sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Intuição feminina ou pressentimento de mãe?

Faz muito tempo desde que escrevi meu primeiro e último post, hahahahah...
Porém, um momento tão especial como este que estamos vivendo me fez ter vontade de me aventurar e dar meu palpite de “mom to be”.

Antes, quero muito agradecer a todos pelo carinho, pela torcida, pelos comentários tão encorajadores e tão confortantes, que nos fazem sentir, ainda que não conheçamos pessoalmente alguns de vocês, acolhidos por pessoas que independente de qualquer coisa, torcem pelas outras. Vocês se tornaram parte de nossas histórias, como leitores assíduos que riem, que choram e que acima de tudo torcem para que o Luciano poste logo um nova história, ou para que tudo dê certo.

Apesar de preferir “os bastidores”seja revisando os posts ou compartilhando com o Lu a alegria de cada comentário, estou participando de tudo e muito feliz por tudo o que vocês dão em troca pelo simples e delicioso fato de apenas dividirmos um pouco de nossa história com vocês!

Nós três estamos muito bem. Estou a cada dia melhor apesar de continuar com os melhores enjoos e quedas de pressão da minha vida. Já chegamos aos três meses e os bebês a cada dia estão mais comilões e consequentemente, a mamãe que vos fala, também...heheheheh...

Todo mundo me pergunta se tenho algum palpite do sexo dos bebês. Até hoje não tinha, mas me peguei pesquisando algumas lojas para começarmos nosso tour de compras, e me flagrei olhando tudo para menina e passando batido nos itens de meninos. Aí, me dei conta de que inconscientemente talvez seja minha intuição dizendo que teremos pelo menos uma bonequinha a caminho. Será que o jardim vai aumentar? Luciano continua achando que são dois menininhos. E agora? Quem será que vai acertar?

O bolão já começou, façam suas apostas!

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Chuva de verão

Pessoal,
post rapidinho só para mostrar o resultado de uma semana bem quente em Toronto. Desde sábado passado está um calor de rachar coco por aqui. Média de 35 graus. O pessoal que chegou aqui agora acha que este negócio de frio é balela, invenção para que as pessoas não se mudem para cá. Porém, depois de quase uma semana de calor intenso, vejam o que aconteceu hoje.

Atenção especial que no primeiro vídeo não é possível ver os prédio que ficam bem ao fundo (na Bayview).

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Intuição masculina

Vou deixar registrado para depois não falarem que não avisei. Passei a semana inteira com o pressentimento que teremos dois filhos homens. Quero deixar claro que isso não é um desejo e sim intuição.

Todos perguntam o que queremos e na verdade não há preferência. Se forem dois homens, tentaremos mais 3 para fazer um time de basquete. Se for um casal, o nosso filhote se dará muito bem com as amiguinhas da filha. Se forem duas menininhas terei o prazer de montar um jardim com muitas flores para cuidar. Resumindo, desde que não venha um filhote de cachorro e um toco de cigarro, o resto tá valendo.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Uma história para se contar (6)

Continuando esta história que está mais longa do que imaginávamos. Acredito que conseguirei fechar com este post. Tenham calma.

Na quinta feira, após decidirmos não fazer uma nova drenagem, voltamos para casa e me dirigi ao trabalho. Durante o dia a Nanade relatou que a barriga havia crescido um pouco, mas nada que precisasse de uma ação mais drástica. Quando voltei do trabalho não havia mudado muito, mas a barriga voltou a crescer de noite e a Nanade teve que dormir sentada novamente. Na sexta feira ela acordou bem, mas durante o dia voltou a piorar. Assim, não houve jeito, tivemos que ligar para a clínica e eles nos disseram que teria que fazer uma nova drenagem no dia seguinte, pois já haviam fechado naquele dia.

Durante a noite a barriga da Nanade chegou ao maior nível que já havíamos visto. Mais uma vez ela cresceu 4 cm em pouquíssimo tempo. Ficamos em dúvida se ela aguentaria até o dia seguinte. Tentamos dormir (eu no quarto e ela sentada na sala), mas ela acordou às 2:30 com muitas dores. Tentamos esperar até às 7:00 da manhã para irmos direto para a clínica, mas não foi possível, as dores estavam muito fortes e ela mal conseguia respirar. Corremos para o mesmo hospital em Brampton às 3:30h da manhã para tentarmos controlar os sintomas. Ao chegarmos ao hospital fomos direto à recepção e o rapaz perguntou: “is she pregnant?”. Sim, 4 semanas de gravidez. “You mean.... 4 months, right?”. Não não, 4 semanas, por isso que estamos aqui. Ele nos direcionou para sermos atendidos e começou aquela espera. Pedimos para o hospital entrar em contato com o médico, mas eles disseram que não poderiam, a não ser que fosse um caso extremo. Bom, nós acreditávamos que era um caso extremo, por isso havíamos ido para o hospital, caso contrário esperaríamos até às 7:00h para nos deslocarmos diretamente à clínica. Ela disse que já tinham visto casos piores, onde a pessoa havia praticamente parado de respirar e por isso o médico foi chamado. Isso realmente não era uma informação que gostaríamos de ouvir. Será que precisaríamos chegar neste ponto para que pudéssemos ser atendidos de maneira apropriada? Felizmente o crescimento da barriga havia estabilizado, mas a Nanade continuava com dor. Outra coisa que nos incomodava é que as dores também vinham em “ondas” como se fossem contrações. Isso era a última coisa que precisávamos naquele momento. Quando chegou às 5 da manhã a enfermeira falou que seria melhor irmos para casa e depois para a clínica direto, pois lá no hospital acabaríamos esperando mais do que isso para sermos atendidos. Isso é um absurdo! A Nanade estava sentindo muita dor e nosso medo é que a falta de ar fosse algo mais sério. Decidimos ficar no hospital mesmo até às 6:30, pois se algo mais sério ocorresse estaríamos no local certo. Eu não saberia o que fazer, então voltar para casa estava fora de cogitação. Sem contar que Brampton é beeeeem longe.

Chegamos à clínica às 7:00h e os exames constataram que realmente precisaria de uma outra drenagem. De uma hora para outra esta alternativa era a mais aguardada pela Nanade, pois as dores noturnas eram piores do que virar espetinho.

Apesar de estar muito disposta a encarar a drenagem, a Nanade estava nervosa. Dentro da sala de procedimento o médico perguntou se estava preparada para começar e ela abriu o bocão a chorar. A pessoa responsável pela ultra, uma Romena chamada Lucia, fez as vias de ombro amigo. Ela segurou a mão da Nanade enquanto o a agulha buscava as bolhas de fluidos em sua barriga. Quando entrei na sala a máquina de coca cola estava bem fraquinha, quase não saia líquido, o que me deixou curioso. Da outra vez a barriga não estava nem tão inchada assim e o líquido jorrava abundantemente, por que está saindo pouquinho agora? A enfermeira disse que a barriga estava inchada não somente por causa do líquido, mas também devido ao tamanho dos ovários da Nanade. 30 minutos e 1.5 litros depois fomos para casa com três outros agendamentos. Voltaríamos no dia seguinte para ver a evolução, na segunda feira a Nanade tomaria outra dose de plasma na veia e na quarta feira estaríamos lá novamente para avaliar o quadro geral. Nossas planejadas férias em Niagara acabavam de ir por água abaixo, mas era por um motivo nobre. O médico disse que dificilmente voltaria a acontecer. Tomara, pois já estávamos ficando com medo de final de semana. Lembro que tive que dirigir o carro à 20Km/h até em casa, pois qualquer buraco na pista fazia a Nanade se contoncer com o incômodo.

Assim seguimos! Fizemos tudo que havia sido marcado e finalmente na quarta feira veio a notícia que esperávamos. A Nanade havia saído do quadro de hiperovulação. De fato a sua barriga já estava diminuindo e as dores já não incomodavam. Precisaríamos voltar no sábado para fazer uma ultra para avaliar o tamanho dos ovários, mas isso era apenas para garantir que nada mais ocorreria. Chega de finais de semanas conturbados! Segundo o médico podíamos ficar tranquilos que o pior havia passado. Comemoramos junto com o pessoal na reunião de sexta e divulgamos que as turbulências haviam passado. Agora era aproveita a gravidez.

Porém.......... esse porém é bem grande. Não sabíamos que ainda estávamos para passar pelo pior momento.

Acordo no sábado de manhã com a Nanade me chamando na sala. “Dor, amor! Dor, muita dor!” Calma! Dor onde? “Dor! Dor! Dor!”. Vi que ela não tinha condição de falar então comecei a me arrumar para ir para a clínica. Em 3 minutos estava pronto e tentei levar a Nanade escada abaixo. Cada degrau era um suplício e resolvi pegá-la no colo para acelerar a locomoção. Tivemos sorte que um dos vizinhos ouviu os gritos e veio nos ajudar. Ele saia abrindo as portas à nossa frente enquanto eu a carregava e ficou com a Nanade na porta do prédio enquanto fui buscar o carro. Já no carro a caminho da clínica eu tentei entender o que ela estava sentindo, mas não tinha jeito. Ela estava em transe concentrada no que a incomodava. Mais uma vez as dores vinham em ondas, mas a força era estupidamente superior ao que havíamos presenciado na semana anterior. Eu pensava comigo: não é possível! O médico disse que isso não voltaria a acontecer! A barriga não inchou, ela não ganhou peso, nada parecia ao que havíamos vivido. Porém isso era um ponto negativo. A Nanade ficava repetindo: “amor, não quero perder nosso filho! Me ajude!”. Eu ajudava como podia, dirigia o mais rápido possível para a clínica enquanto deixava minha mão espalmada sobre a barriga dela e repetia sempre “fique, fique, fique”. Eram as únicas coisas que eu podia fazer. As dores voltavam cada vez piores. A clínica parecia mais longe do que nunca. Quase não havia carro na rua, pois era um sábado às 10 da manhã e mesmo assim parecia que nunca chegava. “Amor, eu não quer perder nosso filho”. Só de lembrar me dá um nó na garganta.

Chegamos à clínica e enquanto ela ficou no carro eu corri para arrumar uma sala para ela ser avaliada. Cheguei muito cansado e nervoso e a recepcionista percebeu que era algo sério. “There is no room available at this moment. Could she wait for a while?”. Não! Não pode! Ela está passando muito mal e preciso que ela seja atendida agora. Corri no carro para buscá-la e assim que cheguei lá a mulher já apareceu dizendo o quarto que deveríamos ir. Levei a Nanade no colo até o quarto e cheguei lá quase desmaiando. Durante os exames o médico falou que não era aborto, o que me deixou bem aliviado, mas ao mesmo tempo não sabia o que esperar. Ele disse que isso ovário torcido (http://en.wikipedia.org/wiki/Ovarian_torsion) e que devíamos correr para o hospital, pois isso causaria muita dor até que ela voltasse ao normal. Ele entrou em contato com o hospital, nos deu um “referral” que iria nos fazer pular toda a fase de análise do problema e nos fez sair correndo. Chegamos ao hospital e começou a guerra. Deixei a Nanade no carro e fui pegar uma maca ou algo do tipo. Ele falaram que antes eu teria que entrar na fila normal para triagem. Veja bem, eu tenho esta indicação dizendo qual é o problema e o que precisa ser feito. Minha esposa está com muitas dores e grávida. Eu realmente estou preocupado que essa espera cause algum problema maior. “Sir, you need to be on the line for the triage”. Ok, o que não tem solução, solucionado está. Entrei na fila e ela falou que eu tinha que buscar a paciente. Eu acho que você não entendeu, minha mulher está berrando de dor no carro, se eu a trouxer aqui vai causar uma grande bagunça. “Sir, you need to bring the patient here”. Eu a busquei e ela já chegou vomitando, para mostrar que o caso era sério. Rapidinho passamos na frente da triagem e nos enviaram para a sala de emergência. “Dor! Dor! Amor, faz parar!”. Pedi quase de joelhos que a enfermeira fizesse algo e ela disse que precisaria de uma palavra da médica. Ok! Mas onde está essa médica? Não é possível deixarem uma pessoa neste estado numa maca gritando de dor enquanto aguarda algo. 10 minutos de sofrimento depois volta a mulher com uma injeção de morfina. Enquanto isso veio uma pessoa me dizer que eu precisava tirar o meu carro da vaga da emergência e também ir lá fora assinar um “num sei o que”. Eu precisava de apoio e liguei para a Jack. Em 15 minutos ja tinha um exército lá fora para apoiar no que eu precisasse. Jack, Flávio, Dona Van, Francisco e Lu estavam no saguão esperando.

Antes do pessoal chegar, fomos direcionados à sala de ultra. A Nanade estava apagada, pois depois da injeção ela ficava completamente nocauteada. Quando estávamos na sala de ultra tivemos uma boa surpresa. A mulher mostrou que o bebe ainda estava lá. Este foi o primeiro alívio. Eu disse que havíamos passado por um processo de fertilização e que havíamos transferido 2 embriões. Ela mexeu o aparelho e deu outra excelente notícia. “You are right. There are two little babies in there”. Tentei passar isso para a Nanade para ver se ela melhorava, mas não tinha jeito. O efeito da morfina começava a passar e o tsunami de dor vinha se formando.

Pedi que a Jack ficasse com a Nanade enquanto resolvia a burocracia e retirava o carro. Fiquei lá fora com o pessoal e comi algo, pois a esta altura já eram 2 da tarde. Quando voltei, a médica estava lá para explicar o que seria feito. Ela disse que provavelmente era ovário torcido e que teriam que fazer uma laparoscopia para avaliar melhor. Depois disso havia 3 opções: fazer uma nova drenagem (caso não fosse ovário revirado), desvirar o ovário ou remover o ovário (caso o ovário já tivesse necrosado). Porém, este terceiro é somente em último caso. A previsão para entrar na sala de cirurgia era de 2 horas. Perguntei como faríamos até lá, pois o efeito da morfina durava duas horas e já estava acabando e não havia condições de deixá-la sofrendo daquele jeito. A médica disse que injetaria uma nova dose de morfina e também prescreveria um supositório contra dor, que não permitira que a dor chegasse a níveis altos. Ok! Foi ministrada a outra dose de morfina e ficamos esperando o outro remédio. Nada! Cadê o outro remédio? “We have purchased it and they are going to deliver it in a minute”. Esse papinho durou a tarde inteira. 4 da tarde, nada de morfina, nada de supusitório, nada de sala de cirurgia e a Nanade volta ao estado crítico. Ela já não tinha lágrimas, não sei como suportou tanto. Fiquei brigando com uma enfermeira lutadora de sumô e já estava quase saindo no tapa com a mulher quando apareceu um anjo e nos ofereceu para sermos transferidos para um quarto semi privado.

Ao chegarmos lá em cima começou a guerra novamente. Mais morfina, por favor? Cadê o supositório? Cadê os médicos? Que horas será a cirugia? Nenhuma dessas perguntas eram respondidas de forma satisfatória e eu já não tinha estômago para suportar o sofrimento da Nanade. Eu via que ela se esforçava para lutar, mas a dor estava vencendo. Ela já havia dito com todas as palavras que seu limite havia passado e que não aguentava mais. Porém, o que eu poderia fazer? Ainda bem que a Jack e a Dona Van estavam por lá. Elas ficavam com a Nanade enquanto me recuperava lá fora em um bate papo com o Flávio. O nível de angustia já havia chegado ao máximo. Para que precisávamos passar por tudo aquilo? Logo agora que achávamos que tudo havia terminado e as coisas fluiriam no curso normal da natureza... De tanto enchermos o saco das enfermeiras elas conseguiram contactar a médica e ministrar mais morfina, porém desta vez não foi uma injeção, era através do soro que ela estava recebendo. Assim, a dor não passava, mas também não chegava a um nível crítico. A Nanade ficava dormindo e fazendo caretas. De vez em quando soltava um gemido e reclamava, mas era algo bem mais suportável. O Flávio, a Jack e a Dona Van precisavam ir embora, pois haviam saído às pressas de casa. Pouco antes disso chegou a médica para “avaliar se realmente era preciso fazer a cirurgia”. Isso é sério? Somos nós que escolhemos? Se sim, leve-a para a sala de cirurgia agora, pois passou a tarde inteira sofrendo. Não existe, na minha visão leiga, outra coisa que possa ser feita. Eu passei a ficar muito preocupado com a possibilidade de ter que passar a noite inteira em “observação”. Para quem estava ali do lado era claro que o que tinha que ser observado, já havia sido. A médica fez uma última avaliação e disse que iria preparar a sala de cirurgia. Alívio finalmente! 45 minutos depois volta a enfermeira e pede para a Nanade ir para a maca. Com dificuldade ela se locomove até a maca e aguarda ser levada. Neste instante chegam o Francisco e a Lu para nos dar aquela força final. Na porta do centro cirúrgico eu me despeço com a certeza que eles irão desvirar o ovário e ela sairá do outro lado novinha em folha.

Na sala de cirurgia um médico faz as últimas perguntas para a Nanade, que volta a sentir dores muito fortes. Quando ele estava quase saindo ela arruma força e diz: “eu estou grávida”. Ele volta para a maca e repete: “you are pregnant! Nobody told me! Are you aware of the risks?”. Ela disse que não quis nem ouvir o que ele tinha para dizer, mas ela já sabia o que era. Talvez este momento de lucidez tenha servido para ela compartilhar esta imporante variável. Os riscos e consequências estavam fora de suas mãos, que aliás, estavam de volta para tentar resistir à dor insuportável.

Lá fora eu aguardava com tranquilidade. Eu sabia que estava tudo resolvido a partir daquele momento. Além disso, o Francisco e a Lu me davam o apoio antes provido pela Jack, Flávio e Dona Van. Eu não poderia estar melhor assessorado. 15 minutos, 30, 45 e nada. Começo a ficar nervoso e de repente uma voz no alto falante diz : “Code blue, code blue! Operation room Second floor! Code blue”. O que é isso? De repente um monte de médicos saem correndo de todos os buracos do hospital. Meu coração acelerou a mil. O que é cold blue? Onde essa galera tá indo? Aquela foi a primeira vez que senti a seriedade da situação. A única coisa que me deixou mais calmo é que os médicos saiam de onde a Nanade estava e corriam na direção oposta. Fui atrás para ver o que era e pude perceber que code blue é parada cardíaca e uma vovózinha estava precisando de auxílio. Eu tive que ser egoísta neste momento e ficar aliviado com a situação.

Mais 30 minutos e volta a médica procurando a família Barreto. Eu me apresentei e ela pediu para que fôssemos para outro local, mais isolado. Fiquei preocupado. Quando sentei ela disse que a Nanade estava bem, que a cirurgia havia sido bem sucedida. Eles tentaram uma laparoscopia normal, com uma incisão pequena no umbigo, mas o ovário estava tão grande que as ferramentas não tinham acesso. Assim, tiveram que fazer uma incisão maior, igual a de uma cesária para poder chegar ao ovário. Ela disse que antes mesmo de chegar ao ovário já começou a pegar pedaços dele que estava se esfacelando. O ovário já estava necrosado e era o causador da dor, então não teve jeito, tiveram que removê-lo inteiro. Eu literalmente fiquei 1 minuto em silêncio. Eu não esperava por isso. Achei que era algo muito mais simples. Eu perguntei pelos bebês e ela disse que não havia tocado no útero, assim ela estava de dedos cruzados para que nada ocorresse. Dedos cruzados? Essa é a resposta que terei? Ela disse que teria que avaliar qual dos dois ovários estavam provendo progesterona para os bebês, se fosse o direito provavelmente o impacto na gravidez seria maior. Porém, não havia o que fazer, só aguardar. Eu estava meio em choque. Como a minha princesa suportou tudo isso? Eu perguntei pelos nenês de novo e ela foi muito seca. “If they are there, they are there. Cross your fingers and hope for the best. Our priority is your wife and you must think like that as well.”. A médica estava olhando pelo lado racional e eu não conseguia acompanhá-la. O emocional estava todo destroçado e querendo tomar a frente das minhas ações. Ela disse que a Nanade ficaria mais uma hora no recovery room e voltaria para o quarto depois.

Enquanto isso na sala de recuperação aparece o bendito supositório. Agora não precisava mais, eles já haviam retirado o causador de problemas. “Sabe o que você fazem com esse supositório?” Pergunta a Nanade! Mas antes que ela completasse a resposta, eles completaram para ela.

Eu voltei para contar as novidades para o Francisco e a Lu que prontamente iniciaram uma oração de agradecimento. Neste momento chegou o meu limite. Eu perdi as forças para reagir. Não sabia o que fazer, não sabia o que esperar, não sabia o que e como dizer para a Nanade tudo aquilo. Meu corpo ficou dormente, eu fiquei pálido. O Francisco e a Lu me deram um abraço tão apertado que me senti em casa. Senti todo o apoio que precisava para poder continuar na luta. Afinal, isso era apenas uma batalha, diga-se de passagem, que havíamos vencido. O futuro indica incerteza, mas isso era bem melhor do que estávamos há 2 horas atrás.

O Francisco me acompanhou até em casa para que eu tomasse um banho e me preparasse para a noite. Cheguei em casa e liguei para os familiares para dizer o que havia acontecido e para deixá-los tranquilos. O que não aconteceu, lógico. Nos dias posteriores todos queriam estar aqui, mas pedimos mais tempo para entendermos o que estava por vir.

Voltando para o hospital eu não sabia como iria econtrar a Nanade. Estava pronto para ficar com ela durante a noite para apoiá-la, mas logo na entrada as enfermeiras já me disseram que não seria possível. Seria melhor eu ir para casa descansar e estar de volta no dia seguinte. Quando entrei no quarto pude ver uma outra figura da Nanade. Ela estava com o sorriso novamente na cara, tinha acabado de sair de uma cirurgia e seu rostinho já estava iluminado novamente. A Lu me disse que não havia comentado nada o que tinha ocorrido, pois queria que eu que desse as notícias. Quando cheguei na cama ela perguntou o que tinha ocorrido. Eu expliquei toda a história, que ela estava bem, que havia passado por algo muito extremo, mas que tudo indicava que tudo estaria bem. A única coisa que não havia certeza, era sobre a continuidade do nosso sonho. Talvez precisássemos postergar um pouquinho nossos objetivos, mas não tinha nada certo. Ela olhou bem fundo no meu olho e disse. Meu amor, não se preocupe, eles estão aqui. Eu senti muita força e a partir daquele segundo eu não me preocupei mais com relação a este assunto.

Fui dormir na casa do Felipe, que prontamente me ofereceu estadia. Sua casa ficava mais perto do hospital do que a minha e como ele também estava sozinho, pois a família está no Brasil, decidi aceitar o convite. Tenho que falar a verdade. Cai numa armadilha. Casa de homem solteiro é um perigo. Chegando lá ele me ofereceu um jantar, se é que hot pockets pode ser considerado assim. Na primeira mordida que dei no negócio, saiu um ar tão quente de dentro que fiquei sem os cílios do olho direito. Para completar o jantar, uma sukita sem gás, que pelo menos não dá gases. Depois de um agradabilíssimo papo, fui dormir no quarto do Joãozinho. O Felipe disse: “cara, eu coloquei dois cobertores para você aqui” se precisar de mais, me avise!”. Putz! Dois cobertores e ainda precisar de mais? Fiquei imaginando que ele era um cara friorento, mas ignorei o aviso de amigo. Comecei a sentir um incômodo durante a noite e achei que era vontade de ir ao banheiro. Levantei e vi que o incômodo era a temperatura. A casa estava tão fria que o xixi empedrou. Eu não conseguia me mover direito e tive que pegar todas as toalhas do banheiro para poder amenizar a situação. Teve uma vantagem incrível. De manhã eu acredito que rejuvenesci uns 3 anos. A câmara criogênita do Felipão realmente funciona. Ele devia cobrar ingresso por esta experiência. Brincadeiras a parte, Felipe. Muito obrigado pelo espaço e pela companhia. Eu realmente estava precisando e não tenho como agradecer. Ainda falando sério.... Fabi, volte logo!

Aliás, não tenho como agradecer à todos aqueles que compartilharam conosco estes momentos difícieis. O domingo (dia seguinte) recebemos mais de 30 pessoas nos visitando e isso ajudou a Nanade na recuperação. Depois de dois dias ela saiu do hospital e fomos nos hospedar na casa do Elias e da Celinha. Na semana seguinte a Lu Breckenfeld ficou em casa para ajudar a Nanade e a partir daí foram mais outras pequenas aventuras que já não temos mais espaço para contar.

Chegamos no dia de fazer a ultrassonagrafia para verificar como estavam os figurinhas. Muitos perguntaram se ficamos emocionados ao ver os corações das criancinhas batendo, mas acho que o sentimento mais forte naquele momento foi o alívio. Sabíamos que eles são tao guerreiros quanto nós. Apesar de toda a turbulência, eles estão lá, se desenvolvendo e se preparando para trazer alegria para nossas vidas. Abaixo tem o vídeo da primeira ultra. Muitos devem ter visto, mas fica aqui para aqueles que ainda não os conhecem. Com vocês.... os bebês.



Antes de acabar eu gostaria de falar umas coisinhas. Mais do que nunca eu dou valor à pessoa que escolhi como minha companheira. Porém, gostaria de estender um agradecimento à minha mãezinha.

Mãe,
acredito que sua influência me levou à escolha instintiva de uma pessoa que externamente parece frágil e insegura, mas que guarda um poder mágico e uma força de viver que motivam a todos que estão ao seu lado. Quem vê de fora não imagina que o alicerce está centrado em sua figura, mas sua leveza em nos guiar muitas vezes esconde o real valor que contém. Longe de querer abdicar desta posição, mas entendendo a importância de ser, mais do que parecer, vive a vida à apoiar nossos desafios e clarear nossos caminhos. Sabemos que podemos contar com esta proteção constantemente, afinal ela está tatuada em nosso interior assim como nossos próprios pensamentos. Você é capaz de estar conosco mesmo quando não pensamos nisso. É inerente, intrínseco, inseparável. Essa é mais uma prova do que falei no início. Durante todo esse processo que passei consegui entender um pouco, ainda que da minha maneira, do que é ser mãe. Vi o apego, a luta, o cuidado, o sofrimento físico e psicológico, a força, o foco, a persistência, a sinceridade com os sentimentos e acima de tudo, o amor necessário para gerar uma criança. Por um motivo muito óbvio, isso tudo não foi novidade, pois ao olhar para trás através de uma perspectiva muito mais madura, pude verificar a história se repetindo. Fico grato por ter me provido esta capacidade, feliz por ter me moldado com estes valores e orgulhoso em poder saber que o amor que sinto pela Nanade foi você que me ensinou a nutrir. A Nanade contém as mesmas características e isso é o primeiro passo para ser a mãe que um dia uma criança terá orgulho de divulgar para todos ouvirem: EU AMO A MINHA MÃE! Que assim seja!

Muito obrigado e todos que nos acompanharam até este ponto. Agora chegamos no dia de hoje e as novidades serão descritas com espaços maiores de tempo.

Antes de fechar, gostaria de compartilhar uma frase que a Lucia disse no dia da nossa primeira ultra com as crianças. Ela foi a pessoa que apoiou a Nanade durante a segunda drenagem e também acompanhou boa parte desta luta. Durante a realização da ultra e após ouvir o restante da história que ela não conhecia, ela disse uma frase que traduz muito bem minha interpretação em relação à minha poderosa princesa.

“You are very brave. After all you have experienced, you can still smile”

domingo, 2 de agosto de 2009

Uma história para se contar (5)

É tempo de recuperação da retirada dos óvulos. É tempo de esperar os dias passarem para recebermos notícias de como os embriões estão se desenvolvendo. É tempo de entender o que esperar das notícias.

A embriologista nos explicou que eles retiram todos os óvulos que estão no ovário, depois disso fazem um teste para entender quais estão maduros, pois apenas estes devem ser fertilizados. Depois do primeiro dia da fertilização o embrião apresentará duas bolinhas em seu interior que são exatamente o material genético do pai e da mãe. No Segundo dia da fertilização não há muito o que ver e no terceiro dia já estariam prontos para serem transferidos de volta. Porém, existem casos onde embriões que estão se desenvolvendo bem até o terceiro dia sofrem problemas para se desenvolverem a partir daí. Então, se existirem óvulos suficientes, eles preferem esperar mais dois dias para ter certeza que estarão transferindo realmente embriões de qualidade. Caso o embrião chegue no quinto dia, a chance de dar algo errado é pequena.

Chega ao dia 3 e o resultado é o seguinte:
- 34 óvulos retirados
- 18 estavam maduros
- 15 foram fertilizados. Os outros 3 serviram para pesquisas.
- 8 chegaram no estágio que poderiam ser transferidos. Assim, como o número era muito bom, esperaríamos mais dois dias.

Neste mesmo dia a Nanade estava sentindo muitas dores na barriga e resolvemos voltar à clínica para ver se estava tudo normal. O médico fez uns exames e disse que estava tudo tranquilo, mas se ela continuasse sentindo aquela dor não seria possível fazer a transferência dois dias depois e isso causaria alguns inconvenientes. Primeiro que as chances de sucesso seriam reduzidas, pois estaríamos transferindo embriões congelados. Segundo que a transferência deixaria de ocorrer na data do aniversário da Nanade e estávamos muito contentes com esta coincidência. Por último, já não aguentávamos mais toda a ansiedade. Queríamos dar logo esse passo. A notícia dada pelo médico foi o melhor remédio. No sábado a Nanade já estava disposta a correr uma maratona. Passou o dia bem e acordamos ansiosos no domingo para saber se tudo correria bem.

Chegamos à clínica no domingo e fizemos os exames para constatar que seria possível fazer a transferência. YESSSSS! Finalmente! Agora será só esperar o resultado. Deveríamos voltar 10 dias depois para fazer o exame de sangue para atestar se o processo havia sido bem sucedido. Ainda no domingo a Nanade começou um coquetel de remédios para dar inveja a qualquer hipocondríaco. Tivemos que fazer uma escala para ter certeza que os horários e condições seriam todos cumpridos. Junto com os remédios foi fornecida uma lista de efeitos colaterais do processo. Como a quantidade de estrógeno estava muito alta, então a possibilidade de ocorrer uma hiperovulação também era alta (mais informações sobre OHSS) http://en.wikipedia.org/wiki/Ovarian_hyperstimulation_syndrome. Em resumo, devido à alta quantidade de droga para estimular o ovário há um inchaço e acúmulo de liquido na barriga. Isso ocorre em cerca de 40% dos casos, porém os efeitos dependem de cada organismo. Em 1% dos casos há uma séria complicação que pode ter consequências drásticas. Assim, levamos para casa uma planilha para que pudéssemos acompanhar a evolução da barriga da Nanade. Caso ela ganhasse mais de um kilo por dia e sua barriga aumentasse mais de 3 cm, então deveríamos correr para o hospital porque os sintomas indicavam que o problema havia se agravado.

Assim esperamos os 10 dias. Na primeira semana a barriga foi aumentando de pouquinho em pouquinho. Porém, nada constante, algumas vezes ela estava bem, outras ela sentia umas dores nas costas. Ligamos para o médico novamente e ele disse que deveríamos relaxar, pois era uma questão de tempo para esses sintomas passarem. Questão de tempo, tudo bem, mas a Nanade começou a dormir sentada no sofá, pois já não conseguia deitar sem que a barriga incomodasse. No sábado teríamos um churrasco da empresa na casa da Diretora. O local do churrasco fica a 120Km de Toronto e a Nanade disse que não queria ir, pois a barriga estava incomodando. Como 2 pessoas da equipe já estavam se ausentando, resolvi ir de qualquer forma. Quando cheguei recebi uma ligação da Nanade dizendo que ela não estava se sentindo bem e que queria que eu votasse o mais rápido possível. Só tive tempo de cumprimentar a todos e dizer que não poderia ficar. Eu estava realmente preocupado e voltei para casa dirigindo feito um louco. Em 40 minutos estava em casa, mas a Nanade havia conseguido dormir e estava mais tranquila. Ligamos para o médico novamente e ele disse para estarmos na clínica na manhã seguinte. A noite foi muito ruim. A Nanade não conseguia dormir, a barriga parecia que ia explodir e os minutos não passavam. Em um dia ela ganhou 2 Kg e a barriga cresceu 7 cm. Estávamos desesperados! Pensamos em ir para um hospital direto, mas já estava amanhecendo e decidimos segurar um pouco para evitar que a Nanade andasse muito.

Ao chegarmos à clínica o médico diagnosticou sem muito esforço. “She is in a hyperstimulation crisis, we need to drain her belly because it is going to be worse before getting better”. Ela fez um exame de sangue para avaliar se estava tudo bem. Preciava fazer uma ultra deveria para confirmar o que o médico havia dito. O médico disse que ainda era cedo para ver se ela estava grávida, mas precisava testar pois isso influenciaria a forma de fazer a drenagem. Ficamos o domingo inteiro dentro da clínica. Lá fora um sol maravilhoso e o churrasco na casa do Paulo e da Cris (gaúchos legítimos) rolando solto. Estávamos loucos para comer o churrasco de fogo de chão, principalmente a costela que havia sido muito bem divulgada por todos os que já experimentaram, mas as circunstâncias nos impediam. Finalmente a Nanade entra para fazer a ultra. Enquanto eu aguardava, a enfermeira veio até mim e perguntou se eu demoraria para ir embora. Eu disse que tudo dependia da Nanade. Ela disse “Ok, I will ask the lab for you results”. Minha perna tremeu na hora. Que resultados? Da gravidez? “Yes, then I don’t need to call you later”. Caramba! Todo o processo passou pela minha mente em 10 segundos. Lutamos, aprendemos, encaramos, caimos, nos reerguemos, nos fortalecemos, encaramos de novo e agora é a hora! Será que estou preparado para receber este resultado? Foi uma mistura de medo e alegria. Ela entrou na sua sala e eu a segui. Ela discou os números, minha cabeça estava à mil, ela começou a falar, eu lembrei de todos os minutos que havia esperado por aquele momento, ela pergunta pelo resultado, começa uma contagem regressiva na minha cabeça (10, 9, 8...), ela balança a cabeça negativamente........bateu um silêncio repentino nomeu interior. Esse sinal inicia um processo de dormencia no meu corpo, por 5 segundos eu pensei que havia a possibilidade de termos que passar tudo de novo. Como eu falaria isso para a Nanade? O estado que ela se encontra não é o melhor para receber uma notícia destas. Pelo menos teríamos ainda mais 3 chances antes de termos que encarar as injeções de novo, mas será que teremos gás? A enfermeira olha para mim com uma cara muito séria, meu peito aperta tanto que eu não conseguia mais puxar o ar, e ela solta a sentença: “two more minutes! They are going to need two more minutes to send it”. Ufaaaaaa. Se eu tivesse com bosta pronta, sairia com certeza!

A agonia ainda não tinha acabado. 2 minutos! Duas voltas no relógio! Eu não consiguirei ficar aqui em pé. Quer saber, vou dar uma volta lá fora, vou dar 5 minutos, não posso ficar nesta agonia. Fiquei repetindo positivo, positivo, positivo, positivo, positivo, positivo, positivo, positivo, sem parar para que toda a energia positiva estivesse bem concentrada. Lá fora eu olhei aquele dia ensolarado, respirei bem fundo e tentei me recompor. Eu precisava estar bem, independente do resultado, pois a Nanade precisaria de mim. Quando consegui lembrar qual era o meu nome e omotivo de estar na clínica, voltei para a sala da enfermeira. Ao chegar, ela estava ao telefone, olhou para mim e apontou para a tela do computador. Havia uma lista de nomes numa planilha com uns números do lado, mas eu fiquei na dúvida do que aquilo significava. Sim! E aí? Isso é bom ou ruim? Ela desligou o telefone e disse “cogratulations, she is pregnant”. WOOOOWWWWWWWWW, uma descarga de energia atravessou meu corpo. Os olhos logicamente encheram de lágrimas e eu só podia pensar o quanto a Nanade ficaria feliz. Nós conseguimos! Eu nunca havia sentido nada parecido. Já vivi muitas emoções, mas posso dizer que aquele momento foi o melhor da minha vida. Respirei muito fundo e o ar serviu como combustível para aumentar a sensação de alegria, ele entrava com pequenas falhas como se fossem fogos de artifício estourando dentro de mim. Eu só pensava na Nanade! Depois de toda a luta o esforço valeu a pena. Mas espera! Será que este é o resultado final? Podemos comemorar? Podemos contar para família e amigos? “Sim, se o nível de HCG estiver acima de 50 no décimo dia já é considerado gravidez”. Excelente, o número que mostrava na tela era 74 e ainda estávamos no sétimo dia.

Depois da explosão de alegria, a enfermeira pediu que eu trouxesse a Nanade para conversar com ela, pois precisava passar algumas recomendações. Eu fiquei tentando imaginar como daria a notícia. Esperaria ela sair ou entraria na sala de ultra e soltaria a novidade? Preferi esperar, mas entrei na sala algum tempo depois, pois o exame estava muito demorado. Assim que entrei a Nanade já me questionou e eu fiquei calado. Percebi que seu semblante ficou triste e eu não quis fazer aquele teatro de ficar sério como se estivesse dado errado e depois fazer a “surpresa”. Ela já havia sofrido muito e não caberia este tipo de brincadeira naquele momento. Eu sussurrei a partir da porta: você tá grávida! “Que?”. Deu tudo certo, você está grávida! Ela começou a chorar copiosamente ainda deitada. Em 1 minuto a técnica acabou a ultra e deixou a sala. A Nanade me abraçou em prantos dizendo: “Nós conseguimos!”. Quanto mais forte nos abraçávamos mais sentíamos um peso enorme se esvair de nossos corpos. Parecia que estávamos nos purificando, estávamos nos transformando cada vez mais em uma verdadeira família. Eu olhei diretamente em seus olhos e conseguia ver uma só resposta: “Valeu a pena!Tudo valeu a pena”. Nós não conseguíamos falar nada, mas, como de costume, não era preciso. Passamos 5 minutos, eu acho, abraçados sentindo apenas nossa respiração e soluços. Não ouvíamos nada. Era como se o tempo tivesse parado naquele instante para que pudéssemos isufruir daquele sentimento. Com certeza, aquele foi o melhor momento da minha vida. Aliás, acho que irei repetir muito essa sentença daqui para frente. Os recordes de melhores momentos da vida estão mais fáceis de serem quebrados agora e espero que sejam batidos com bastante constância.

Depois de ouvir as recomendações da enfermeria saímos da clínica dispostos a irmos para o churrascão dar as notícias fresquinhas, mas ainda no caminho a Nanade voltou a sentir dores e precisamos ir para casa. A alegria da notícia havia mascarado os sintomas, mas quando o sangue esfriava a dor voltava. O churrasco teria que ficar para outro dia.

Como a notícia era oficial, mas os médicos disseram que era melhor esperar até o décimo dia, resolvemos não divulgar abertamente para todos. Porém, não conseguimos nos conter em relação à família. Chegando em casa, ligamos para nossos pais e irmãos para contar as novidades e pudemos viver outros grandes momentos. Todos sabiam de nossa luta e de quanto queríamos chegar neste ponto e a ansiedade também era grande do lado deles. Como é bom dar notícias boas como essas.

A noite foi sofrida novamente, muita pressão na barriga, dores, tentativa de dormir sentada, incômodo. Dia seguinte voltamos para a clínica para fazer a drenagem. A Nanade entrou na sala sozinha e realizou o início do procedimento. Depois o médico saiu e disse que estava tudo bem, eu poderia entrar para acompanhá-la. Quando entrei vi uma cena bem forte. A Nanade estava deitada de lado com uma cânula respeitável saindo da barriga e um líquido escuro fluindo muito rápido. Ela parecia uma máquina de cola cola em festa de criança. Quando disse isso para ela, a enfermeira disse “I give you 1 dolar if you drink this coke”. To fora! Eu ainda estava assustado com a cena. Porém pude ficar mais aliviado por ver o semblante da Nanade, ela estava bem tranquila e até rindo. Ela falou que a dor estava saindo junto com o líquido e finalmente, depois de 5 dias, ela podia dizer que estava relaxada. Perguntei como aquela cânula foi parar na sua barriga e ela ficou séria novamente. “Nem me fale, eu quase morri de dor, ela enfia aquela agulha ali sem anestesia nenhuma”. Quando olhei para onde ela estava apontando vi uma agulha grande e grossa, parecida com um espeto de churrasco (huuuuummmm fogo de chão). A enfermeira disse que tinha anestesis sim, mas que servia apenas na parte externa. Para quem não sabe o procedimento de drenagem funcionam assim: eles mapeiam com a ultra onde estão as bolhas de líquidos, depois inserem essas agulhas na barriga até atingirem os locais definidos para que as cânulas consigam sugar o que tem dentro. Resultado final: retiraram 2.7L de líquido e disseram que não poderia tirar mais, pois este líquido é uma fonte de sais minerais e “num sei mais o que”. Assim, a Nanade ficou muito fraca, mas bem aliviada durante dois dias. Perguntamos se este quadro poderia voltar a ocorrer, os médicos disseram que normalmente não, mas que era preciso continuar a monitoração.

Dois dias voltamos na clínica para fazer o exame definitivo e o resultado foi o melhor possível. O nível de HCG estava 340, o que significava que estava numa faixa que poderia indicar que existiam duas vidinhas na barriga da Nanade. Porém , precisaríamos fazer uma ultra na 7ª semana para comprovarmos se isto era verdade. Neste dia percebemos que a barriga da Nanade estava voltando a crescer e estávamos preocupados. A enfermeira nos disse que ligaria para o médico e nos daria uma posição sobre o que deveríamos fazer. No meio do dia ela nos ligou dizendo que deveríamos nos dirigir a um hospital em Brampton para que a Nanade tomasse um remédio à base de plasma, pois isso ajudaria na absorção do liquido e evitaria uma nova drenagem. A Nanade estava desesperada só em pensar na possibilidade de ter que passar por isso novamente e nos despencamos para o hospital na cidade vizinha.

Chegando ao hospital ocorreu uma situação engraçada. Estávamos aguardando o remédio ser ministrado (demorava em torno de 2 horas) e de repente uma voz no alto falante dizendo “Code Pink, Code Pink! First Floor. Code Pink!”. Ficamos curiosos e perguntamos à enfermeira o que aquilo significava. Ela foi bem seca na resposta “It’s a child”. Eu e a Nanade comemoramos “eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee”. A enfermeira ficou com uma cara bem séria e disse “It is nothing we want to see. A child distress is something really serious”. Oooops! Achávamos que era o nascimento de uma criança. Ficamos com a cara no chão e pedimos mil desculpas para a enfermeira. Ela disse que não tinha problema, pois sabia que nós não sabiamos o que estávamos comemorando. Ficou por isso mesmo, mas não conseguíamos mais olhar para a senhora que estava nos ajudando. No final de tudo, saímos rapidinho para evitar encontrar com ela novamente.

No dia seguinte voltamos à clínica para avaliar se seria necessário passar por mais uma drenagem. A Nanade se tremia de medo só imaginando o processo, mas as coisas estavam melhores. Parecia que o remédio havia dado resultado e as dores haviam diminuido bastante. Ela conseguiu dormir bem e o médico confirmou que poderíamos esperar mais para ver se a regressão seria definitiva. Ok! Então vamos esperar. A Nanade saiu aliviada da clínica e voltei para o trabalho para continuar na batalha. Resolvi tirar a semana seguinte de férias para poder acompanhar mais de perto.

Ainda tem muita história e mais uma vez teremos que deixar para o próximo post. Para fechar este post quero deixar um pedido: Paulo e Cris, por favor não nos neguem um churrasco, caso contrário nossos filhos nascerão com cara de fogo de chão. Eu não quero nem imaginar como seria.

CHURRASCO DE FOGO DE CHÃO, PLEEEEEEEEEEEEEEEEEASE.