Class 2004 – 17K, Toyota RAV4 2005 - $17K. A procura é fácil e consegue-se achar carros em boas condições e por preços abaixo de 10K. Boas fontes de consulta são a Carpage (http://www.carpages.ca/) e Autotrader (http://www.autotrader.ca/). Conhecemos várias pessoas com carros usados e percebemos que há uma grande diferença em relação à confiabilidade dos carros com quilometragens elevadas. No Brasil, comprar um carro com mais de 100.000 Km é uma roubada. Aqui tem gente que compra carros com quase 200.000 Km e o carro não apresenta problemas graves durante toda sua “segunda” vida. Não sabemos se são as condições das ruas, o controle de qualidade nas fábricas e exigido pelo mercado ou um conjunto desses fatores. O fato é que os carros são confiáveis mesmo depois de bastante usados.
Resolvemos focar na procura de carros zero e isso incluía pesquisas na internet e “entrevistas” com donos de marcas que gostaríamos de adquirir. O conceito geral obtido como resultado é que os carros japoneses são mais duráveis e mais baratos de manter. Já os carros americanos são mais ligados com a questão do conforto. Os alemães, caros. Os coreanos, segunda linha. Porém, antes que comecem a pensar que isto é uma imposição de valores, gostaria de colocar que é apenas um resumão do que pesquisamos.

Algumas verdades:
  • Em termos de carro zero, comprar uma mercedes ou BMW, só num segundo passo. Os preços são acima da média. Revistas especializadas mostram que o custo benefício destes carros não é dos melhores. (To the hell with it, I want a M Class!!!);
  • Os carros japoneses têm uma durabilidade impressionante. Você vê carro da honda de 1532 no meio da rua. O carro tá todo comido pela ferrugem, mas continua andando;
  • A Tucson, o melhor importado no Brasil no momento, é pouco vendida por ser considerada de segunda linha. Quem pode, compra uma RAV4 (Toyota) ou CRV (Honda);

Algumas “lendas”

  • Ao contrário do que falam, os carros japoneses já estão bem melhores em relação aos opcionais de luxo/conforto. Ligar carro à distância, aquecimento de bancos, etc. Maior exemplo é a Infiniti (http://www.infiniti.com/) que é uma divisão da Nissan. O modelo FX é algo de cair o queixo. Talvez até troque o meu futuro M Class por um FX;
  • Em algumas situações a manutenção dos carros americanos fica mais barata, pois a disponibilidade de peças de reposição é mais fácil. Isso deve se agravar com o fechamento de fábricas de automóveis por estes lados;
  • A Hyundai produz carros com bastante qualidade e bem competitivos, como é o caso do Santa fé. Nós não tivemos oportunidade de conversar com donos destes carros, então não podemos passar mais detalhes.

Depois de olhar bastante e andar muito, resolvemos ficar com o Pontiac Vibe 2009 (http://www.gm.ca/gm/english/vehicles/pontiac/vibe/overview). Em nossa opinião o carro é bonito, tem os acessórios que estávamos procurando e o preço estava excelente. Este carro é fabricado pela Toyota com a base do Corolla e depois vai para a Pontiac para fazer a “perfumaria”. Encontramos então o modelo ideal, pois junta a confiabilidade do japonês com o conforto americano.

Existe modelo mais bonita(o)?

Finalmente, nossa luta acabou, certo? Mais uma vez..... errado.

Dentre os modelos disponíveis poderíamos escolher tração dianteira (FWD) ou 4x4 (AWD). Muitos falam da vantagem do AWD em relação à direção em condições climáticas ruins (muita neve), porém lemos em várias revistas que a diferença não deve ser considerada como o ponto principal de uma decisão. Se você não sabe dirigir na neve, que é o meu caso, então não será a tração em mais duas rodas que vai mudar algo. Pausa para comentário em relação à direção na neve.

Todos falam muito sobre esta experiência e como devemos tomar cuidado quando dirigir na neve, que o carro fica solto, que é preciso ser muito atencioso, etc. Eu, na minha cabeça simplista e confiante, pensei: ah! Para com isso, eu morei em Brasília. Todo mundo sabe como são as ruas durante a primeira chuva de setembro após 4 meses de seca. Ninguém consegue se segurar (sabão, sabão, sabão, chuveu, virou sabão) e eu nunca tive problema. Vou tirar de letra! Semana retrasada dirigi pela primeira vez enquanto nevava.
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... isso foi um minuto de silêncio pelo falecimento da minha confiança no volante. Eu só não me borrei porque não passava nem pensamento! Se você acelera um pouquinho a mais o carro patina, se pisa no freio um pouco mais agressivo o ABS começa a gritar igual criança com fome. Eu estava com uma pena incrível de ter gasto 500 dolares para colocar winter tires no carro. Depois dessa experiência eu vi que valeu cada centavo. Eu dirijo pelo menos 60 Km por dia e este acessório é de grande valia para o meu “commute”. Para quem gosta de jogar video game a sensação é a mesma de pegar uma ferrari F50 com câmbio manual e sem qualquer controle de tração. Conseguiram imaginar? Resumindo, eu não sabia se estava acelerando um carro ou fazendo uma obturação com broca. A experiência foi suficiente para entender que ainda tenho muito o que aprender sobre esta “atividade”.

Voltando à questão da tração. Se a diferença na neve não é tão grande, se não vamos usar o carro off-road e, além disso, a diferença de preço é significativa, então optamos pelo FWD.
Pagamento da dolorosa. Este é um ponto de muita discussão. Afinal, devemos fazer um financiamento ou leasing? Serei direto e mais uma vez simplista em meus argumentos. Ainda não conseguimos entender a vantagem do leasing! O nosso entendimento é o seguinte:

  • Paga-se mais barato que um financiamento;

  • É um aluguel de carro. Assim, toda a manutenção deve ser feita obrigatoriamente na concessionária. Eu disse TODA;

  • Caso você cause algum dano ao carro você pagar por isso, não somente o conserto, uma vez que o carro não é seu;

  • Há limite de kilometragem por ano. Normalmente 24000 km. Você pode mudar este valor, mas incide diretamente no preço do carro;

  • Você não consegue se livrar do carro antes do período de contrato. Assim, nascem os sites para socorrer os desesperados. (http://www.leasebusters.com/). O próprio nome já assusta, se alguma coisa precisa ser “busted” significa que não é boa. Leasebusters, Ghostbusters, MythBusters, BlockBusters (humm, acho que esta é a excessão).
    Ao final do leasing você tem o direito de compra do carro, mas terá que desembolsar cerca de 50% do valor do carro... usado;

  • Sei que esta é uma visão de quem optou pelo financiamento, logo totalmente tendenciosa. Já conversei com gurus de leasing que me mostraram algumas vantagens, mas sou muito brasileiro para conseguir entender. As pessoas aqui colocam o leasing como um gasto fixo mensal assim como o aluguel de casa, luz, telefone, etc. O grande argumento que todos os vendedores falam é “se você gosta de trocar de carro a cada 2 ou 3 anos, então leasing é a melhor opção”. Um dia chego lá!

É isso pessoal, desculpem-nos pela demora no complemento deste assunto. Como sabem este post gerou sequelas quase irreparáveis. Espero que seja proveitoso a todos.

Ah! Uma última informação interessante. Existe mais uma variável que nos deixa livre para escolher o carro que “nos der na telha”: o valor do seguro. Aqui o montante a ser pago está mais relacionado com a questão da cobertura à terceiros ($1M) do que com o valor do carro. Assim, a discrepância entre o carro “popular” para o mais luxuoso não será tão grande e não afetará a sua decisão. Afinal de contas no final iremos pagar um seguro caríssimo de qualquer forma.

domingo, 2 de novembro de 2008

Ah, se eu soubesse...

Você sabia...

... que a partir de hoje a diferenca de horário entre Toronto e Brasília é de 3 horas? A diferença normal entre as cidade é de 2 horas. Brasília GMT -3, Toronto GMT -5. Porém, na maioria do ano ou estamos com a diferença de 1 ou 3 horas. Por que? Horário de verão! Duas semanas atrás o Brasil entrou no horáio de verão. Hoje o Canadá saiu do horário de verão. Em março ocorrerá o oposto e voltaremos a ter uma hora de diferença.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Ah, se eu soubesse... (1)

Esse livro tem uma abordagem interessante. Eles juntaram 150 pessoas bem sucedidas e perguntaram o que elas gostariam de ter sabido 25 anos antes de obterem sucesso. Em outras palavras o que as ajudariam a obter esse sucesso mais rapidamente ou com menos esforço. Seguindo nesta linha gostariamos de inserir aqui um conjunto de curiosidades que só descobrimos depois de nossa chegada, mas que seria muito interessante que as tivéssemos anteriormente.

Vejam, não será nenhum segredo que mudará a vida de ninguém, muito pelo contrário, a idéia é colocar pequenos detalhes que nos fazem perder dias, horas, minutos ou segundos preciosos em nossa adaptação. Lógico que também haverá informação puramente inútil, afinal estamos aqui para nos divertir. Importante, as informações são baseadas na realidade de Toronto e pode ser que não valham para outras províncias.

Resolvemos colocar este post antes de acabar o restante do post do carro, acho que ele não teve muito sucesso com o público, só tivemos 2 comentários. Aquela empreitada está fadada ao insucesso. Ah, se eu soubesse…

Você sabia...

… que não importa a cidade que colocou no formulário? A imigração ignora veementemente esta informação!

… que ter o endereço completo, incluindo o Zip Code, de onde irão mandar seu Permanent Resident Card é uma mão na roda? Caso contrário você terá que enviar fax com as informações e isso pode atrasar o seu recebimento. (Esse caso foi bem particular, mas demoramos 3 meses para receber o PR card por conta disso. Anyway, a dica é válida)

… que os táxis do aeroporto não cobram pelo taxímetro, eles têm uma tabela com as regiões da cidade cujos preços são pre-fixados? Não pensem que estão sendo enganados logo na chegada ao país.

… que as highways principais estão sempre congestionadas em Toronto? Nada comparada à São Paulo, mas no inverno a neve toma conta de 1/3 do espaço, no verão, as obras.

… que as fechaduras são colocadas “de cabeça para baixo”? Assim, ao invés de fechar, abrimos e vice-versa. Ou não? Ou no Brasil é que é de cabeça para baixo?

… que o fluxo da descarga gira no sentido anti-horário? Informação inútil que tinha visto nos Simpsons e tive que fazer a prova.

… que você paga uma passagem de TTC (metrô, onibus, street car) e caso precise pegar outra condução em direção perpendicular você poderá pegar um ticket chamado transfer para continuar sua viagem? A explicação é um pouco mais complicada e mais proveitosa depois que as pessoas passam pela experiência. Mas saibam que é possível pegar mais de uma condução pelo preço de uma passagem.

… que as moedas funcionam muito bem e assim os canadenses não estão acostumados com a idéia de “facilitar o troco”? Ou seja, se tiver que pagar $12.50 e você der $22.50 normalmente eles te devolvem as suas moedas e mais $7.50 em moedas. A estratégia é você já falar o que quer. Please, could I have a ten dollar bill back?

… que por conta disso caso não tenha um porta moeda descente você anda no meio da rua parecendo uma dançarina do ventre? Triiiimmm, triiiiimmm, triiiimmm.

… que você pode fazer um U-turn (parar do lado direito da rua e fazer o famoso gato para voltar em direção oposta) em qualquer lugar desde que não seja explicitamente proibido?

… que você pode dobrar à direita nos sinais fechados, desde que pare, veja que não há carros vindo e que não seja explicitamente proibido?

… que você pode parar no meio de um cruzamento dobrar a esquerda, desde que não seja explicitamente proibido?

… que pedestre tem precedência sobre qualquer veículo? Isso é uma coisa que os brasileiros terão que mudar completamente. Nossa idéia quando estamos dirigindo e vemos um pedestre na calçada é “ele vai esperar eu passar”. O canadense é exatamente o oposto, pedestre vê o carro e pensa “ele vai esperar eu passar” e atravessa sem nem olhar se você parou ou não. CUIDADO!

… que os sinais de trânsito para pedestres sempre têm um contador regressivo e você consegue usar esta informação para saber quando o sinal ficará amarelo para os carros? Ou seja, quando o contador do pedestre chega a zero, o sinal para os carros fica amarelo. Assim, você consegue saber de longe se vai conseguir passer naquele sinal ou não. (Sinal, semáforo ou qualquer outro nome que queira interpretar)

… que o canadense é muito liberal com a questão da maconha, mas nem tanto com bebida alcóolica? A maconha é considerada uma “fase” que os jovens sempre passam. Ao contrário, eles se preocupam muito com a questão de menos bebendo. Não me perguntem o por quê.

... que durante o inverno é aconselhável mudar seus pneus para winter tires que têm uma composição diferente e assim não endurecem, mantendo o "grip"? A partir de 7 graus positivos, os pneus de inverno já começam a aparecer nas ruas. Eu disse recomendável, não obrigatório. Ouvimos dizer que em Quebec passou a ser obrigatório e isso é uma indicação do que está vindo por aí.

... que a temperatura para começar a usar luvas e tocas é aproximadamente 5 graus positivos? Essa era uma dúvida que eu sempre tive. Ficava com receio de sair todo encapuzado numa temperatura que não estava de acordo com as vestimentas. Claro, tudo depende da sua capacidade de aguentar frio, mas é consenso que abaixo de 5 graus...

Essa é apenas uma idéia inicial A medida que formos lembrando de algo, inseriremos aqui.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Finalmente chegou!

A volta dos posts chegou!

Finalmente depois de tanto tempo sem escrever devido um trauma profundo gerado por um erro idiota, resolvemos voltar a escrever neste espaço. Esta hibernação as avessas foi muito boa para relermos nossos textos e perceber que fizemos várias promessas que não foram cumpridas. Por isso começamos o post afirmando veementemente que iremos... parar de fazer promessas, ou tentar, e que devem acreditar em nós quando dissermos: nunca acreditem em nossas promessas, mesmo que pareçam muito honestas.

Apesar de estarmos longe da nossa atividade literária, nossas vidas continuam na correria. A palavra central desta fase é, mais do que nunca, aprendizado. Temos muito a contar e bastante “papel” disponível para isso. Veremos a velocidade que isso sairá da cabeça.

Voltando ao ponto em que paramos. A compra do carro.

Como sabem, fizemos um super post para falar sobre o assunto e o blogspot fez o favor de salvar uma alteração indevida que simplesmente jogou tudo pelo ralo. Assim, procuraremos reproduzir o que ainda lembramos e esperamos que a leitura seja tão proveitosa quanto a primeira que não tiveram a oportunidade de colocar os olhos.

O objetivo deste post é auxiliar as pessoas na procura por um meio de transporte nas terras do norte. As decisões neste processo são várias: Comprar ou não? Novo ou usado? 4X4 ou FWD? Leasing ou financiamento? Japonês ou americano? Esportivo ou Família? E por aí vai. Nós não iremos dissertar sobre vantagens e desvantagens de cada uma dessas variáveis. Na verdade apresentaremos quais foram os pensamentos e interpretações que nos levaram a uma decisão final. Não queremos causar polêmicas, assim cada um poderá aproveitar as informações da forma que quiser. Adiantando, a brincadeira não é tão simples quanto parece.

A primeira decisão é sobre tirar carteira de motorista ou não. Acredito que esta seja a mais simples de todas. Então, começando pelo mais fácil, a sugestão é: tirem mesmo que não tenham planos para comprar carro em curto ou médio prazo. Num post passado comentamos que existem 3 bases necessárias para termos um início que nos tranqüilize (casa, carro e trabalho). Umas das razões principais para tirar a carteira é que após um ano de carteira com licença full (G) o seguro começa a ficar mais barato. Isso é uma realidade em Toronto, não sei se as outras províncias seguem a mesma abordagem. Qualquer abatimento neste custo é um prêmio, pois os valores para recém chegados são, na nossa opinião, absurdos. A média do que estamos vendo por aí é de 300 dólares/mês, isso mesmo!

Depois disso vem a pergunta crucial sobre se realmente o carro é necessário. Afinal, o sistema de transporte público é muito eficiente e oferece um serviço competente dentro de GTA. Para aqueles que moram longe do TTC, trabalham fora do centro e/ou gostam de passear no final de semana, a escolha de ficar sem carro passa a não ser tão atrativa. Nós temos amigos em Mississauga, Brampton, Tornhill, Markham e Whitby e chegar nesses locais utilizando serviço público num tempo satisfatório é impossível. Além disso, trabalho do lado oposto da cidade e perder 2 horas e 40 min no metrô por dia não fazia parte dos nossos planos. Assim, nossa escolha foi comprar um carro.

Existem opções interessantes para aqueles que conseguem chegar facilmente ao trabalho e precisam do carro apenas esporadicamente. Empresas como autoshare (www.autoshare.com) e Zipcar (www.zipcar.com) oferecem serviços de aluguel de carros por períodos menores do que 1 dia. Assim, atividades como buscar alguém no aeroporto, fazer compras maiores (ninguém merece carregar sacolas no metrô ou ônibus) ou ir ao International Kenter (em Sueco escreve com K) of Entertainment Abroad, vulgo IKEA, ficam mais simples de serem realizadas. Aliás, acredito que o IKEA seja a maior concentração de carros alugados em Toronto, cerca de 90% dos carros têm adesivos de uma dessas duas empresas ou de uma terceira, que não sei o nome devido a quantidade de propaganda contida nos carros. Assim, se você não se sente constrangido em andar num carro alegórico, então fique à vontade para alugá-lo no valor de 1 dólar/h. Bom, foi isso que ouvi por aí, não sei se é verdade.

Parêntesis para aqueles que procuram diversão barata no Canadá. Esta dica vale ouro e custa menos do que ir ao cinema. Caso esteja entediado e com pouca grana dirija-se ao estacionamento do IKEA para acompanhar o árduo trabalho dos pobres clientes tentando levar suas “pequenas” compras para seus meios de transporte. Aparentemente os suecos tem um grande senso de humor e fizeram o favor de oferecer um carrinho de compras que é mais estreito do que um braço de sofá, mais curto que uma caixa de cômoda, sacolas colocadas estrategicamente num local onde praticamente devemos fazer embaixadinhas para nos movimentarmos e, para finalizar esta obra prima, as quatro rodas são soltas. Eu carinhosamente os chamo de “drunk cart”. Vocês acham que é só isso? Todas as ruas do estacionamento têm uma angulação suficiente para que sua força não seja capaz de suportar o carrinho sem parecer bêbado e a loja tem todo o atrativo para que o passeio seja realizado com a presença da família inteira. Acreditem, as crianças nessas horas não são os ajudantes dos sonhos, muito pelo contrário, porém elas inserem um atrativo a mais para aqueles que buscam diversão. Tem um brasileiro que é especialista nesta atividade. Assim, se quiserem umas aulas particulares basta contatá-lo. Aqui segue um vídeo de seu treinamento especial. http://www.youtube.com/watch?v=0shjsIbJfo8. Merece assistir até o final.

Voltando ao assunto de carros alugados. As empresas citadas acima têm comparações em seus sites em relação às vantagens entre a compra de carros e o sistema de serviços que oferecem. Cabe a cada um avaliar as condições e verificar se atendem às suas necessidades. Estas fontes devem ser obrigatórias para quem está neste processo de decisão.

Depois da decisão de comprar tudo se torna mais tranquilo, certo? Errado! Os preços dos carros são irrisórios em relação ao que costumamos pagar no Brasil e a possibilidade de poder escolher carros que seriam mais difíceis de adquirirmos nos deixa com a cabeça em parafuso. Ficamos duas semanas igual crianças em loja de brinquedo, todo carro que passava anotávamos o nome para avaliar preços e condições. Nossa lista de prioridades mudou umas 237 vezes em duas semanas. Para terem uma idéia de preços, fazendo uma comparação 1-para-1 entre dólar e real, afinal recebemos em dólar, o preço de um Civic Completíssimo é mais barato do que um Celtinha pé duro (R$27.000.00). Isso chega a ser vergonhoso.

Por isso fizemos uma pequena lista de carros para que sua busca seja facilitada.
  • Se você é feio: compre o Aztec, da Pontiac, ou o Prius, da Toyota. Tudo é uma questão de comparação, perto daqueles carros, até o corcunda de Notre Dame é gato. O contraponto para esta abordagem é ser incluído no pacote e ganhar um prêmio pelo conjunto da obra. Porém, se isso ocorrer eu ficarei surpreso por ter sobrevivido até hoje sem tomar uma surra no meio da rua ao ser confundido com alguma assombração, leprechau ou coisa parecida. Eu diria que para estar neste nível você deve parecer com um cruzamento de Chinese Crested com Amy Winehouse em convulsão.
  • Se você é gordo: compre um Smart. Afinal, não é você que é gordo, o carro que é pequeno. Tome cuidado apenas para a discrepância entre sua pança e o tamanho do carro. Você não vai querer parecer um muffin com muito fermento sendo desenformado, certo?
  • Se você é garotão solteiro: compre um Mini. Muitos dizem que é carro de mulher, mas a reação que este carro causa sobre pessoas do sexo feminino é igual àquela causada por filhotinhos de Labrador. “Ahhhhhhhhhhhhh, olha que gracinha, que bonitinho!”. Pronto, taí o seu espaço para começar uma papo furado. Por favor, nunca mencionem bebida alcoólica em suas cantadas, como já demonstrei anteriormente, isso não funciona. A vantagem desta abordagem é que você não precisa catar cocô no meio da rua e a alimentação destes “bichinhos” é muito barata aqui no Canadá. Atualmente, menos de 1 dólar por litro.
  • Se você é hipocondríaco: compre um HHR, da Chevrolet. A cor branca é a preferida desta categoria, pois as pessoas já ficam com o sentimento que estão dentro de uma ambulância. Se a situação for muito crítica, compre o preto, pois já estará passeando livremente no seu rabecão.

Não chegamos nem na metade do trabalho e o post já está gigante. Continuamos em breve. Eu prometo...

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Ele está chegando...

Depois de um longo e tenebroso outono, ele está chegando...

Alguns aguardam com ansiedade, outros com desprezo, muitos com saudade...

Ele está chegando...

domingo, 14 de setembro de 2008

Compra do carro

ESTAVA COM UM POST PRONTO E ESSE BLOGSPOT ME SACANEOU. PERDI TUDO NOVAMENTE.

Compra de carro:
Muitas variáveis
Carteira de motorista
Compramos
Haagen Dazs

Eeeeeee

Sem mais. Espero que este site exploda!

domingo, 7 de setembro de 2008

Sistema de Saúde no Canadá. A maior decepção até o momento.

***DISCLAIMER*** POST LONGO!

Estou tentando colocar os assuntos em dia, as coisas vão acontecendo, mas o tempo para escrever está curto. Afinal, temos que aproveitar o verão enquanto ele está por aí. O tempo começa a ficar mais frio, os dias mais curtos e as folhas começam a se avermelhar. Acredito que estamos começando a entrar no nosso tão esperado desafio, a prova de fogo, ou de gelo, o maior período de provação, o tão temido inverno canadense.

Durante um papo com amigos fizemos um ranking das coisas que mais nos desagradavam no Canadá. Primeira coisa a dizer é que é bom poder estar neste momento de crítica, pois demonstra que estamos realmente com os pés no chão e capazes de medir os prós e contras de nossas novas vidas. Segunda coisa é que houve uma surpresa no ítem escolhido como primeiro no ranking. Ao invés do frio, a comida. O canadense come muito mal, não há uma culinária que possa ser considerada local. Aliás, se fosse necessário eleger qual é o tipo de cozinha canadense com certeza o resultado seria algo misturado entre curry e “flied lice”. Desculpas a quem gosta, mas acho as cozinhas indiana e chinesa um lixo! Enquanto a cozinha indiana se preocupa mais com o cheiro do que com o gosto. Mas o cheiro apenas externo, pois quando a parada passa por uma digestão, não quem quem ande de taxi. A chinesa não se preocupa com nada, joguem tudo numa panela quente com arroz ou macarrão e pronto. Claro que há as exceções, mas no geral...

Vou colocar uma passagem rápida que nem merecia comentário. Fui a um restaurante mongol, que nada mais é do que a comida chinesa feita na sua frente. O convite foi feito por um amigo do trabalho e ele realmente estava muito empolgado com a idéia, então como negar? Chegando ao local entramos na fila dos ingredientes onde a primeira coisa a se escolher são as carnes. Ele me recomendou misturar “lamb” com “beef”, pois daria um gosto especial ao prato. Assim, o fiz! Diga-se de passagem eu estava tão perdido que ele podia falar qualquer mistura ninja que eu seguiria seus conselhos. Tudo era novo, me senti como um gringo numa casa de feijoada onde todos os ingredientes são duvidosos, mas no fim o resultado é muito bom... para alguns. Coloquei as carnes da forma que ele sugeriu, espinafre, cebola, macarrão, um molho que parecia ser de tomate, vinho para cozinhar, alho poró, alho picado e manjericão. Quase uma pizza mongol! Lembrei da minha infância quando via meu avô fazendo lavagem para porco em sua fazenda. Só faltou casca de melancia e aipim para a minha “ruma” de comida. Eu ainda não tinha visto nada, a escolha dos ingredientes era a parte mais agradável do almoço. O duro seria comer aquela gororoba depois da mistura.

Chegamos ao início da fila, aquela chapa enorme com 3 “cozinheiros” que jogavam os ingredientes e adicionavam água para dissolver aquela porcaria toda. O segredo da cozinha mongol é que logo após retirar a comida de um cliente, o outro já usufrui da rebarba, sendo presenteado com não somente os ingredientes que escolheu, mas também com os restos queimados do companheiro de sofrimento que passou por ali imediatamente 0.3 segundos antes. Logo, toda comida tem o mesmo gosto. Se fosse no Brasil o processo receberia um selo de qualidade ISO 9000 para atestar esta eficiência. Ao ver a imagem da chapa pensei em desistir, mas seria uma desfeita muito grande. Quando havia apenas 2 pessoas à minha frente os “chefs” resolveram limpar a chapa. Vieram então as vontades de desistir número 2, 3 e 4. Uma espátula fedida raspava um crosta preta de gordura nojenta e restos de vegetais que eram jogados ao lado como se fosse um local muito bem protegido, higiênico e longe dos olhos de quem iria degustar a comida. Porém, realmente acho que isto não os incomoda. Eu comecei a olhar para os clientes para ver se tinha algum ficando verde ou pálido, essa seria a minha deixa para desistir. Infelizmente o estômago do pessoal daqui já está acostumado com maus tratos.

Comida misturada, agora era o maior desafio. O cheiro e a visão me levavam a crer que eu tinha pedido comida diretamente do lixo de um restaurante italiano. Eu ficava pensando quão absurdo seria esta situação, mas até me diverti imaginando isso. Ao saborear a comida, tive uma grande surpresa, pois comecei a achar a idéia anterior realmente uma opção válida. Depois de queimar a língua, literalmente falando, consegui ter acesso ao gosto daquele... troço. A pessoa que me convidou estava me olhando fixamente para ver minha reação à primeira “garfada”. Não sei se ele queria rir, atestando que aquilo tudo era uma pegadinha, ou se realmente estava esperando que eu passasse por debaixo da mesa, no melhor estilo Ana Maria Braga. Prontamente veio a pergunta “So, how do you like it?”. A vontade que tive foi responder “I like it out of my freaking mouth!”. O gosto era de estrume, ou algo bem parecido com isso, mas ainda não havia conseguido identificar se era de “lamb” ou “beef”. Depois da segunda “garfada” o suor começou a descer. A comida estava apimentada mesmo eu não tendo inserido qualquer ingrediente com esta característica. Espero que não me entendam mal, mas, vestido, eu não gosto de nenhuma comida que me faça suar para completar os trabalhos. Se já estava causando problemas na hora de entrar, imaginem na saída. Nestes momentos que algumas peças do quebra cabeça começam a se juntar (Metrô, OVNAs, Mongóis, quem??!!). O meu amigo continuou na sua busca por informações. “E aí? Gostou do carneiro?”. Sei lá! Se carneiro tiver gosto de cabo de guarda-chuva, então estou o saboreando em toda a sua magnitude. Me esforcei ao máximo para conseguir comer pelo menos metade do bowl e me livrar o mais rápido possível daquela obrigação e partir direto para a sobremesa. Veio o convite para a segunda rodada, mas dispensei sem vergonha alguma. Peguei uns brigadeiros e passei o resto do almoço comendo-os na velocidade de uma formiga. No final saí sem saber quem era o mongol da aventura.

Vamos ao que interessa, dei uma volta enorme para chegar onde queria. Acho que só existe uma coisa pior que comida aqui no Canadá. Assim, o primeiro lugar no ranking, na minha opinião, vai para o sistema de saúde. Este assunto realmente nos causou uma grande decepção, não esperávamos que o nível de atendimento fosse tão baixo.

Quando chegamos no Canadá tivemos um problema com o seguro saúde que contratamos no Brasil. Precisamos de um médico especialistas e eles não conseguiram achar para nós. Colocamos um post aqui falando sobre isso, mas realmente acredito que o problema não é 100% do seguro. Aliás, eu diria uns 10% apenas. A situação da saúde realmente não é boa e isso é uma unanimidade. Os próprios canadenses reconhecem esta deficiência, portanto venham preparados. Uma coisa que conversei bastante com a Nanade é que estávamos acostumados com um nível de serviço que realmente estava acima da média. Os planos de saúde que tínhamos, assim como a maioria bem estabelecida no Brasil, nos permitia ir a hospitais para tratar qualquer ocasião, independente da gravidade. Antes de vir para cá morávamos em São Paulo, então qualquer probleminha íamos ao Albert Einstein e sempre tínhamos médicos especialistas à nossa espera. Esse é um luxo que não temos aqui. O sistema de saúde é público. Não há comparação entre os sistemas públicos do Brasil e do Canadá, mas também não podemos comparar público com privado. Então, respirem fundo e bola pra frente.

As coisas funcionam da seguinte forma:
  1. Devemos ter um médico de família. Ele é um clínico geral e sua primeira fonte de consulta para qualquer problema. Não há como ir diretamente para um especialista, você só consegue depois de uma indicação do MF (não confundam, é Médico de Família, e não Motherf...!).
  2. Caso não tenhamos um MF ou ele não esteja disponível no momento que precise, então você pode ir para uma walking clínic. Existem algumas WC (não confundam, é Walking clinic, e não latrina!) que normalmente funcionam no formato de ordem de chegada.
  3. Caso tenhamos uma urgência, devemos ir diretamente para os hospitais. Já pegamos uma dica com amigos que moram a mais tempo no Canadá que se realmente precisar ir para um hospital, ligue para 911 e uma ambulância virá te buscar, caso contrário a espera é longa.

Todos contextualizados, vamos à nossa aventura: achar um MF. O primeiro passo é procurar um médico que esteja aceitando novos pacientes para ser médico de família. Pelo que ouvimos 30% das pessoas no Canadá, inclusive canadenses, estão desassistidos neste aspecto. Então já viram como seria nossa busca! Para iniciarmos entramos numa página na Internet que indica todas as informações sobre médicos, localidades, especializações e, o mais importante, se estão aceitando novos pacientes. (http://www.cpso.on.ca/Doctor_Search/dr_srch_hm.htm). Pegamos uma lista de médicos com as características que queríamos e começamos a ligar. Sem exagero, ligamos para mais de 20 médicos, todos disseram que já não estavam mais aceitando novos pacientes e que a página estava desatualizada. BTW, a página é atualizada, segundo informações dos médicos, uma vez por ano. SO, YOU ARE RUINING THE PURPOSE OF IT, YOU MF! Mandei uma mensagem para amigos pedindo dicas para achar um médico de família e a melhor resposta que obtive foi ter calma, perseverança e paciência. Caramba, essas palavras nunca param de aparecer neste processo.

Partimos então para a segunda opção, fomos para uma WC. Nós estávamos procurando uma indicação para uma oftalmologista e tentamos ir na WC 4 vezes, as 3 primeiras ou o médico tinha saído mais cedo, ou estava doente. Na verdade a WC perto de casa estava com falta de médicos e os que estavam por lá estavam sobrecarregados, que novidade! Finalmente quando conseguimos conciliar nossa agenda com a da WC tivemos uma excelente surpresa ao ver um aviso que o médico estava aceitando novos pacientes. Nos empolgamos! Falamos de nossa situação para a recepcionista e a reação dela foi a seguinte. “Look, If I were you I would come tomorrow to see Dr Whatever”. ?????!!!!!!. Nós só queremos uma indicação para um oftalmologista, isso não deve ser tão difícil. Até eu, que não entendo “lhufas”, consigo fazer isso. Pegue um papel, escreva “go to the doctor” and that's it! Ela reforçou o aviso e nos colocou na fila. Enquanto ainda estávamos em pé preenchendo a nossa ficha, uma recepcionista virou para a outra e disse num tom de voz audível para quem estava do outro lado do balcão de atendimento. “Look, she is in love. How cute is that?”. “Shut up!!” disse a outra recepcionista. “Ooooooo, that's sweet, she is in love!”. Não pudemos nos conter e olhamos para trás para entender o que elas estavam falando. Pensamos que fosse uma menininha que estava se tratando na parte de fisioterapia ou algo do tipo. Ao nos virarmos vimos uma senhora com os cabelos da Iaiá Boneca, maquiagem da Elke Maravilha, roupa de mendigo, meia da Emília, o braço todo seco depois daquela coçada (parecia perna de pavão) e um Croc amarelo. Para terem uma noção exata da imagem, pensem na Cuca do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Acho que o Monteiro Lobato já foi residente permanente no Canadá e tirou muita inspiração daqui. As recepcionista continuaram comentando sobre o amor da véia por alguém do outro lado da rua. Era impressionante, pois a mulher tinha aquele ar de apaixonada e nem ouvia o que as mulheres falavam. Se nós conseguíamos ouvir, ela também conseguia, mas o amor era maior do que tudo e ela estava surda. Quando voltamos nossa atenção para a recepcionista, ela disse. “She is the doctor who is going to see you”. Eu acho que fizemos uma cara muito esquisita, pois a recepcionista só nos respondeu com aquela boca torta dizendo silenciosamente “...told ya!”.

Estamos na chuva, no WC, nos molhar não é uma opção boa nesta situação, mas quão complicado seria passar uma folha de papel/fax/qualquer coisa para nos indicar a um oftalmologista. Resolvemos correr o risco e ver se a doida era apenas esquisita ou se tinha problemas sérios. Afinal ela era uma médica, em nossos conceitos ela faz parte de um grupo seleto de pessoas privilegiadas em relação ao seu intelecto e que necessitam de muito foco para chegar em suas posições. Lá fomos nós! Para encurtar uma história longa, falamos nosso problema, ela começou a chorar as pitangas que o Canadá não tratava bem os médicos e se quisesse ganhar dinheiro os médicos devem ir para os USA, etc , etc, etc. Ok, freak! Could you refer us to an eye doctor? “Sure! I will do it and get back in a second. You can wait outside”. Ok! Chegamos lá fora e depois de 10 minutos a recepcionista nos perguntou. “So, Did you get your referral?”. Claro, claro! A doutora Lesinha foi fazer a papelada. “I hope she remembers that! Ehehe”. Que?! “...told ya!”. Caramba! Mais 10 minutos e vem a descompensada com um papel na mão e um nome escrito. Que isso? Amigo secreto? “Call Dr XXX and say I've referred you”. Ok! You Who? “Oh my name is Dr Cuca (sei lá o nome da doida)”. Peguei o pedaço de papel e tinha somente o nome do médico. Ué! Onde consigo o telefone? Não tem nenhum formulário padrão? Nada! “No, if they request that, than we send, but don't worry, he knows me!”. Ai, ai, ai. Vamos lá! Terra nova, nova forma de tratar as coisas. Vai que o doido da história sou eu e eu não sei??!!.

Dia seguinte pegamos o telefone do médico no site que colocamos acima e ligamos. Não precisamos dizer que a primeira coisa que a recepcionista disse foi que precisávamos do pedido formal, que sem isso eles não atenderiam. Lá fomos nós de novo para a WC, isso tava pior que dor de barriga. Desta vez fizemos uma reclamação formal e conversamos com o médico principal. O cara bem mais centrado, mas com as mesmas roupas maltrapilhas e uma voz que tenho certeza que ele estava bêbado. Fomos muito bem atendidos e conseguimos o que estávamos procurando. Ele disse que estava aceitando novos pacientes e diante das opções que tínhamos preferimos ficar com o ébrio. Afinal, com ele podemos ter a sorte de pegá-lo num dia bom em que bebida ainda não subiu a cabeça. Já a doida...

Depois disso não precisamos mais de médicos. Ainda bem que somos pessoas com uma saúde muito boa. Apenas semana passada que a Nanade teve um início de intoxicação por causa dos produtos de limpeza que usamos para fazer uma desinfecção na nova casa, mas foi só eu dizer que se ela não melhorasse eu a levaria para ver a Cuca que ela melhorou rapidinho (além do apoio do Flávio, Márcia, Edward e Jack, logicamente!).

Ainda to devendo a aventura do carro e nossa mudança para a nova casa.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Visto Americano no Canadá. Não é lenda!

Aproveitarei o embalo te ter escrito um post para colocar outro assunto bem interessante que é quase uma lenda. Visto Americano requisitado a partir do Canadá.

Ano passado fiz algumas viagens para os USA a trabalho e numa delas resolvemos que a Nanade iria comigo. Afinal, uma oportunidade para conhecer San Francisco "metade" "de graça" não poderia ser jogada fora. Tivemos uma surpresa quando a Nanade recebeu um não do consulado em São Paulo. A razão foi que eles pediram o meu passaporte e a Nanade não tinha levado. Aliás, em momento algum eles dizem isso, então como adinvinhar a cabeça dessa galera? A experiência foi muito frustrante, mas resolvemos que só iríamos tirar o visto americano para a Nanade depois que tivéssemos o visto canadense nas mãos. Todos dizem que é muito mais fácil nesta situação.

Devido a diversos fatores pessoais, quando recebemos nossos vistos canadenses resolvemos antecipar nossa vinda para o Canadá. A idéia era passarmos 15 dias em Orlando, aproveitando um pouco a vida, pois eu estava há 7 anos sem férias, para depois chegarmos descansados na nossa batalha de novos imigrantes. O problema é que a fila para o visto americano só nos permitiria requisitá-lo faltando 10 dias para a nossa viagem e seria muito arriscado, uma vez que o consulado estava fazendo jogo duro com os brasileiro para devolução dos passaportes. Uma amiga nossa demorou quase um mês para receber seu passaporte de volta e disse que encontrou várias pessoas que perderam suas viagens por causa dessa gracinha.

Planos mudados, viagem direta para o Canadá e a minha promessa que a Nanade teria um visto até o final do ano nas mãos. Os USA aqui do lado, não tem como não ter este pedaço de papel. Buffalo, a Ciudad del Lest Canadense, NY à 2 horas de Vôo, San francisco, Las vegas a preços ridículos.... precisamos desta carta de liberdade. Quando fui ao consulado brasileiro pela primeira vez peguei um jornal brasileiro que havia um passo a passo de como conseguir o visto americano em Toronto. Recebemos uma ducha de água fria ao ler, pois a Consul americana dizia textualmente que as pessoas devem tirar o seu visto em seus paises de origem. Assim, fica muito mais fácil para eles avaliarem os seus antecendentes e laços com o país. Bom, fazer o que?

Começamos a planejar uma viagem da Nanade para o Brasil durante as suas férias para que ela pudesse visitar a família E tirar o visto no Brasil. Como sempre a fila estava kilométrica e ficou difícil qualquer movimento. Até que surgiu a oportunidade de visitar Orlando com meus pais e resolvemos procurar algo por aqui mesmo. Bom, vamos tentar, se não der certo vamos ao Brasil.

Primeiro desafio: arrumar uma data. Vocês acham que aqui é diferente? Nada disso! O Canadense não precisa de visto para ir aos USA, por isso achamos que a fila seria mais light. Ledo engano! Com a quantidade de imigrantes no país as filas também são grandes. O sistema para agendar a "entrevista" é online (https://www.nvars.com/) e as cidades disponíveis são Toronto, Ottawa, Vancouver, Quebec City, Montreal e Halifax, se não me engano. Em toronto existe a possibilidade de agendar com até 6 semanas de antecedência. Para a nossa surpresa não havia qualquer data disponível. Depois de tentar várias vezes recebemos uma excelente dica que seria melhor tentar também em outras cidades, pois Toronto é sempre muito concorrido. Também nada conseguimos! O que resolveu foi a Nanade ficar o dia inteiro, e não é exagero, no site tentando achar uma vaga. No segundo dia conseguimos uma vaga em Ottawa para 1 mês depois do dia que estávamos. Isso nos tranquilizou, mas queríamos algo mais próximo, tanto em tempo, quanto em distância. No segundo dia finalmente achamos a data e o local que queríamos. Toronto para "daqui a uma semana".

Segundo desafio: correr atrás dos documentos, pagamento de taxas, coleta de evidências que temos ligaçao com o país, fotos (aliás, 2 fotos de passaporte custou CAN$22.00, acreditem!), etc. Uma das coisas que deve ser levada é a carta de confirmação emitida no momento que fazemos o agendamento. Esta carta tem a lista das coisas que devem ser entregues e algumas regras para o dia, como por exemplo nenhuma máquina fotográfica, celular ou qualquer outro aparelho eletrônico pode adentrar ao recinto e ninguém além da pessoa que vai tirar o visto poderá estar no local, a não ser que a pessoa seja de menor. Ooops, isso nos levou ao desafio 3.

Terceiro desafio: Treinar a Nanade para a entrevista. Eu passava o dia fingindo que era o oficial de imigração e a Nanade a entrevistada. Perguntava por que queria ir, quanto tempo estava no país, por que havia tido seu visto negado e tantas outras coisas que achávamos que seriam cruciais para obtermos o visto. A Nanade estava muito nervosa com esta situação, mas acho que a vontade de ir para a Orlando e para "East City" era maior.

Quarto desafio: Encarar o dia D. A entrevista estava marcada para 9:30h e chegamos à frente do consulado às 9:15. Na calçada há uma barreira de cimento, como se fossem uns cones, e um segurança do consulado fica para dentro. Quando estávamos chegando até ele, uma pessoa o abordou antes de nós. Quando íamos ultrapassar a barreira recebemos um grito de desconsertar qualquer um. "Wait there!!!!". Caramba! Isso tudo é receio de falar com duas pessoas ao mesmo tempo? O guardinha não tinha muito tato e pediu para ver os documentos da Nanade. Havíamos combinado que eu tentaria entrar para auxiliá-la, mas se não desse certo, nosso treinamento seria suficiente. Depois de ver os documentos ele virou para mim e perguntou "Are you the interpreter?". Opa, nossa deixa! Sim! "You must provide a photo ID". Como somos errados, mas não tanto, resolvi dizer que era o marido, mas que funcionaria como intérprete. "You must provide it anyway". Mais grosso que papel de enrolar prego. Ok! Sem problemas! Passamos pela primeira barreira. Depois foi só apresentar os documentos nas próximas duas. Chegamos ao primeiro booth e uma mulher com a cara da Vovó Zilda também foi muito seca. Perguntou se eu era marido e pediu que aguardássemos para ser chamados. A sala estava cheio de chineses, koreanos, indianos, etc. Acredito que é nesta hora que eles pegam os documentos e fazem um background check para validar nossa situação. Enquanto aguardávamos ficávamos nos divertindo com a dificuldade dos agentes para chamar os nomes. Indian Passport vaghnabrashaaba Singh. Ahahahahahahahahahahhaahah. Chinese Passaport Ia Yu. ahahahhahahahahahaha. Indian Passport (qualquer nome que parece um pneu sendo furado) Vaghabanda Vagaluma, sei lá. ahahahahhahahahah. A mulher demorava três horas para falar cada nome. Realmente uma diversão. Durante essas chamadas conhecemos, ou vimos, pela primeira vez uma pessoa oriunda do Nepal. Caramba, existe mesmo. Em minha To do list, agora só falta conhecer alguém de Papua Nova Guiné e Ilhas Seisheles. Aproximadamente 40 minutos depois... Brazilian Passport Aliiiaa Aaaa. Ih amor, acho que é você, mas agora não teve muita graça (:-)). Por um lado isso foi bom, pois ao chegarmos ao segundo booth a mulher já tinha um sentimento de dívida. "Sorry, this name is not so commom". Acho que ela tava acostumada com muitas letrinhas sem vogais. "Don't worry it is a difficult name even for me". Esta mulher foi muito simpática e tirou as digitais da Nanade. Bom sinal, acreditávamos que se não fosse ser aceita, nem as digitais seriam tiradas. Mais 5 minutos e fomos chamados para o terceiro booth e mais uma mulher simpática. A Nanade começou o discurso com o "I don't speak english". Ela falou para não se preocupar. Fez as perguntas de sempre: por que quer ir para os USA, quanto tempo...... Virou para mim e perguntou onde eu trabalhava, pediu para ver meu passaporte e como havíamos aprendido esta lição da última vez, o passaporte estava em mãos. Ela viu que eu tinha várias entradas, virou para a Nanade e disse "you have a very good english, you should not say the opposite. You are going to receive your Visa at home in one week". AAAAAAAAAAEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE. Haagen Dazs. Haagen Dazs.

O processo todo demorou aproximadamente 1 hora e foi muito tranquilo. Depois que tiramos o visto conversamos com algumas pessoas que já estão aqui no Canadá a mais tempo e elas disseram que tirar visto aqui é tranquilo mesmo, que provavelmente nós entendemos errado. O que o USA quer é que as pessoas tirem o visto em seus home country e não no país de origem. Como o Canadá é nosso home country agora, então não tivemos problemas. Porém, pessoas que vêm para cá como turistas e tentam tirar o visto americano por aqui são negadas imediatamente. Bom, pelo menos foi o que escutamos. Fica a dica.

Uma semana depois a Nanade recebe o seu passaporte com o tão esperado visto. Detalhes, o visto vale por 10 anos e tem escrito em letras garrafais "LANDED IMMIGRANT IN CANADA". Acho que da próxima vez que formos para lá eu pegarei carona com ela. O visto tá bonito e é real! Não é lenda!

Agora só falta estrear. "East City", here we go!

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Saia da mãe ou do país?

Hoje estava numa excelente discussão sobre algumas barreiras que enfrentamos em nosso caminho para sair do país. Dentre outras coisas, diante de alguns relatos, percebemos que há dois grandes grupos que nos cercam: os orgulhosos e os invejosos. No geral, veja que estou realmente generalizando, os orgulhosos são aqueles que têm coragem de fazer o que você está fazendo mas não têm vontade. Os invejosos são aqueles que têm vontade, mas não têm coragem.

A minha estratégia nestes casos era simples. Para os orgulhosos eu perdia meu tempo explicando que o Canadá não é frio por 12 meses, que existe verão, outono e primavera, que o governo realmente ajuda as pessoas, que existe de fato oportunidades de se obter uma boa posição e que o país precisa muito mais do que apenas lavadores de pratos. Para os invejosos eu simplesmente concordava com suas teorias que resultavam na idéia absurda que nosso objetivo de vida era virar engraxate de esquimó. Se isto os fazia bem, para mim estava ótimo.

Outro grande problema é a questão da separação física da família e é neste ponto que gostaria de focar este post. Muitas vezes vemos casos em que as famílias "acusam" os futuros imigrantes de abandono ou até mesmo os próprios imigrantes sentem a culpa por estar deixando seus pais e avós para "trás". Isto pode ser um fator decisivo para aqueles que estão em dúvida sobre seu futuro. Assim, resolvi contar a minha experiência para que possa ser utilizado como um peso nesta balança.

Quando estava no processo ouvi do meu pai duas frases que apenas atestaram minha decisão. Enfatizando que isso é uma situaçõ muito particular, mas vou colocá-la aqui de qualquer forma.

Só para contextualizar, meu pai é de Ilhéus - BA e saiu de casa aos 11 anos de idade carregado pela mão pelo meu avô para ir atrás do sonho, de ambos, de seguir uma carreita militar. Quase 50 anos depois ele se aposentou como General e deu o prazer à minha vó de vê-lo recebendo o comando de uma região do Nordeste cujo o quartel General fica em Salvador. Lembro muito bem dessa cerimônia quando minha vó com os olhos marejados olhou para mim e disse. "Meu filho, isso é uma realização sem tamanho". 4 meses depois, minha vó faleceu. Tenho certeza que ela não se conteve com a emoção e teve que ir contar para o meu avô que toda a dor que haviam passado tempos atrás havia valido a pena. Na minha cabeça ficou aquela imagem, aquela vibração, aquele sentimento que consegui extrair da voz trêmula e olhos focados na figura do meu pai. Na minha interpretação isso é tudo o que quero prover à nossa família. Talvez hoje eu consiga ter uma visão muito mais clara daquele momento, assim consigo explicar melhor.

Crescemos com uma única obrigação imposta por meu pai: sermos felizes. Assim, quando soube de nossas pretensões ele me falou, dentro de vários papos, duas frases que me marcaram. "Meu filho, nós já vivemos nossa vida, conquistamos nossas conquistas, batalhamos nossas batalhas, vencemos nossas vitórias. Por favor, complete nossa vida vivendo a sua." e "Se ficasse para ver meus pais envelhecendo, as únicas histórias que teria a contar seriam as suas mortes".

Isso foi suficiente para que este problema não fosse mais considerado. Hoje percebemos o orgulho que nossos pais sentem ao falar que estamos por aqui. Ainda há outra boa variável, depois de algum tempo podemos abrir o processo para que eles também se tornem residentes permanentes assim como nós. Vir ou não é uma decisão particular, mas a possibilidade existe.

Quanto ao fato de compartilhar a vida, as conquistas e até os momentos diários, as coisas estão muito mais simples. Hoje o skype nos permite ter um número em Brasília e nossa família pode nos ligar como se estivéssemos lá. Caso queiramos nos ver, basta abrir o programa e colocar a câmera. Fora isso, guardamos emoções e as apresentamos de maneira a surpreendê-los e sempre lembrá-los de nosso relacionamento. Vou colocar abaixo uma das cartas que enviei para meu pai. Nesta situação, eu havia acabado de mudar para São Paulo e gostaria de demostrar a ele como faz parte de minha vida. Espero que gostem.

"Pai,
Após a elaboração do livro em homenagem aos seus 60 anos surgiu em mim uma vontade de continuar lhe escrevendo o sentimento que me acomete quando penso em você. Essa vontade sempre foi postergada por falta de tempo. Porém, é válido dizer que o tempo existe, o que precisamos é saber priorizar. Após a leitura daqueles slides que você me mostrou, onde havia o arrependimento de uma pessoa perante a falta de um pai devido aos acontecimentos da vida e a ocorrência de minha mudança para São Paulo, resolvi começar a escrever-lhe. Nada melhor do que aproveitar um pouco o tempo colocando no papel sensações glorificantes. Quero externar o que sinto sozinho, quero mostrar-lhe como é bom ter uma pessoa que lhe apóia e lhe ensina.

Essas cartas servirão também como um diário para passar as coisas boas que vivemos. Afinal, de que adianta experimentarmos se não pudermos dividir?

Toda vez, ao final da tarde, penso o que realizei durante o dia, exatamente como sempre ouço sua voz me dizer. Se você soubesse como isso me faz crescer...

Esta é minha segunda semana aqui em São Paulo e a cada dia fico mais feliz. É muito interessante olhar pela janela e ver um mar de luzes, os barulhos da cidade grande, as oportunidades surgindo uma atrás da outra. Quando isso acontece sinto-me um vitorioso, sinto-me capaz de realizar qualquer coisa, acho que nunca havia sentido isso antes.Vejo um mundo pela janela que está à espera da minha gana por sucesso e ao ver a Nanade feliz aqui ao meu lado me sinto completo e preciso externar isso. Não há pessoa melhor a compartilhar do que aquele que sempre acreditou em meu potencial, na verdade mais do que isso, apostou suas fichas.

Orgulho... É isso que procuro passar as pessoas. Eu sinto orgulho de você, pai, e cada vez que penso nisso levo uma descarga de energia positiva. Por isso, tento alcançar sua magnitude. Quero que as pessoas se sintam da mesma forma que me sinto ao me espelhar em você.

Você faz parte de mim.

Eu te amo,

Luciano Barreto"

Espero que estas palavras que tanto me incentivaram também sirvam para outras pessoas. Sei que a maioria que está aqui não precisa de incentivo, mas esta variável família sempre será um contraponto a se considerar.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Trabalho. Papo sério!

Antecipando às críticas, esta semana não falarei da Nanade. Semana passada ela foi o foco e espero não receber denúncias sobre teorias da conspiração contra o universo feminino. Outra coisa, algumas pessoas pediram para eu fazer um vídeo da Dança do Pombo. A possibilidade disso ocorrer é zero. Já basta o tombo no "trenó de verão" para as pessoas ficarem rindo da minha cara.

Nosso espaço serve para entreter e informar. Desta forma, iremos focar mais na parte informativa esta semana e não haverá muitas gracinhas. O assunto em foco é o trabalho. Gostaria de compartilhar algumas dicas e informações sobre as diferenças que encontramos por aqui para melhor nos adaptarmos.

O inglês está cada dia melhor. A compreensão está 100%, tirando as novas palavras que sempre faço questão de anotar em toda reunião e também algumas pessoas que costumam mumblar (to mumble) . A linguagem falada melhorou muito, cada dia mais eu vejo menos caras de interrogação e testas franzidas que claramente significam "what the hell is he trying to say?". Meu próximo objetivo é conseguir conectar as palavras nonetheless e whatsoever em algum dos meus discursos. As palavras não significam "nada", mas são muito bonitas, vocês não concordam?

Para alcançar estas melhorias eu inseri algumas atividades e mudanças de comportamento em meu dia a dia. Quando vou ao trabalho de carro (hummm acabei de perceber que deveria ter escrito o post sobre a compra do carro antes desse, mas agora é tarde, prometo que será o próximo) sempre escuto estações de notícias para melhorar o meu listening. Durante o dia procuro pensar tudo em inglês, ao invés de traduzir somente no momento de falar algo. Isso força o cérebro a ficar em english mode o tempo inteiro. Outra mudança sutil foi nas minhas senhas. Parêntesis para explicar melhor o assunto. Crio minhas senhas baseadas em frases que lembrarei facilmente e retiro a primeira letra de cada palavra. Assim, quem iria tentar colocar uma senha dessas 2Haqmecpnpcg? Porém, se eu disser que esta senha derivou da frase "2 Hamburgueres alface queijo molho especial cebola pickles num pão com gergelim". Ficou fácil, certo? A mudança que fiz é que agora as frases são em inglês e isso permite que minhas horas em english mode não sejam interrompidas no momento de colocar as senhas, que ocorre muitas vezes ao dia. Assim, a cabeça é bombardeada com inglês. Em casa, tentamos falar em inglês, mas nem sempre é possível. A Nanade está bem saidinha, mas ainda está no ponto de cansar depois de algum tempo. Isso é normal, então voltamos para o português.

Dicionário business:
  • Fly by night people. tradução literal "pessoas que voam durante a noite". Pessoas que ficam um curto espaço de tempo nas empresas por opção (aqueles que gostam de trocar muito de emprego) ou por fazer parte da carreira que escolheu (telemarketing, vendedores de porta em porta, etc). Exemplo: "I won't assign this responsibility to these fly by night people".
  • Good for you. Tradução literal "bom para você". Muitas vezes é usado de forma a ignorar ou desmerecer o que acabou de dizer, bem parecido com o uso do whatever, as vezes com uma cara bem simpática. Exemplo: Ok, I am going to a meeting now. "yeah, yeah, good for you".
  • Anõno. Tradução literal.... ???????. Usado por quem gosta de mumblar. Depois da quinta vez que a pessoa se expressa dessa forma você consegue entende que é I don't know. Exemplo: Who is responsible for that? Anõno
  • Use a bigger stick. Tradução literal "Usar um bastão maior". Usado quando é necessário agilizar alguma coisa, colocar mais pressão sobre determinada pessoa. Exemplo: "This schedule is delayed, we've got to use a bigger stick, otherwise it will not succeed"
  • Motherf... Tradução literal (não precisa). Esta palavra nem deveria estar aqui. Ela só é usada em situações onde as pessoas se conhecem bem ou se alguém quer arrumar confusão. Inseri a palavra, pois acredito que ela seja a mais engraçada da língua inglesa. Não existe uma sitação onde ela seja utilizada que você não tenha vontade de soltar uma grande risada. Bom, pelo menos eu tenho. Exemplo: "What are you doing motherf...?" AHAHAHAHAHAHAHAHAHA. Eu realmente acho engraçado.
O dia a dia da empresa é bem interessante. Uma coisa bem clara é que aqui eles de fato não dão a mínima importância para a forma que a pessoa se veste ou para o estilo de vida de cada um. Você encontra de tudo, piercing esquisitos, rabos de cavalos em senhores, idades avançadas ou curtas demais, saias avançadas ou curta demais, calças rasgadas, maquiagem em homem, mulher vestida de homem, senhoras vestidas de menininhas de 20 anos.

Aliás, talvez esta seja a única história engraçada deste post. Eu fui para uma reunião onde necessitava apresentar um plano para uma determinada atividade. Meu chefe me avisou para eu tomar cuidado com uma senhora que normalmente era mais crítica sobre as questões que seriam discutidas, pois se tratava da área que ela gerenciava. Prontamente peguei o telefone e demonstrei algumas diretivas para ver se as coisas estavam de acordo com o que ela esperava. Eu não queria nenhuma surpresa numa de minhas primeiras apresentações. A pessoa por telefone foi muito seca, para não dizer grossa, e criou alguns problemas de antemão. No dia da reunião a sala tinha umas 5 pessoas, entre elas uma senhora com uma cara bem simpática. Logo vi que aquela não era a mulher que eu havia falado pelo telefone, uma vez que já havia criado uma imagem em minha cabeça depois das "patadas"que havia levado e olha que nós nem mesmo havíamos chegado nos pontos polêmicos. A medida que as discussões foram acontecendo, percebi várias caras de "what the hell is he trying to say?", menos da senhora simpática. Fiquei bem a vontade para voltar toda a minha atenção para ela, pois estava sendo bem compreendido e aceito pela sua visionomia, certo? Errado! Depois que a mulher abriu a boca pela primeira vez percebi, pela voz, de quem se tratava. Era ela! A própria! Havia acabado de passar por uma sessão de plática com botox, ou algo do tipo. A mulher não fazia cara de "What the hell.." por que não conseguia. Ela tava a cara da Gretchen, quando falava, a sobrancelha levantava automaticamente e sem sincronia, quando a boca fechava a cara voltava para o estado inicial. No decorrer das discussões eu não conseguia entender se eu estava conseguindo mudar suas idéias com os meus argumentos ou não, pois ela não expressava qualquer reação. Não sei se aquilo é estratégia ou erro médico, mas estava tornando minha vida um inferno, principalmente porque sentia vontade de rir a todo momento. As técnicas de apresentação indicam que você deve pegar os argumentos que estão sendo aceitos e discorrer mais sobre a assunto para tentar vender a idéia. Além disso, eu li o livro "Linguagem Corporal" e procuro utilizar aqueles ensinamentos nestes momentos. Mas como fazer isso? Eu não conseguia entender o que se passava na cabeça da mulher até que ela abrisse a boca (e a sombrancelha levatasse automaticamente e sem sincronia). Eu quase falei "olha só, vamos combinar assim, se você concordar com o que estou falando, fique com essa cara feliz, ela está de acordo com a situação. Porém, se não concordar, por favor cuspa na mesa. Assim, terei uma melhor idéia dos meus próximos passos.". Essa foi uma das reuniões mais difícieis que já enfrentei, mas no final tudo se resolveu. Ela colocou os pontos que achava relevante e que, na visão dela, seria melhor para que sua área pudesse realizar seu trabalho da melhor maneira possível. Whatever, good for you, motherf...

Outra coisa bem interessante aqui no Canadá é a possibilidade da licença maternidade também ser uma licença paternidade. Funciona assim, o governo paga, durante um ano, 55% do salário das pessoas para que a mãe OU o pai fique em casa com a criança. Há um teto para esse montante. Algumas empresas, como a que trabalho por exemplo, ainda complementam com porcentagens de 10 a 30% durante este período. Lá na empresa um dos project managers tirou uma licença paternidade de 6 meses e depois voltou como se nada tivesse ocorrido, seu emprego garantido, seu lugar reservado, etc. Na minha cabeça de brasileiro, se uma pessoa passa 6 meses fora da empresa e ninguém dá falta, é porque ele não é necessário. Aliás, se uma pessoa passa 1 semana fora e ninguém dá falta, pode mandar embora. Acho que esta idéia retrógrada está enterrada na minha cabeça, mas fiquei muito feliz em saber que aqui as coisas são diferentes. Eu comentei isso com um canadense que defendeu este direito com todos os argumentos. Espero um dia compartilhar este pensamento de maneira tão convicta.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Mudança de abordagem e NANADE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Gostaria de comunicar que iremos mudar nossa abordagem para inserir posts aqui no blog. Essa nossa tentativa de juntar assuntos e escrever quando tivermos baboseiras suficientes não está dando certo. Começam a acontecer um monte de coisas e ficamos com preguiça (eu particularmente) de relatar tudo que se passa. Por isso estamos demorando tanto para inserir novo material. Além disso, tivemos uma experiência muito ruim com este blogger. Tínhamos um segundo post, quase todo preparado, faltavam apenas os retoques finais e quando fui modificá-lo, apertei delete depois de marcar tudo. Como o Blogger salva tudo imediatamente, perdemos todo conteúdo. Fiquei indignado e entrei em luto. Agora escreveremos tudo em doc e depois transferiremos para cá.... ou não. Os posts serão pequenos e mais frequentes.

Gostaria de fazer um protesto em relação a operação reclamação contra a ausência da Nanade no último post. O post seria único, mas como estava muito grande acabei dividindo em 2. Assim, as novidades da Nanade ficariam para o segundo e mais importante, pois o melhor sempre vem no final. Certo? Pois é. Quando ela fez a revisão final já de uma reclamada, mas nada que a minha "Pimp Hand" (vulgo tapeira na fuça) não resolvesse. Porém, algumas pessoas nos enviaram mensagens reclamando que não haviam ouvido nada da Nanade. Inclusive colocaram mensagem nos comentários (obrigado, hein, Li e Karllus) e isso gerou um movimento separatista de blogs em nosso lar.

Nheeenheeee nhee esse blog é só seu buaaaa buuaaaa buaaaa. Até as pessoas nheee nheee bla bla bla bla percebem buaaaaaaa buaaaaaaa buaaaaaaaa.

A Nanade tá aqui do lado dizendo que ela não fala assim. Mas é assim que eu escuto. Todos os homens sabem o que estou dizendo.

As notícias da Nanade nos holofotes. O inglês está melhorando muuuuuito. Tivemos que fazer o OHIP e esquecemos de levar o comprovante de residência com o nome dela. Resultado, ela teve que voltar lá SOZINHA para resolver o problema. Este já é um outro estágio. Agora ela começa a se virar realmente sozinha. Esse papo de já conseguir fazer compra é balela, pois é só apontar o que quer e perguntar "how much". Agora tirar um documento dentro de uma instituição provincial, já é outro nível. Acham pouco? Tivemos problema com nosso PR Card. O fax chegou até o local com problema no endereço e depois de 2 meses ainda não havíamos recebido. Liguei e pedi para colocarem o nosso endereço novo. Para nossa surpresa uma semana depois chegou apenas o meu cartão. Liguei lá e eles falaram que a Nanade deveria entrar em contato. Eu não poderia fazer isso por ela. Eu disse que ela ainda não tinha domínio completo da língua e que eu poderia fazer uma ponte como intérprete. Eles foram rigorosos e disseram que nem isso poderia fazer. Avisei para a Nanade do trabalho e disse que a ajudaria quando chegasse em casa. Porém, tive uma grata surpresa naquela tarde quando cheguei em casa. Pois ela já havia ligado e se virado sozinha. Para quem já passou uns tempos em um país de língua inglesa sabe que falar ao telefone é uma das tarefas mais complexas, pois você não tem outros recursos para interpretar o que está ocorrendo na conversa. Muito orgulho, muito orgulho.

Tenho que contar também uma que a Nanade aprontou para mim. Estamos casados há quase 7 anos (segunda feira é nosso aniversário de casamento) e todos sabem como é vida de casado. Os homens, caçadores por natureza, aprendem quais são os sinais que permitirão um ataque noturno às presas disponíveis. Isso tudo na verdade é um jogo. A Nanade sabe que se eu entrar no quarto imitando a dança sexy que o pombo faz para a pomba (or whatever), ela está perdida. O único amuleto dela contra esta infalível técnica de sedução é a placa dental, que é o sinal claro que daquele mato não sairá nem pensamento, quanto menos entrar. Um dia desses, cheguei em casa cheio de amor para dar e recebi logo um balde de água fria. Não adiantaria a dança do pombo, ou qualquer outro artifício, pois a placa estava lá. Perguntei, ainda num último ato desesperado. Princesa, verão, calor, malhação, jovens, casados, livres, juntos, sozinhos, isso não te remete a bons pensamentos? "Nem vem! Ontem eu me insinuei e você nem me ligou". Hein?! Você se insinuou para mim e eu amarelei? Eu disse não? Quando? Como? O que rolou? "É! Eu cheguei para você naquela hora e disse: amor, você está cheirando a pinga...". Silêncio no recinto, minha cabeça tentando processar as últimas palavras, eu podia ouvir meu cérebro tentando buscar qualquer conteúdo que fizesse sentido naquele momento. Princesa, foi isso? "Sim, era para você entender que era para ir tomar um banho e depois namorarmos". Minha nossa, estou lisonjeado. Esta foi a melhor cantada que já recebi na vida. Meus conceitos mudaram, qualquer coisa que ouvir a partir de hoje será motivo para ir tomar um banho. Andando no parque, "ihhh, amor acho que você pisou no cocô do cachorro". Só se for agora!!!!! Onde???!!!

Pessoal, quem estiver vindo do Brasil, me façam um favor de trazer uma garrafa de 51. Apesar de não beber, acredito que será muito útil para mim em terras canadenses.

Bonita, apesar disso tudo, você é a parte mais importante deste quebra-cabeça, o cuspe do meu selo, o óleo do motor, a atriz principal deste filme, o teflon da frigideira, o ar, o sal, a gota de chocolate, mas se me pentelhar I 'll have to show you my pimp hand.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Amadurecimento no Trabalho

Demorei para retornar e isso causou um enorme acúmulo de assuntos. Acredito que este post será bem grande. Aviso para aqueles que estão dispostos a irem até o fim que deverão levar algum tempo por aqui. Enjoy it.

Começo cumprindo a promessa que havia feito em relação ao seguro saúde junto à GTA. O final da história é a seguinte: eles ficaram nos ligando todos os dias durante duas semanas seguidas dizendo que não estavam achando um dermatologista. Depois disso, falaram que nós teríamos que achar por nossa conta (???!!!) e por fim marcaram uma consulta com outro clínico geral (???!!!) que ainda por cima ficava longe de casa. Acabamos não retornando, pois já havíamos feito isso uma vez e nada adiantado. Nosso seguro acabou no domingo passado e agora iremos ser atendidos pelo convênio do trabalho e o OHIP. Resumo de nossa experiência. Se for para ser atendidos para uma besteira, eles funcionam bem. Porém, se for necessário algo mais "elaborado", será preciso paciência. Ainda bem que não era nada grave.

Esta semana um amigo chegou à Toronto e durante nossas conversas ouvimos vários comentários em relação a mudança de estratégias ou escolhas mais acertadas devido ao que havíamos escrito no blog. Isso foi muito gratificante, pois vimos que realmente além de ser um grande poço de bobagens, este espaço está ajudando aqueles que estão vindo para cá. O sonho do meu pai sempre foi ser palhaço em hospital e parece que mais uma vez estou seguindo seus passos. Estou passando mensagens bem humoradas para pessoas, digamos, doentes (no mínimo loucas) e isso me traz um retorno fantástico de satisfação pessoal. Diria que somos parte dos Imigrantes da Alegria.

Vamos ao que interessa. A continuação das minhas primeiras impressões e descobertas sobre a vida do imigrante trabalhador. A primeira semana é igual em todo lugar. Você precisa correr atrás de material de trabalho, crachá, notebook, telefone, contatos, etc. Essa fase serve para começarmos a nos ambientar com a dinâmica das empresas. Você é sempre o "new guy" (tem até um filme sobre isso) cuja tradução real seria "café com leite". Tudo que você fala, quando fala, é deixado em segundo plano, mas isso é normal. Na verdade você está ali mais para escutar do que para falar. A segunda semana foi esquisita para mim, pois algumas vezes senti que tive argumentos desconsiderados pela falta de fluência no inglês. Isso mesmo! Pensamos que ao encontrar emprego as coisas estão todas resolvidas, mas como sempre, vemos que apenas os desafios que mudaram. A questão da fluência do inglês me trouxe uma insegurança temporária e percebi que comecei a ficar mais introvertido. Quem me conhece não consegue imaginar isto ocorrendo. Dica importante: este sentimento é normal para quem chega aqui. Aliás, isso é normal para todos que mudam de emprego, mas por motivos óbvios, sentimos mais nesta situação. Fiz uma pesquisa rápida entre os amigos e pude atestar esta realidade. A insegurança durou uma semana e a medida que fui pegando mais responsabilidades percebi que realmente é apenas uma questão de adaptação.

Minha participação nas interações entre as equipes aumentaram e pude perceber que as pessoas são extremamente competentes. Muitas vezes ouvi no Brasil que todo brasileiro vai ser dar bem por aqui, pois somos um povo trabalhador, que seguramos qualquer barra e que gringo não é assim. Eu já ouvi diversas vezes pessoas dizendo a seguinte frase: "brasileiro no exterior janta todo mundo, pois tem uma visão bem ampla das coisas.". Eu acredito que ter visão ampla das coisas é uma grande habilidade, mas o que os brasileiros esquecem (claro que me coloco na lista) é que esta característica é muito importante para um mercado que a requer. Aqui as empresas não têm esta visão, pois o mercado quer que cada um tenha a sua atividade bem definida e que sejam muito bons no que fazem. O que isso influencia em nossa vida? Darei um exemplo prático. Indiquei um amigo para uma vaga de desenvolvedor numa empresa. Ele, assim como eu fazia, colocou todas as suas habilidades (.NET, Java, Delphi, etc). Falei com o empregador e o seu primeiro comentário foi: "estou procurando um programador para plataforma .Net, fale com seu amigo para limpar o CV e colocar só o que precisamos". Nossa visão no Brasil é "eles querem contratar o Robin, mas vou mostrar para o empregador que sou um super homem". A visão do empregador é "quero contratar um Robin, mas vou pedir um super-homem". Em outras palavras eles querem contratar o super homem com salário de Robin. Aqui, quando a vaga é para Robin, o Super Homem tem que se vestir de Batman's bitch para estar apto a participar do processo. :-) Essa é uma dica muito valiosa para todas as áreas.

Como eu trabalhava em multinacional, muitas vezes ficava doente com o fato de sempre ter que ter 15 pessoas numa reunião para poder resolver um assunto. Isso me ajudou, pois aqui é sempre assim. Você quer fazer um sanduíche de queijo com presunto? Tem que ter os profissionais do pão (o padeiro, o comprador e o cortador), os profissionais do queijo (o "escolhedor" de tipo e cada um dos especialistas nos diversos tipos), os profissionais do presunto (mesmo que o queijo), o coletor do pedido, o cliente e o empacotador do sanduíche. Para não entrar numa discussão sem fim sobre este tema, gostaria de lembrar que esta abordagem tem vantagens e desvantagens como tudo na vida. O problema é que quando estamos no Brasil vemos somente as desvantages, pois estamos num mercado mais "dinâmico", que precisa sempre das respostas para ontem, todos fazendo tudo e ninguém com responsabilidade alguma. Cachorro de dois donos, ou morre de fome ou "empanturrado". Assim, o profissional brasileiro sai para comprar os ingredientes e ele mesmo monta o sanduíche. Além disso, esse mesmo profissional tem que saber fazer hamburguer, misto quente, pizza na ciabatta, sanduíches árabes e alguns drinks elaborados, sendo este um grande diferencial. Aqui no Canadá cada um tem sua responsabilidade bem definida e é cobrado por isso. Isso abre vagas para todo mundo, independente de idade. Estes dias participei de uma reunião que tinham uns desenvolvedores de software contratados. Os meninos não tinham saído nem da frauda ainda. Com certeza eles aprenderam a desenvolver no computador das Meninas Super-Poderosas, Xuxa, sei lá. Porém, quando a reunião começou, era visível o nível de conhecimento deles. A estrutura montada por processos também ajuda muito no momento de encontrar os melhores caminhos e isso facilita principalmete àqueles que estão no início de carreira.

As reuniões são uma grande escola de inglês. Gostaria de colocar aqui algumas expressões que venho aprendendo neste período. Tenho certeza que será uma contribuição valiosa.
  • Ballpark. Tradução literal "A park or stadium in which ball games are played". Muito usado quando as pessoas procuram estimativas. Exemplo: I need these costs. Could you give me a ballpark?
  • Kind of thing, type of thing. Tradução literal "Tipo de coisa". Usado para estender as frases para que pareçam muito elaboradas ou complexas. Exemplo: "I will create a new style. It would be a tribute page kind of thing."
  • Pinching roses. Tradução literal Pinching "To squeeze between the thumb and a finger" and Roses... Usado quando querem dizer que a situação pode não ser das melhores, que necessita bastane cuidado para não se machucar. Exemplo: "If we choose this approach we will be pinching roses in the future."
  • Sufixo -ish. Tradução literal "The suffix -ish usually indicates approximation". Usado em tudo, normalmente quando a pessoa não quer usar "kind of thing" ou realmente para aproximação. Exemplo: What time will you travel? "8 ish!"
  • Just because. Tradução literal "apenas porque". Esse uso é interessante, pois normalmente necessitaria de uma complemento, mas quando é usado simples assim como uma resposta, indica mais ou menos "for no reason" ou "porque sim", "porque eu to mandando", "porque to afim". Exemplo: "Why are you doing that?" ..."Just because!"
  • The other way around. Tradução literal "with the order reversed" ou vice versa. Porém, já o vi ser usado numa situação curiosa quando uma pessoa queria dizer que outra não tinha a menor idéia do que estava acontecendo. Seria o famoso "Ou não" do Caetano Velozo. Exemplo: "This product X does this, this and that." Resposta sarcástica "Or the other way around"
  • Whatever. Esse não vou colocar tradução literal, pois existem várias, mas gostaria de comentar o uso mais interessante que vi. Ela é uma maravilha criada para você educadamente dizer à outra pessoa num tom sempre formal: "eu estou literalmente c...... para o que você acabou de me falar". Exemplo: Whatever!

Irei incluir mais palavras a esse dicionário a medida que for encontrando usos interessantes ou expressões.

Dica importante também aprendida no ambiente de trabalho. Quando forem contar uma história, seja ela positiva ou negativa, nunca comentem qual é a origem da pessoa. Isso pode passar a impressão que você tem a intensão de dizer que aquilo só ocorreu porque a origem da pessoa é X. Esta interpretação pode ser considerada harassment e te causar grandes problemas.

As aulas práticas diárias já fizeram meu inglês melhorar em um mês mais do que o ano passado inteiro. Agora não preciso usar mais o método "Domingo no parque do Silvio Santos" que consiste em dizer "YES" para qualquer coisa que não entende. Porém, não é qualquer yes, tem que passar credibilidade nas respostas, aprendi com o meu amigo Camila. O segredo é demonstrar sabedoria na resposta. Deve-se fazer uma cara de inteligente, pensar durante 2.3 segundos, apontar o dedo para algo relevante dentro do cenário e confiantemente responder... "YES". "A reserva que o senhor fez do carro expirou, assim o senhor poderá escolher entre o carro x ou y"....... "YES.

As viagens de metrô continuaram. Acabei de ler o livro Marley e Eu durante minhas viagens. Aliás, ainda bem que o penúltimo capítulo eu estava em casa, senão passaria vergonha no meio da rua. Comecei então a ler o outro livro que havia comprado "No Country for an Old Man". Minha nossa! Que livro chato! Eu não consegui passar da vigésima página. A linguagem é muito rebuscada e a forma do autor escrever é chata. Tudo ele descreve dizendo que "o céu estava azul e o vento batendo e as nuvens pairando e o chão fervendo e as árvores"..... Chega! Será que ele não sabe usar vírgula? Resolvi então prestar atenção no livro que as outras pessoas lêem, assim poderia achar algo interessante para adotar como próxima leitura. Alguém já fez isso? Eu recomendo! É uma atividade bem interessante e sempre há livros que não combinam com o perfil das pessoas. Você fica imaginando qual foi o trauma que as pessoas tiveram para encarar aqueles títulos (Vou ser sincero! Perdi o papelzinho onde anotei alguns comenários e não conseguirei fazer as piadas, pois já faz um tempo. Ficarei devendo). Minha estratégia era ficar com um papel (que perdi) e caneta na mão e anotar todo livro que via. Depois procurava na internet para ver o que me agradava. Durante uma dessas viagens eu estava sentado nas cadeiras voltadas para o centro do vagão. À minha frente, do outro lado, havia um senhor lendo um livro. Eu tentei ler o título e não consegui. No esforço para tentar um melhor ângulo eu me inclinei para frente de tal forma que não tinha como disfarçar o que eu estava fazendo. Acho que o senhor percebeu e levantou a cabeça para "tentar" me olhar. Digo tentar, pois este senhor tinha um pequeno problema que eu conceituaria como um "too lazy eye", Janio Quadroish, aliás até pior. Ele tinha a capacidade de olhar para o blind spot sem mexer a cabeça... para os dois lados... ao mesmo tempo. Aliás, eu acho que o livro estava em seu blind spot. Com certeza ele deve ter reprovado no road test, pois não tinha como provar que havia feito a tarefa corretamente. Essa imagem veio a minha cabeça como um filminho e sozinho comecei a rir da situação. Quando me dei conta voltei o foco para o senhor novamente e ele ainda estava me encarando... eu acho. Retornei para a minha posição normal e enfiei a cara no bloquinho de anotações para não deixar escapar nada. Porém, o senhor não voltou a ler o livro. Fiquei meio sem jeito e resolvi trocar de lugar. Infelizmente isso não adiantou, pois o velho parecia quadro mal assombrado, qualquer lugar que eu fosse o olho dele estava sempre voltado para mim. O pior, acho que todos no vagão tinham a mesma sensação que eu. Depois desta, parei de bisbilhotar a vida secreta dos livros dos outros e perdi o interesse por leitura dentro do metrô.

Um ponto desagradável que tenho para falar sobre o metrô, mas infelizmente tenho que dizer, são as constantes ocorrências de OVNAs (Odores "Vudidos" Narina Adentro) durante a volta para casa. Essa foi a forma mais educada que encontrei para falar deste assunto. Eu relutei para falar sobre isso, pois muitos acharão grosseiro com razão, mas sem exagero, por dia são identificados no mínimo 3. É melhor que as pessoas estejam preparadas e levem uns lencinhos cheirosos na bolsa, sei lá. Acho que 17:00hs é a hora que o almoço já chegou num ponto sem volta e a quantidade de gente dentro do metrô ajuda a disfarçar possíveis criminosos. Eu já presenciei uma senhora começar a se abanar disfarçadamente por ter identificado um OVNA. Parecia que a senhora iria passar mal, mas ela se limitou aos gestos serenos. Aliás, as pessoas são muito educadas no Canada até nesta situação. Não há qualquer comentário, se fosse no Brasil já teria um engraçadinho gritando: "Meu deus do céu! Se pegar no olho, cega!". Tem algumas situações que se fôssemos calcular o Carbon Footprint (http://www.thegreenoffice.com/carbon/index.php) gerado pelo emissor, a pessoa teria que plantar 10 árvores ao chegar em casa. Outros teriam que sair plantando bananeira já do metrô. Certa vez eu estava sentado do lado de um rapaz e ouvi um barulho aterrorizante vindo de sua barriga. Eu não sabia se era falta ou excesso de comida, mas deu vontade de falar para ele: "meu amigo, o que quer que esteja aí dentro, por favor não deixe sair". Porém, não houve abertura, pois do jeito que ele estava, ficou! Minha única alternativa foi ficar monitorando a evolução da tropa até que chegou na minha estação e consegui sair ileso. Esse foi um dos bons motivos que me levou a acelerar a procura de um carro. Aliás, contarei mais esta aventura na semana que vem, pois este post já está muito grande.

Gostaria de deixar uma última dica por hoje. Ao chegar ao Canadá precisamos tirar o Social Insurance Number (SIN), que seria o equivalente ao Social Security Number nos USA ou o CPF no Brasil. A recomendação é que você só passe este número para o seu empregador e para o banco que vai abrir conta. Porém, é muito comum os estabelecimentos pedirem este número na maior cara de pau. Eu já vivenciei várias situações neste aspecto e minha estratégia é dizer que não estou com ele no momento, não sei o número de cabeça e se precisar depois eu o mando. Porém, nunca mais envio qualquer informação. Fica esta dica importante, pois com seu SIN as pessoas mal intencionadas podem fazer cartões de crédito, abrir contas em banco e outras coisas que podem te prejudicar.

Boa semana a todos.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Quebrando o Gelo

Precisamos escrever algo para não ficar apenas com o post inaugural do novo Blog. A estratégia agora é anotar tudo de interessante que vamos vendo para escrevermos algo estruturado quando conseguirmos juntar fatos suficientes. Assim, acreditamos que a periodicidade será bem irregular. Porém, pelo tanto de coisa que está acontecendo acreditamos que assunto não irá faltar.

Antes de começar gostaria de colocar nossa experiência com a empresa GTA (Global Travel Assistance). Fizemos o seguro de 90 dias para ficarmos tranquilo durante o período que não estamos cobertos pelo OHIP. Quando fechamos o pacote ocorreu um problema na hora do pagamento, pois o motoboy não esperou para pegar o dinheiro devido ao tempo que estava no estacionamento e precisou voltar no dia seguinte para completar a negociação. Liguei na empresa e confirmei que estava tudo certo. Pois bem, viajamos tranquilos e a Nanade precisou ser consultada por um dermatogogista, pois nossa estadia na granja deixou marcas. Perguntamos para nossos amigos médicos e eles disseram que não era nada para se preocupar, mas que deveríamos procurar um especialista. Ligamos na GTA num domingo para tentar marcar algo durante a semana e tivemos uma excelente surpresa ao recebermos um médico em nossa casa no mesmo dia, aproximadamente 2 horas depois da ligação. O médico, um senhor muito bem vestido e muito educado, entrou em nossa casa, olhou para a pele da Nanade e disse num tom muito confiante demonstrando que tinha certeza absoluta do que iria dizer: "Não tenho a menor idéia do que seja isso". Great! Neither do we! "Se eu fosse vocês procuraria um especialista". Bem, Senhor Doutor, foi isso que pedimos, mas a empresa de seguro mandou.... você! O que faremos agora? Ele disse que iria retornar ao seguro a necessidade de recebermos uma visita de um especialista. Dica importante: para ver um especialista aqui no Canadá é mais difícil do que nota de CAN$100.00. Você tem obrigatoriamente que passar por um clínico geral para depois entrar numa fila. Para transformar uma longa história, numa curta passagem, estamos esperando há 3 semanas para eles acharem um especialista. Aí então conseguiremos entrar na fila e quem sabe ser atendido no ano que vem. Quero crer que esta demora não seja proposital para que o tempo do seguro acabe. Fico com a obrigação de voltar aqui para esclarecer como acabou esta história.

Nosso dia a dia é decidir quais são as nossas prioridades para não enfiarmos os pés pelas mãos agora que voltamos a respirar. A sensação antes era como se estivéssemos segurando a saída de uma mangueira e a todo momento que pensávamos que tínhamos que comprar algo sentíamos que a mangueira estava enchendo. Sabem a sensação? O Tom e Jerry sempre passavam por este aperto. Agora estamos tentando comprar as coisas aos poucos. Porém, encaramos um outro problema bem conhecido pelos imigrantes, a falta de histórico de crédito. Aliás, fazendo um parêntesis para inserir um comentário muito inteligente de um amigo. Vir para o Canadá é um processo de rejuvenescimento. Parece que você volta a ter 18 anos, não tem carteira de motorista, não tem histórico de crédito, não tem experiência profissional, não sabe falar direito, fica nervoso ao interagir com os outros, enfim... Não conseguimos comprar um sofá no The Bay, estamos ralando para comprar um carro e já vimos que nossa HDTV vai demorar um pouco para chegar. O importante desse processo é que estamos nos divertindo durante as pesquisas de preço. Contaremos mais detalhes futuramente.

Por enquanto a única coisa que podemos comprar é filmes, temos obsessão por isso. Aliás teve uma história interessante neste sentido. Estávamos numa loja e a Nanade encasquetou que queria que comprássemos um DVD dos Smurfs. "Caramba, amor! $26 para ver smurfs é brincadeira, né?". "Então você vai lá no balcão e pergunta se tem algum outro filme dos smurfs por um preço melhor". "Jura??!! O cara vai rir na minha cara." "Ué, se não quer comprar esse, pergunta se tem outro". Como conheço a esposa que tenho, vi que era melhor perguntar, senão tomaria um preju por causa do Gargamel. Eu nunca pensei que seria tão complicado fazer esta pergunta. Parecia que eu estava indo numa farmácia perguntar se tinha supositório. Cheguei bem perto do rapaz no balcão e perguntei se havia algum outro filme dos smurfs. "What??!!". Voltei a perguntar em tom bem baixo se poderia haver a possibilidade, ainda que remota, de ter um outro filme dos smurfs por um preço menor que um salário mínimo. "HEY JEAN, IS THERE ANY OTHER ehhhh... SMURFS DVD THERE?". Todos na loja olharam para mim, parecia que eu tinha pedido viagra na farmácia de um asilo. Minha única reação foi apontar para a Nanade para ver se o foco de todos saia da minha pessoa. Parecia que o tempo havia parado. 5 minutos depois veio a resposta esperada. CLARO QUE NÃO! Quem diabos vai comprar filme dos smurfs?

Mudando de assunto completamente, muitos pediram para que eu transcrevesse as minhas primeiras impressões de como é trabalhar por aqui. Começo pela minha viagem diária para o local de trabalho que têm sido um exercício extremamente prazeiroso. Gasto cerca de 1 hora para pegar 3 metrôs para chegar ao trabalho. Li o livro Marley e eu, que aliás recomendo a todos aqueles que gostam da maneira que escrevo aqui, o John Grogan conseguiu demonstrar no livro uma visão muito bem humorada da vida. Hoje sou um grande fã. Cada trem tem uma particularidade. No trem da Bloor sempre há mensagens transmitidas via alto falante que até hoje não consegui entender. É sempre algo no estilo "Hearo algious caueh admiasjs something asaojasj Spadina Station". Minha estratégia é olhar para a cara dos outros usuários, se eles se assustarem sei que algo ruim ocorreu e precisaremos ficar parados 5 minutos em alguma estação. Isso já ocorreu umas duas vezes. Caso não haja reação alguma, então é algo tranquilo e não preciso me preocupar. No trem da Yonge ficam todos esperando na estação e a entrada no vagão é uma comédia. As pessoas esperam que todos saiam e correm feito loucos para pegar os acentos. Sempre muito educados, mas correm. Parece uma marcha atlética misturada com dança das cadeiras. Por fim, o trem da Sheppard, bem, ainda tenho que achar uma particularidade para este.

Chego todo dia de manhã e compro um café. Esse também era um hábito que tinha no Brasil, mas claro que aqui tem outras dificuldades. Como a água, que já comentei em outro post, aqui você encontrar café com todos os flavors, menos coffe flavor coffe. Café flavor Macadamia, café flavor mashmallow, café flavor irish whatever e na verdade todos são café flavor chafé. Além disso, eles gostam de tomar café pingado (como chamam em algumas regiões do Brasil), aqui é o famosos double-double. Vocês acham que é só colocar o leite? Claro que não! Tem leite skimmed, partly skimmed, 1%, 2%, 3%, 10%, etc. Uns dizem que o número é o percentual de gordura, outros dizem que é o percetual de sabor, quanto maior o número, mais sabor. Eu, como bom mamífero, parei de tomar leite assim que desmamei, quando tinha 3 anos de idade. Então só fico com o chafé com açucar. O ritual é interessante, estou me sentindo num filme americano. Você chega no local, compra o café, coloca os complementos, pega a tampinha coloca sobre o copo e vai embora para o trabalho. Mesmo que você não goste de café, tem que fazer isso, caso contrário ficará se sentindo deslocado.

O trabalho é muito interessante e ainda estou me acostumando com o fato de falar inglês o dia inteiro. Como ainda não tenho controle total da língua, esta atividade deixa a cabeça bem cansada. Uma abordagem que estou tomando é procurar não falar em português com ninguém durante o dia, assim se algum de vocês conversar comigo no MSN e eu só falar em inglês não se assustem. Estou apenas tentando não tocar horror na minha cabeça. O engraçado é que o ouvido vai se acostumando, no começo, quando cheguei aqui, precisava perguntar sempre para repetirem a frase. Agora não, já estou por dentro e não peço para repetirem, não entendo nada, mas mantenho a minha dignidade.

É isso pessoal, estamos continuando nossa jornada e esperamos a presença de vocês por aqui. Tenham uma boa semana.