terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Laurinha na passarela

Pessoal, conseguimos filmar o primeiro desfile da Laurinha. Editamos um vídeo com os melhores momentos.

O Tom fica numa posição menos favorecida, mas faremos um vídeo com ele também.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Visita Ilustre

A Aliane veio....



...e foi!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Com vocês... os Bebês!!!!!!!!!!!!!

Iremos colocar as fotos, pois os avós estão ansiosos para ver. Tenho certeza que vocês não irão entender os borrões, mas já conhecemos cada voltinha da foto.

Uma dica: tratem a foto como aqueles desenhos tridimensionais. Coloquem o nariz à 1 cm da tela e vá afastando aos poucos. Quem sabe assim vocês conseguem identificar algo.

Outra notícia importante. Agora eles têm nomes (99% decidido). Assim, seguem as fotos e os nomes.

Ser pai é...(2)

... entender logo no começo que intuição masculina é uma coisa que pode ser deixada em segundo plano

Mistério resolvido

Finalmente resolvemos o mistério do KinderOvo. Nada mais de surpresa, nada mais de comprar presentes brancos, nada mais de dúvidas sobre bonecas ou carrinhos. Agora é certo. Depois de muita luta para obter a informação podemos enfim escolher nomes, cores de quarto, temas e tantas outras variáveis dependentes desta informação.

Estamos aqui para divulgar e compartilhar a nossa felicidade. As nossas jóias são...

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Intuição feminina ou pressentimento de mãe?

Faz muito tempo desde que escrevi meu primeiro e último post, hahahahah...
Porém, um momento tão especial como este que estamos vivendo me fez ter vontade de me aventurar e dar meu palpite de “mom to be”.

Antes, quero muito agradecer a todos pelo carinho, pela torcida, pelos comentários tão encorajadores e tão confortantes, que nos fazem sentir, ainda que não conheçamos pessoalmente alguns de vocês, acolhidos por pessoas que independente de qualquer coisa, torcem pelas outras. Vocês se tornaram parte de nossas histórias, como leitores assíduos que riem, que choram e que acima de tudo torcem para que o Luciano poste logo um nova história, ou para que tudo dê certo.

Apesar de preferir “os bastidores”seja revisando os posts ou compartilhando com o Lu a alegria de cada comentário, estou participando de tudo e muito feliz por tudo o que vocês dão em troca pelo simples e delicioso fato de apenas dividirmos um pouco de nossa história com vocês!

Nós três estamos muito bem. Estou a cada dia melhor apesar de continuar com os melhores enjoos e quedas de pressão da minha vida. Já chegamos aos três meses e os bebês a cada dia estão mais comilões e consequentemente, a mamãe que vos fala, também...heheheheh...

Todo mundo me pergunta se tenho algum palpite do sexo dos bebês. Até hoje não tinha, mas me peguei pesquisando algumas lojas para começarmos nosso tour de compras, e me flagrei olhando tudo para menina e passando batido nos itens de meninos. Aí, me dei conta de que inconscientemente talvez seja minha intuição dizendo que teremos pelo menos uma bonequinha a caminho. Será que o jardim vai aumentar? Luciano continua achando que são dois menininhos. E agora? Quem será que vai acertar?

O bolão já começou, façam suas apostas!

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Chuva de verão

Pessoal,
post rapidinho só para mostrar o resultado de uma semana bem quente em Toronto. Desde sábado passado está um calor de rachar coco por aqui. Média de 35 graus. O pessoal que chegou aqui agora acha que este negócio de frio é balela, invenção para que as pessoas não se mudem para cá. Porém, depois de quase uma semana de calor intenso, vejam o que aconteceu hoje.

Atenção especial que no primeiro vídeo não é possível ver os prédio que ficam bem ao fundo (na Bayview).

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Intuição masculina

Vou deixar registrado para depois não falarem que não avisei. Passei a semana inteira com o pressentimento que teremos dois filhos homens. Quero deixar claro que isso não é um desejo e sim intuição.

Todos perguntam o que queremos e na verdade não há preferência. Se forem dois homens, tentaremos mais 3 para fazer um time de basquete. Se for um casal, o nosso filhote se dará muito bem com as amiguinhas da filha. Se forem duas menininhas terei o prazer de montar um jardim com muitas flores para cuidar. Resumindo, desde que não venha um filhote de cachorro e um toco de cigarro, o resto tá valendo.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Uma história para se contar (6)

Continuando esta história que está mais longa do que imaginávamos. Acredito que conseguirei fechar com este post. Tenham calma.

Na quinta feira, após decidirmos não fazer uma nova drenagem, voltamos para casa e me dirigi ao trabalho. Durante o dia a Nanade relatou que a barriga havia crescido um pouco, mas nada que precisasse de uma ação mais drástica. Quando voltei do trabalho não havia mudado muito, mas a barriga voltou a crescer de noite e a Nanade teve que dormir sentada novamente. Na sexta feira ela acordou bem, mas durante o dia voltou a piorar. Assim, não houve jeito, tivemos que ligar para a clínica e eles nos disseram que teria que fazer uma nova drenagem no dia seguinte, pois já haviam fechado naquele dia.

Durante a noite a barriga da Nanade chegou ao maior nível que já havíamos visto. Mais uma vez ela cresceu 4 cm em pouquíssimo tempo. Ficamos em dúvida se ela aguentaria até o dia seguinte. Tentamos dormir (eu no quarto e ela sentada na sala), mas ela acordou às 2:30 com muitas dores. Tentamos esperar até às 7:00 da manhã para irmos direto para a clínica, mas não foi possível, as dores estavam muito fortes e ela mal conseguia respirar. Corremos para o mesmo hospital em Brampton às 3:30h da manhã para tentarmos controlar os sintomas. Ao chegarmos ao hospital fomos direto à recepção e o rapaz perguntou: “is she pregnant?”. Sim, 4 semanas de gravidez. “You mean.... 4 months, right?”. Não não, 4 semanas, por isso que estamos aqui. Ele nos direcionou para sermos atendidos e começou aquela espera. Pedimos para o hospital entrar em contato com o médico, mas eles disseram que não poderiam, a não ser que fosse um caso extremo. Bom, nós acreditávamos que era um caso extremo, por isso havíamos ido para o hospital, caso contrário esperaríamos até às 7:00h para nos deslocarmos diretamente à clínica. Ela disse que já tinham visto casos piores, onde a pessoa havia praticamente parado de respirar e por isso o médico foi chamado. Isso realmente não era uma informação que gostaríamos de ouvir. Será que precisaríamos chegar neste ponto para que pudéssemos ser atendidos de maneira apropriada? Felizmente o crescimento da barriga havia estabilizado, mas a Nanade continuava com dor. Outra coisa que nos incomodava é que as dores também vinham em “ondas” como se fossem contrações. Isso era a última coisa que precisávamos naquele momento. Quando chegou às 5 da manhã a enfermeira falou que seria melhor irmos para casa e depois para a clínica direto, pois lá no hospital acabaríamos esperando mais do que isso para sermos atendidos. Isso é um absurdo! A Nanade estava sentindo muita dor e nosso medo é que a falta de ar fosse algo mais sério. Decidimos ficar no hospital mesmo até às 6:30, pois se algo mais sério ocorresse estaríamos no local certo. Eu não saberia o que fazer, então voltar para casa estava fora de cogitação. Sem contar que Brampton é beeeeem longe.

Chegamos à clínica às 7:00h e os exames constataram que realmente precisaria de uma outra drenagem. De uma hora para outra esta alternativa era a mais aguardada pela Nanade, pois as dores noturnas eram piores do que virar espetinho.

Apesar de estar muito disposta a encarar a drenagem, a Nanade estava nervosa. Dentro da sala de procedimento o médico perguntou se estava preparada para começar e ela abriu o bocão a chorar. A pessoa responsável pela ultra, uma Romena chamada Lucia, fez as vias de ombro amigo. Ela segurou a mão da Nanade enquanto o a agulha buscava as bolhas de fluidos em sua barriga. Quando entrei na sala a máquina de coca cola estava bem fraquinha, quase não saia líquido, o que me deixou curioso. Da outra vez a barriga não estava nem tão inchada assim e o líquido jorrava abundantemente, por que está saindo pouquinho agora? A enfermeira disse que a barriga estava inchada não somente por causa do líquido, mas também devido ao tamanho dos ovários da Nanade. 30 minutos e 1.5 litros depois fomos para casa com três outros agendamentos. Voltaríamos no dia seguinte para ver a evolução, na segunda feira a Nanade tomaria outra dose de plasma na veia e na quarta feira estaríamos lá novamente para avaliar o quadro geral. Nossas planejadas férias em Niagara acabavam de ir por água abaixo, mas era por um motivo nobre. O médico disse que dificilmente voltaria a acontecer. Tomara, pois já estávamos ficando com medo de final de semana. Lembro que tive que dirigir o carro à 20Km/h até em casa, pois qualquer buraco na pista fazia a Nanade se contoncer com o incômodo.

Assim seguimos! Fizemos tudo que havia sido marcado e finalmente na quarta feira veio a notícia que esperávamos. A Nanade havia saído do quadro de hiperovulação. De fato a sua barriga já estava diminuindo e as dores já não incomodavam. Precisaríamos voltar no sábado para fazer uma ultra para avaliar o tamanho dos ovários, mas isso era apenas para garantir que nada mais ocorreria. Chega de finais de semanas conturbados! Segundo o médico podíamos ficar tranquilos que o pior havia passado. Comemoramos junto com o pessoal na reunião de sexta e divulgamos que as turbulências haviam passado. Agora era aproveita a gravidez.

Porém.......... esse porém é bem grande. Não sabíamos que ainda estávamos para passar pelo pior momento.

Acordo no sábado de manhã com a Nanade me chamando na sala. “Dor, amor! Dor, muita dor!” Calma! Dor onde? “Dor! Dor! Dor!”. Vi que ela não tinha condição de falar então comecei a me arrumar para ir para a clínica. Em 3 minutos estava pronto e tentei levar a Nanade escada abaixo. Cada degrau era um suplício e resolvi pegá-la no colo para acelerar a locomoção. Tivemos sorte que um dos vizinhos ouviu os gritos e veio nos ajudar. Ele saia abrindo as portas à nossa frente enquanto eu a carregava e ficou com a Nanade na porta do prédio enquanto fui buscar o carro. Já no carro a caminho da clínica eu tentei entender o que ela estava sentindo, mas não tinha jeito. Ela estava em transe concentrada no que a incomodava. Mais uma vez as dores vinham em ondas, mas a força era estupidamente superior ao que havíamos presenciado na semana anterior. Eu pensava comigo: não é possível! O médico disse que isso não voltaria a acontecer! A barriga não inchou, ela não ganhou peso, nada parecia ao que havíamos vivido. Porém isso era um ponto negativo. A Nanade ficava repetindo: “amor, não quero perder nosso filho! Me ajude!”. Eu ajudava como podia, dirigia o mais rápido possível para a clínica enquanto deixava minha mão espalmada sobre a barriga dela e repetia sempre “fique, fique, fique”. Eram as únicas coisas que eu podia fazer. As dores voltavam cada vez piores. A clínica parecia mais longe do que nunca. Quase não havia carro na rua, pois era um sábado às 10 da manhã e mesmo assim parecia que nunca chegava. “Amor, eu não quer perder nosso filho”. Só de lembrar me dá um nó na garganta.

Chegamos à clínica e enquanto ela ficou no carro eu corri para arrumar uma sala para ela ser avaliada. Cheguei muito cansado e nervoso e a recepcionista percebeu que era algo sério. “There is no room available at this moment. Could she wait for a while?”. Não! Não pode! Ela está passando muito mal e preciso que ela seja atendida agora. Corri no carro para buscá-la e assim que cheguei lá a mulher já apareceu dizendo o quarto que deveríamos ir. Levei a Nanade no colo até o quarto e cheguei lá quase desmaiando. Durante os exames o médico falou que não era aborto, o que me deixou bem aliviado, mas ao mesmo tempo não sabia o que esperar. Ele disse que isso ovário torcido (http://en.wikipedia.org/wiki/Ovarian_torsion) e que devíamos correr para o hospital, pois isso causaria muita dor até que ela voltasse ao normal. Ele entrou em contato com o hospital, nos deu um “referral” que iria nos fazer pular toda a fase de análise do problema e nos fez sair correndo. Chegamos ao hospital e começou a guerra. Deixei a Nanade no carro e fui pegar uma maca ou algo do tipo. Ele falaram que antes eu teria que entrar na fila normal para triagem. Veja bem, eu tenho esta indicação dizendo qual é o problema e o que precisa ser feito. Minha esposa está com muitas dores e grávida. Eu realmente estou preocupado que essa espera cause algum problema maior. “Sir, you need to be on the line for the triage”. Ok, o que não tem solução, solucionado está. Entrei na fila e ela falou que eu tinha que buscar a paciente. Eu acho que você não entendeu, minha mulher está berrando de dor no carro, se eu a trouxer aqui vai causar uma grande bagunça. “Sir, you need to bring the patient here”. Eu a busquei e ela já chegou vomitando, para mostrar que o caso era sério. Rapidinho passamos na frente da triagem e nos enviaram para a sala de emergência. “Dor! Dor! Amor, faz parar!”. Pedi quase de joelhos que a enfermeira fizesse algo e ela disse que precisaria de uma palavra da médica. Ok! Mas onde está essa médica? Não é possível deixarem uma pessoa neste estado numa maca gritando de dor enquanto aguarda algo. 10 minutos de sofrimento depois volta a mulher com uma injeção de morfina. Enquanto isso veio uma pessoa me dizer que eu precisava tirar o meu carro da vaga da emergência e também ir lá fora assinar um “num sei o que”. Eu precisava de apoio e liguei para a Jack. Em 15 minutos ja tinha um exército lá fora para apoiar no que eu precisasse. Jack, Flávio, Dona Van, Francisco e Lu estavam no saguão esperando.

Antes do pessoal chegar, fomos direcionados à sala de ultra. A Nanade estava apagada, pois depois da injeção ela ficava completamente nocauteada. Quando estávamos na sala de ultra tivemos uma boa surpresa. A mulher mostrou que o bebe ainda estava lá. Este foi o primeiro alívio. Eu disse que havíamos passado por um processo de fertilização e que havíamos transferido 2 embriões. Ela mexeu o aparelho e deu outra excelente notícia. “You are right. There are two little babies in there”. Tentei passar isso para a Nanade para ver se ela melhorava, mas não tinha jeito. O efeito da morfina começava a passar e o tsunami de dor vinha se formando.

Pedi que a Jack ficasse com a Nanade enquanto resolvia a burocracia e retirava o carro. Fiquei lá fora com o pessoal e comi algo, pois a esta altura já eram 2 da tarde. Quando voltei, a médica estava lá para explicar o que seria feito. Ela disse que provavelmente era ovário torcido e que teriam que fazer uma laparoscopia para avaliar melhor. Depois disso havia 3 opções: fazer uma nova drenagem (caso não fosse ovário revirado), desvirar o ovário ou remover o ovário (caso o ovário já tivesse necrosado). Porém, este terceiro é somente em último caso. A previsão para entrar na sala de cirurgia era de 2 horas. Perguntei como faríamos até lá, pois o efeito da morfina durava duas horas e já estava acabando e não havia condições de deixá-la sofrendo daquele jeito. A médica disse que injetaria uma nova dose de morfina e também prescreveria um supositório contra dor, que não permitira que a dor chegasse a níveis altos. Ok! Foi ministrada a outra dose de morfina e ficamos esperando o outro remédio. Nada! Cadê o outro remédio? “We have purchased it and they are going to deliver it in a minute”. Esse papinho durou a tarde inteira. 4 da tarde, nada de morfina, nada de supusitório, nada de sala de cirurgia e a Nanade volta ao estado crítico. Ela já não tinha lágrimas, não sei como suportou tanto. Fiquei brigando com uma enfermeira lutadora de sumô e já estava quase saindo no tapa com a mulher quando apareceu um anjo e nos ofereceu para sermos transferidos para um quarto semi privado.

Ao chegarmos lá em cima começou a guerra novamente. Mais morfina, por favor? Cadê o supositório? Cadê os médicos? Que horas será a cirugia? Nenhuma dessas perguntas eram respondidas de forma satisfatória e eu já não tinha estômago para suportar o sofrimento da Nanade. Eu via que ela se esforçava para lutar, mas a dor estava vencendo. Ela já havia dito com todas as palavras que seu limite havia passado e que não aguentava mais. Porém, o que eu poderia fazer? Ainda bem que a Jack e a Dona Van estavam por lá. Elas ficavam com a Nanade enquanto me recuperava lá fora em um bate papo com o Flávio. O nível de angustia já havia chegado ao máximo. Para que precisávamos passar por tudo aquilo? Logo agora que achávamos que tudo havia terminado e as coisas fluiriam no curso normal da natureza... De tanto enchermos o saco das enfermeiras elas conseguiram contactar a médica e ministrar mais morfina, porém desta vez não foi uma injeção, era através do soro que ela estava recebendo. Assim, a dor não passava, mas também não chegava a um nível crítico. A Nanade ficava dormindo e fazendo caretas. De vez em quando soltava um gemido e reclamava, mas era algo bem mais suportável. O Flávio, a Jack e a Dona Van precisavam ir embora, pois haviam saído às pressas de casa. Pouco antes disso chegou a médica para “avaliar se realmente era preciso fazer a cirurgia”. Isso é sério? Somos nós que escolhemos? Se sim, leve-a para a sala de cirurgia agora, pois passou a tarde inteira sofrendo. Não existe, na minha visão leiga, outra coisa que possa ser feita. Eu passei a ficar muito preocupado com a possibilidade de ter que passar a noite inteira em “observação”. Para quem estava ali do lado era claro que o que tinha que ser observado, já havia sido. A médica fez uma última avaliação e disse que iria preparar a sala de cirurgia. Alívio finalmente! 45 minutos depois volta a enfermeira e pede para a Nanade ir para a maca. Com dificuldade ela se locomove até a maca e aguarda ser levada. Neste instante chegam o Francisco e a Lu para nos dar aquela força final. Na porta do centro cirúrgico eu me despeço com a certeza que eles irão desvirar o ovário e ela sairá do outro lado novinha em folha.

Na sala de cirurgia um médico faz as últimas perguntas para a Nanade, que volta a sentir dores muito fortes. Quando ele estava quase saindo ela arruma força e diz: “eu estou grávida”. Ele volta para a maca e repete: “you are pregnant! Nobody told me! Are you aware of the risks?”. Ela disse que não quis nem ouvir o que ele tinha para dizer, mas ela já sabia o que era. Talvez este momento de lucidez tenha servido para ela compartilhar esta imporante variável. Os riscos e consequências estavam fora de suas mãos, que aliás, estavam de volta para tentar resistir à dor insuportável.

Lá fora eu aguardava com tranquilidade. Eu sabia que estava tudo resolvido a partir daquele momento. Além disso, o Francisco e a Lu me davam o apoio antes provido pela Jack, Flávio e Dona Van. Eu não poderia estar melhor assessorado. 15 minutos, 30, 45 e nada. Começo a ficar nervoso e de repente uma voz no alto falante diz : “Code blue, code blue! Operation room Second floor! Code blue”. O que é isso? De repente um monte de médicos saem correndo de todos os buracos do hospital. Meu coração acelerou a mil. O que é cold blue? Onde essa galera tá indo? Aquela foi a primeira vez que senti a seriedade da situação. A única coisa que me deixou mais calmo é que os médicos saiam de onde a Nanade estava e corriam na direção oposta. Fui atrás para ver o que era e pude perceber que code blue é parada cardíaca e uma vovózinha estava precisando de auxílio. Eu tive que ser egoísta neste momento e ficar aliviado com a situação.

Mais 30 minutos e volta a médica procurando a família Barreto. Eu me apresentei e ela pediu para que fôssemos para outro local, mais isolado. Fiquei preocupado. Quando sentei ela disse que a Nanade estava bem, que a cirurgia havia sido bem sucedida. Eles tentaram uma laparoscopia normal, com uma incisão pequena no umbigo, mas o ovário estava tão grande que as ferramentas não tinham acesso. Assim, tiveram que fazer uma incisão maior, igual a de uma cesária para poder chegar ao ovário. Ela disse que antes mesmo de chegar ao ovário já começou a pegar pedaços dele que estava se esfacelando. O ovário já estava necrosado e era o causador da dor, então não teve jeito, tiveram que removê-lo inteiro. Eu literalmente fiquei 1 minuto em silêncio. Eu não esperava por isso. Achei que era algo muito mais simples. Eu perguntei pelos bebês e ela disse que não havia tocado no útero, assim ela estava de dedos cruzados para que nada ocorresse. Dedos cruzados? Essa é a resposta que terei? Ela disse que teria que avaliar qual dos dois ovários estavam provendo progesterona para os bebês, se fosse o direito provavelmente o impacto na gravidez seria maior. Porém, não havia o que fazer, só aguardar. Eu estava meio em choque. Como a minha princesa suportou tudo isso? Eu perguntei pelos nenês de novo e ela foi muito seca. “If they are there, they are there. Cross your fingers and hope for the best. Our priority is your wife and you must think like that as well.”. A médica estava olhando pelo lado racional e eu não conseguia acompanhá-la. O emocional estava todo destroçado e querendo tomar a frente das minhas ações. Ela disse que a Nanade ficaria mais uma hora no recovery room e voltaria para o quarto depois.

Enquanto isso na sala de recuperação aparece o bendito supositório. Agora não precisava mais, eles já haviam retirado o causador de problemas. “Sabe o que você fazem com esse supositório?” Pergunta a Nanade! Mas antes que ela completasse a resposta, eles completaram para ela.

Eu voltei para contar as novidades para o Francisco e a Lu que prontamente iniciaram uma oração de agradecimento. Neste momento chegou o meu limite. Eu perdi as forças para reagir. Não sabia o que fazer, não sabia o que esperar, não sabia o que e como dizer para a Nanade tudo aquilo. Meu corpo ficou dormente, eu fiquei pálido. O Francisco e a Lu me deram um abraço tão apertado que me senti em casa. Senti todo o apoio que precisava para poder continuar na luta. Afinal, isso era apenas uma batalha, diga-se de passagem, que havíamos vencido. O futuro indica incerteza, mas isso era bem melhor do que estávamos há 2 horas atrás.

O Francisco me acompanhou até em casa para que eu tomasse um banho e me preparasse para a noite. Cheguei em casa e liguei para os familiares para dizer o que havia acontecido e para deixá-los tranquilos. O que não aconteceu, lógico. Nos dias posteriores todos queriam estar aqui, mas pedimos mais tempo para entendermos o que estava por vir.

Voltando para o hospital eu não sabia como iria econtrar a Nanade. Estava pronto para ficar com ela durante a noite para apoiá-la, mas logo na entrada as enfermeiras já me disseram que não seria possível. Seria melhor eu ir para casa descansar e estar de volta no dia seguinte. Quando entrei no quarto pude ver uma outra figura da Nanade. Ela estava com o sorriso novamente na cara, tinha acabado de sair de uma cirurgia e seu rostinho já estava iluminado novamente. A Lu me disse que não havia comentado nada o que tinha ocorrido, pois queria que eu que desse as notícias. Quando cheguei na cama ela perguntou o que tinha ocorrido. Eu expliquei toda a história, que ela estava bem, que havia passado por algo muito extremo, mas que tudo indicava que tudo estaria bem. A única coisa que não havia certeza, era sobre a continuidade do nosso sonho. Talvez precisássemos postergar um pouquinho nossos objetivos, mas não tinha nada certo. Ela olhou bem fundo no meu olho e disse. Meu amor, não se preocupe, eles estão aqui. Eu senti muita força e a partir daquele segundo eu não me preocupei mais com relação a este assunto.

Fui dormir na casa do Felipe, que prontamente me ofereceu estadia. Sua casa ficava mais perto do hospital do que a minha e como ele também estava sozinho, pois a família está no Brasil, decidi aceitar o convite. Tenho que falar a verdade. Cai numa armadilha. Casa de homem solteiro é um perigo. Chegando lá ele me ofereceu um jantar, se é que hot pockets pode ser considerado assim. Na primeira mordida que dei no negócio, saiu um ar tão quente de dentro que fiquei sem os cílios do olho direito. Para completar o jantar, uma sukita sem gás, que pelo menos não dá gases. Depois de um agradabilíssimo papo, fui dormir no quarto do Joãozinho. O Felipe disse: “cara, eu coloquei dois cobertores para você aqui” se precisar de mais, me avise!”. Putz! Dois cobertores e ainda precisar de mais? Fiquei imaginando que ele era um cara friorento, mas ignorei o aviso de amigo. Comecei a sentir um incômodo durante a noite e achei que era vontade de ir ao banheiro. Levantei e vi que o incômodo era a temperatura. A casa estava tão fria que o xixi empedrou. Eu não conseguia me mover direito e tive que pegar todas as toalhas do banheiro para poder amenizar a situação. Teve uma vantagem incrível. De manhã eu acredito que rejuvenesci uns 3 anos. A câmara criogênita do Felipão realmente funciona. Ele devia cobrar ingresso por esta experiência. Brincadeiras a parte, Felipe. Muito obrigado pelo espaço e pela companhia. Eu realmente estava precisando e não tenho como agradecer. Ainda falando sério.... Fabi, volte logo!

Aliás, não tenho como agradecer à todos aqueles que compartilharam conosco estes momentos difícieis. O domingo (dia seguinte) recebemos mais de 30 pessoas nos visitando e isso ajudou a Nanade na recuperação. Depois de dois dias ela saiu do hospital e fomos nos hospedar na casa do Elias e da Celinha. Na semana seguinte a Lu Breckenfeld ficou em casa para ajudar a Nanade e a partir daí foram mais outras pequenas aventuras que já não temos mais espaço para contar.

Chegamos no dia de fazer a ultrassonagrafia para verificar como estavam os figurinhas. Muitos perguntaram se ficamos emocionados ao ver os corações das criancinhas batendo, mas acho que o sentimento mais forte naquele momento foi o alívio. Sabíamos que eles são tao guerreiros quanto nós. Apesar de toda a turbulência, eles estão lá, se desenvolvendo e se preparando para trazer alegria para nossas vidas. Abaixo tem o vídeo da primeira ultra. Muitos devem ter visto, mas fica aqui para aqueles que ainda não os conhecem. Com vocês.... os bebês.



Antes de acabar eu gostaria de falar umas coisinhas. Mais do que nunca eu dou valor à pessoa que escolhi como minha companheira. Porém, gostaria de estender um agradecimento à minha mãezinha.

Mãe,
acredito que sua influência me levou à escolha instintiva de uma pessoa que externamente parece frágil e insegura, mas que guarda um poder mágico e uma força de viver que motivam a todos que estão ao seu lado. Quem vê de fora não imagina que o alicerce está centrado em sua figura, mas sua leveza em nos guiar muitas vezes esconde o real valor que contém. Longe de querer abdicar desta posição, mas entendendo a importância de ser, mais do que parecer, vive a vida à apoiar nossos desafios e clarear nossos caminhos. Sabemos que podemos contar com esta proteção constantemente, afinal ela está tatuada em nosso interior assim como nossos próprios pensamentos. Você é capaz de estar conosco mesmo quando não pensamos nisso. É inerente, intrínseco, inseparável. Essa é mais uma prova do que falei no início. Durante todo esse processo que passei consegui entender um pouco, ainda que da minha maneira, do que é ser mãe. Vi o apego, a luta, o cuidado, o sofrimento físico e psicológico, a força, o foco, a persistência, a sinceridade com os sentimentos e acima de tudo, o amor necessário para gerar uma criança. Por um motivo muito óbvio, isso tudo não foi novidade, pois ao olhar para trás através de uma perspectiva muito mais madura, pude verificar a história se repetindo. Fico grato por ter me provido esta capacidade, feliz por ter me moldado com estes valores e orgulhoso em poder saber que o amor que sinto pela Nanade foi você que me ensinou a nutrir. A Nanade contém as mesmas características e isso é o primeiro passo para ser a mãe que um dia uma criança terá orgulho de divulgar para todos ouvirem: EU AMO A MINHA MÃE! Que assim seja!

Muito obrigado e todos que nos acompanharam até este ponto. Agora chegamos no dia de hoje e as novidades serão descritas com espaços maiores de tempo.

Antes de fechar, gostaria de compartilhar uma frase que a Lucia disse no dia da nossa primeira ultra com as crianças. Ela foi a pessoa que apoiou a Nanade durante a segunda drenagem e também acompanhou boa parte desta luta. Durante a realização da ultra e após ouvir o restante da história que ela não conhecia, ela disse uma frase que traduz muito bem minha interpretação em relação à minha poderosa princesa.

“You are very brave. After all you have experienced, you can still smile”

domingo, 2 de agosto de 2009

Uma história para se contar (5)

É tempo de recuperação da retirada dos óvulos. É tempo de esperar os dias passarem para recebermos notícias de como os embriões estão se desenvolvendo. É tempo de entender o que esperar das notícias.

A embriologista nos explicou que eles retiram todos os óvulos que estão no ovário, depois disso fazem um teste para entender quais estão maduros, pois apenas estes devem ser fertilizados. Depois do primeiro dia da fertilização o embrião apresentará duas bolinhas em seu interior que são exatamente o material genético do pai e da mãe. No Segundo dia da fertilização não há muito o que ver e no terceiro dia já estariam prontos para serem transferidos de volta. Porém, existem casos onde embriões que estão se desenvolvendo bem até o terceiro dia sofrem problemas para se desenvolverem a partir daí. Então, se existirem óvulos suficientes, eles preferem esperar mais dois dias para ter certeza que estarão transferindo realmente embriões de qualidade. Caso o embrião chegue no quinto dia, a chance de dar algo errado é pequena.

Chega ao dia 3 e o resultado é o seguinte:
- 34 óvulos retirados
- 18 estavam maduros
- 15 foram fertilizados. Os outros 3 serviram para pesquisas.
- 8 chegaram no estágio que poderiam ser transferidos. Assim, como o número era muito bom, esperaríamos mais dois dias.

Neste mesmo dia a Nanade estava sentindo muitas dores na barriga e resolvemos voltar à clínica para ver se estava tudo normal. O médico fez uns exames e disse que estava tudo tranquilo, mas se ela continuasse sentindo aquela dor não seria possível fazer a transferência dois dias depois e isso causaria alguns inconvenientes. Primeiro que as chances de sucesso seriam reduzidas, pois estaríamos transferindo embriões congelados. Segundo que a transferência deixaria de ocorrer na data do aniversário da Nanade e estávamos muito contentes com esta coincidência. Por último, já não aguentávamos mais toda a ansiedade. Queríamos dar logo esse passo. A notícia dada pelo médico foi o melhor remédio. No sábado a Nanade já estava disposta a correr uma maratona. Passou o dia bem e acordamos ansiosos no domingo para saber se tudo correria bem.

Chegamos à clínica no domingo e fizemos os exames para constatar que seria possível fazer a transferência. YESSSSS! Finalmente! Agora será só esperar o resultado. Deveríamos voltar 10 dias depois para fazer o exame de sangue para atestar se o processo havia sido bem sucedido. Ainda no domingo a Nanade começou um coquetel de remédios para dar inveja a qualquer hipocondríaco. Tivemos que fazer uma escala para ter certeza que os horários e condições seriam todos cumpridos. Junto com os remédios foi fornecida uma lista de efeitos colaterais do processo. Como a quantidade de estrógeno estava muito alta, então a possibilidade de ocorrer uma hiperovulação também era alta (mais informações sobre OHSS) http://en.wikipedia.org/wiki/Ovarian_hyperstimulation_syndrome. Em resumo, devido à alta quantidade de droga para estimular o ovário há um inchaço e acúmulo de liquido na barriga. Isso ocorre em cerca de 40% dos casos, porém os efeitos dependem de cada organismo. Em 1% dos casos há uma séria complicação que pode ter consequências drásticas. Assim, levamos para casa uma planilha para que pudéssemos acompanhar a evolução da barriga da Nanade. Caso ela ganhasse mais de um kilo por dia e sua barriga aumentasse mais de 3 cm, então deveríamos correr para o hospital porque os sintomas indicavam que o problema havia se agravado.

Assim esperamos os 10 dias. Na primeira semana a barriga foi aumentando de pouquinho em pouquinho. Porém, nada constante, algumas vezes ela estava bem, outras ela sentia umas dores nas costas. Ligamos para o médico novamente e ele disse que deveríamos relaxar, pois era uma questão de tempo para esses sintomas passarem. Questão de tempo, tudo bem, mas a Nanade começou a dormir sentada no sofá, pois já não conseguia deitar sem que a barriga incomodasse. No sábado teríamos um churrasco da empresa na casa da Diretora. O local do churrasco fica a 120Km de Toronto e a Nanade disse que não queria ir, pois a barriga estava incomodando. Como 2 pessoas da equipe já estavam se ausentando, resolvi ir de qualquer forma. Quando cheguei recebi uma ligação da Nanade dizendo que ela não estava se sentindo bem e que queria que eu votasse o mais rápido possível. Só tive tempo de cumprimentar a todos e dizer que não poderia ficar. Eu estava realmente preocupado e voltei para casa dirigindo feito um louco. Em 40 minutos estava em casa, mas a Nanade havia conseguido dormir e estava mais tranquila. Ligamos para o médico novamente e ele disse para estarmos na clínica na manhã seguinte. A noite foi muito ruim. A Nanade não conseguia dormir, a barriga parecia que ia explodir e os minutos não passavam. Em um dia ela ganhou 2 Kg e a barriga cresceu 7 cm. Estávamos desesperados! Pensamos em ir para um hospital direto, mas já estava amanhecendo e decidimos segurar um pouco para evitar que a Nanade andasse muito.

Ao chegarmos à clínica o médico diagnosticou sem muito esforço. “She is in a hyperstimulation crisis, we need to drain her belly because it is going to be worse before getting better”. Ela fez um exame de sangue para avaliar se estava tudo bem. Preciava fazer uma ultra deveria para confirmar o que o médico havia dito. O médico disse que ainda era cedo para ver se ela estava grávida, mas precisava testar pois isso influenciaria a forma de fazer a drenagem. Ficamos o domingo inteiro dentro da clínica. Lá fora um sol maravilhoso e o churrasco na casa do Paulo e da Cris (gaúchos legítimos) rolando solto. Estávamos loucos para comer o churrasco de fogo de chão, principalmente a costela que havia sido muito bem divulgada por todos os que já experimentaram, mas as circunstâncias nos impediam. Finalmente a Nanade entra para fazer a ultra. Enquanto eu aguardava, a enfermeira veio até mim e perguntou se eu demoraria para ir embora. Eu disse que tudo dependia da Nanade. Ela disse “Ok, I will ask the lab for you results”. Minha perna tremeu na hora. Que resultados? Da gravidez? “Yes, then I don’t need to call you later”. Caramba! Todo o processo passou pela minha mente em 10 segundos. Lutamos, aprendemos, encaramos, caimos, nos reerguemos, nos fortalecemos, encaramos de novo e agora é a hora! Será que estou preparado para receber este resultado? Foi uma mistura de medo e alegria. Ela entrou na sua sala e eu a segui. Ela discou os números, minha cabeça estava à mil, ela começou a falar, eu lembrei de todos os minutos que havia esperado por aquele momento, ela pergunta pelo resultado, começa uma contagem regressiva na minha cabeça (10, 9, 8...), ela balança a cabeça negativamente........bateu um silêncio repentino nomeu interior. Esse sinal inicia um processo de dormencia no meu corpo, por 5 segundos eu pensei que havia a possibilidade de termos que passar tudo de novo. Como eu falaria isso para a Nanade? O estado que ela se encontra não é o melhor para receber uma notícia destas. Pelo menos teríamos ainda mais 3 chances antes de termos que encarar as injeções de novo, mas será que teremos gás? A enfermeira olha para mim com uma cara muito séria, meu peito aperta tanto que eu não conseguia mais puxar o ar, e ela solta a sentença: “two more minutes! They are going to need two more minutes to send it”. Ufaaaaaa. Se eu tivesse com bosta pronta, sairia com certeza!

A agonia ainda não tinha acabado. 2 minutos! Duas voltas no relógio! Eu não consiguirei ficar aqui em pé. Quer saber, vou dar uma volta lá fora, vou dar 5 minutos, não posso ficar nesta agonia. Fiquei repetindo positivo, positivo, positivo, positivo, positivo, positivo, positivo, positivo, sem parar para que toda a energia positiva estivesse bem concentrada. Lá fora eu olhei aquele dia ensolarado, respirei bem fundo e tentei me recompor. Eu precisava estar bem, independente do resultado, pois a Nanade precisaria de mim. Quando consegui lembrar qual era o meu nome e omotivo de estar na clínica, voltei para a sala da enfermeira. Ao chegar, ela estava ao telefone, olhou para mim e apontou para a tela do computador. Havia uma lista de nomes numa planilha com uns números do lado, mas eu fiquei na dúvida do que aquilo significava. Sim! E aí? Isso é bom ou ruim? Ela desligou o telefone e disse “cogratulations, she is pregnant”. WOOOOWWWWWWWWW, uma descarga de energia atravessou meu corpo. Os olhos logicamente encheram de lágrimas e eu só podia pensar o quanto a Nanade ficaria feliz. Nós conseguimos! Eu nunca havia sentido nada parecido. Já vivi muitas emoções, mas posso dizer que aquele momento foi o melhor da minha vida. Respirei muito fundo e o ar serviu como combustível para aumentar a sensação de alegria, ele entrava com pequenas falhas como se fossem fogos de artifício estourando dentro de mim. Eu só pensava na Nanade! Depois de toda a luta o esforço valeu a pena. Mas espera! Será que este é o resultado final? Podemos comemorar? Podemos contar para família e amigos? “Sim, se o nível de HCG estiver acima de 50 no décimo dia já é considerado gravidez”. Excelente, o número que mostrava na tela era 74 e ainda estávamos no sétimo dia.

Depois da explosão de alegria, a enfermeira pediu que eu trouxesse a Nanade para conversar com ela, pois precisava passar algumas recomendações. Eu fiquei tentando imaginar como daria a notícia. Esperaria ela sair ou entraria na sala de ultra e soltaria a novidade? Preferi esperar, mas entrei na sala algum tempo depois, pois o exame estava muito demorado. Assim que entrei a Nanade já me questionou e eu fiquei calado. Percebi que seu semblante ficou triste e eu não quis fazer aquele teatro de ficar sério como se estivesse dado errado e depois fazer a “surpresa”. Ela já havia sofrido muito e não caberia este tipo de brincadeira naquele momento. Eu sussurrei a partir da porta: você tá grávida! “Que?”. Deu tudo certo, você está grávida! Ela começou a chorar copiosamente ainda deitada. Em 1 minuto a técnica acabou a ultra e deixou a sala. A Nanade me abraçou em prantos dizendo: “Nós conseguimos!”. Quanto mais forte nos abraçávamos mais sentíamos um peso enorme se esvair de nossos corpos. Parecia que estávamos nos purificando, estávamos nos transformando cada vez mais em uma verdadeira família. Eu olhei diretamente em seus olhos e conseguia ver uma só resposta: “Valeu a pena!Tudo valeu a pena”. Nós não conseguíamos falar nada, mas, como de costume, não era preciso. Passamos 5 minutos, eu acho, abraçados sentindo apenas nossa respiração e soluços. Não ouvíamos nada. Era como se o tempo tivesse parado naquele instante para que pudéssemos isufruir daquele sentimento. Com certeza, aquele foi o melhor momento da minha vida. Aliás, acho que irei repetir muito essa sentença daqui para frente. Os recordes de melhores momentos da vida estão mais fáceis de serem quebrados agora e espero que sejam batidos com bastante constância.

Depois de ouvir as recomendações da enfermeria saímos da clínica dispostos a irmos para o churrascão dar as notícias fresquinhas, mas ainda no caminho a Nanade voltou a sentir dores e precisamos ir para casa. A alegria da notícia havia mascarado os sintomas, mas quando o sangue esfriava a dor voltava. O churrasco teria que ficar para outro dia.

Como a notícia era oficial, mas os médicos disseram que era melhor esperar até o décimo dia, resolvemos não divulgar abertamente para todos. Porém, não conseguimos nos conter em relação à família. Chegando em casa, ligamos para nossos pais e irmãos para contar as novidades e pudemos viver outros grandes momentos. Todos sabiam de nossa luta e de quanto queríamos chegar neste ponto e a ansiedade também era grande do lado deles. Como é bom dar notícias boas como essas.

A noite foi sofrida novamente, muita pressão na barriga, dores, tentativa de dormir sentada, incômodo. Dia seguinte voltamos para a clínica para fazer a drenagem. A Nanade entrou na sala sozinha e realizou o início do procedimento. Depois o médico saiu e disse que estava tudo bem, eu poderia entrar para acompanhá-la. Quando entrei vi uma cena bem forte. A Nanade estava deitada de lado com uma cânula respeitável saindo da barriga e um líquido escuro fluindo muito rápido. Ela parecia uma máquina de cola cola em festa de criança. Quando disse isso para ela, a enfermeira disse “I give you 1 dolar if you drink this coke”. To fora! Eu ainda estava assustado com a cena. Porém pude ficar mais aliviado por ver o semblante da Nanade, ela estava bem tranquila e até rindo. Ela falou que a dor estava saindo junto com o líquido e finalmente, depois de 5 dias, ela podia dizer que estava relaxada. Perguntei como aquela cânula foi parar na sua barriga e ela ficou séria novamente. “Nem me fale, eu quase morri de dor, ela enfia aquela agulha ali sem anestesia nenhuma”. Quando olhei para onde ela estava apontando vi uma agulha grande e grossa, parecida com um espeto de churrasco (huuuuummmm fogo de chão). A enfermeira disse que tinha anestesis sim, mas que servia apenas na parte externa. Para quem não sabe o procedimento de drenagem funcionam assim: eles mapeiam com a ultra onde estão as bolhas de líquidos, depois inserem essas agulhas na barriga até atingirem os locais definidos para que as cânulas consigam sugar o que tem dentro. Resultado final: retiraram 2.7L de líquido e disseram que não poderia tirar mais, pois este líquido é uma fonte de sais minerais e “num sei mais o que”. Assim, a Nanade ficou muito fraca, mas bem aliviada durante dois dias. Perguntamos se este quadro poderia voltar a ocorrer, os médicos disseram que normalmente não, mas que era preciso continuar a monitoração.

Dois dias voltamos na clínica para fazer o exame definitivo e o resultado foi o melhor possível. O nível de HCG estava 340, o que significava que estava numa faixa que poderia indicar que existiam duas vidinhas na barriga da Nanade. Porém , precisaríamos fazer uma ultra na 7ª semana para comprovarmos se isto era verdade. Neste dia percebemos que a barriga da Nanade estava voltando a crescer e estávamos preocupados. A enfermeira nos disse que ligaria para o médico e nos daria uma posição sobre o que deveríamos fazer. No meio do dia ela nos ligou dizendo que deveríamos nos dirigir a um hospital em Brampton para que a Nanade tomasse um remédio à base de plasma, pois isso ajudaria na absorção do liquido e evitaria uma nova drenagem. A Nanade estava desesperada só em pensar na possibilidade de ter que passar por isso novamente e nos despencamos para o hospital na cidade vizinha.

Chegando ao hospital ocorreu uma situação engraçada. Estávamos aguardando o remédio ser ministrado (demorava em torno de 2 horas) e de repente uma voz no alto falante dizendo “Code Pink, Code Pink! First Floor. Code Pink!”. Ficamos curiosos e perguntamos à enfermeira o que aquilo significava. Ela foi bem seca na resposta “It’s a child”. Eu e a Nanade comemoramos “eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee”. A enfermeira ficou com uma cara bem séria e disse “It is nothing we want to see. A child distress is something really serious”. Oooops! Achávamos que era o nascimento de uma criança. Ficamos com a cara no chão e pedimos mil desculpas para a enfermeira. Ela disse que não tinha problema, pois sabia que nós não sabiamos o que estávamos comemorando. Ficou por isso mesmo, mas não conseguíamos mais olhar para a senhora que estava nos ajudando. No final de tudo, saímos rapidinho para evitar encontrar com ela novamente.

No dia seguinte voltamos à clínica para avaliar se seria necessário passar por mais uma drenagem. A Nanade se tremia de medo só imaginando o processo, mas as coisas estavam melhores. Parecia que o remédio havia dado resultado e as dores haviam diminuido bastante. Ela conseguiu dormir bem e o médico confirmou que poderíamos esperar mais para ver se a regressão seria definitiva. Ok! Então vamos esperar. A Nanade saiu aliviada da clínica e voltei para o trabalho para continuar na batalha. Resolvi tirar a semana seguinte de férias para poder acompanhar mais de perto.

Ainda tem muita história e mais uma vez teremos que deixar para o próximo post. Para fechar este post quero deixar um pedido: Paulo e Cris, por favor não nos neguem um churrasco, caso contrário nossos filhos nascerão com cara de fogo de chão. Eu não quero nem imaginar como seria.

CHURRASCO DE FOGO DE CHÃO, PLEEEEEEEEEEEEEEEEEASE.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Welcome to NY!

Estamos de casa nova. Futuramente iremos fazer o video para apresentar a nova residência, mas por enquanto só quero agradecer à TN Movers pelo excelente trabalho. O pessoal fez força e conseguimos fazer a mudança em tempo recorde.

Como foi tudo muito rápido, não consegui anotar muitas coisas para fazer uma história interessante aqui. Porém, sempre tem que haver algo para contar. A equipe trabalhou muito bem e cada um tinha uma função definida. Eu e o Francisco fomos devolver o caminhão e quando voltamos para o apartamento já estava tudo resolvido. Ainda precisávamos levar alguns ítens que haviam ficado no carro e então ligamos para o pessoal nos trazer as chaves (há esta altura todos já estavam aproveitando o basement). Voltaram os Flávios (Missi Mayor e Meg's) e a Meg para abrirem o apartamento para nós. Junto conosco estava um senhor que parecia estar muito apressado para entrar no prédio. Ele tocava o interfone e ninguém atendia do lado de lá. Quando a chave chegou ele aproveitou a carona e entrou no prédio. Pegamos o elevador que estávamos utilizando para mudança e assim estava no modo “service”. Para quem não sabe, neste modo você tem que ficar com o dedo no botão do andar até que a porta se feche e o elevador comece a andar, caso contrário ele fica parado. Isso serve para que o elevador fique exclusivo a serviço de quem está fazendo mudança. Ao entrarmos, a nossa querida Meg fez o favor de chamar o senhorzinho apressado para nos acompanhar. Nós moramos no sétimo andar e ele prontamente apertou o 30º. Descemos no 7º, retiramos as coisas e fui fazer um apartment tour com o Francisco, que ainda não havia conhecido o apartamento. Fomos à varanda, contemplamos o tempo e uns 15 minutos depois resolvemos descer para nos juntar ao pessoal. Quando saímos do apartamento, supresa! O Vovô estava nos esperando no andar, pois ele não sabia como fazer o elevador funcionar. Detalhe, existem outros 3 elevadores que ele poderia ter chamado, caso aquele estivesse quebrado. A Meg, culpada pela presença do velhinho no andar, resolveu explicar para ele como funcionava, mas não teve jeito. O Velhinho tinha um parafuso a menos e não conseguiu entender o que ela explicava. Como o Flávio (MM) é um bom samaritano, ele resolveu que todos nós iríamos entrar no elevador para escoltar o vovô para o 30º andar. Parecia uma boa idéia até entramos e percebermos que o crazy elderly, em um ato desesperado, havia apertado pelo menos mais uns 6 andares no board. Ai, ai, ai, muito obrigado, Meg! Assim fomos até o útimo andar do prédio parando em todos os níveis. Parecia ônibus pinga-pinga! Há esta altura eu e o Francisco já estávamos mortos de fome e quase não demos conta de nos locomover à praça de alimentação. Por essas e outras que a Meg ganhou a alcunha de “Faz Merdinha da Estrela”.

Depois da mudança pudemos usufruir um pouco do nosso basement para bater um papo. Quem quiser mais informações sobre o local pode entrar aqui. O Basement é totalmente acabado e provê muitas facilidades.

Segue a foto do TN Movers. Estão faltando o Fávio Gonzaga (que tirou a foto) e o Elias( que se juntou à turma já na nova casa). Muito obrigado, pessoal!

Segue a lista dos convocados:

Gianpaolo, Flávio Ferreira (Missi Mayor), Cleiton Santos, Felipe Souza.

Meg Girard, Francisco Braz, Luciano Barreto, Norbert Arnold.

Eduardo Passos, Marcio Marques, Gustavo Arnold, Alexandre Azevedo.

Não aparecem na foto. Flavio Gonzaga (Meg's) e Elias (na ultima fase).

terça-feira, 21 de julho de 2009

8th Wedding Anniversary

No meio de toda essa emoção temos o prazer de comemorar o nosso Oitavo Aniversário de Casamento.

Saímos da “crise dos 7 anos” (ou 7 year itch), que é um conhecido momento de reavaliação, com força total, muito unidos e com um grande sonho para realizar, tudo muito bem encaminhado. Estamos mais felizes do que nunca e preparados para enfrentar o maior desafio de nossas vidas.

Como é bom saber que irei fazer isso em parceria com minha princesa. Ela já provou há muito tempo que merece todo o meu amor e consideração. Sei que posso contar com ela para encarar a vida, que nada mais é do que uma passagem, e ao olhar para trás vejo o quanto já vivemos e conquistamos. Estamos aproveitando todas as fases de nossa caminhada. Destino ainda está muito à frente, mas não nos incomoda, pois estamos apreciando cada momento.

O 8 significa sorte ou prosperidade para os chineses, quando deitado significa o infinito, quando estilizado significa a união de duas formas e quando aplicado à nossa realidade significa um conjunto de mensagens claras que nos remete a expectativas promissoras. Se colocarmos tudo no liquidificador teremos uma vida eterna, cheia de união, pronperidade e sorte. A adição de nossas experiências passadas serve para enriquecer e avalizar este resultado.

Aqui nas terras geladas este aniversário é conhecido como o “bronze wedding anniversary”, assim consegui encontrar um presente perfeito para o meu amorzinho.


HAPPY ANNIVERSARY, MINHA BONITA!

sábado, 18 de julho de 2009

Uma história para se contar (4)

Após a segunda tentativa sem sucesso fomos até o médico, assim como na primeira vez, e ouvimos quais eram nossas alternativas. Poderíamos tentar novamente o IUI, cuja taxa de sucesso era 20%, ou partir para o ICSI, cuja taxa de sucesso para o nosso caso era de 80%. A escolha parecia simples, mas o segundo método é consideravalmente mais caro e agride muito mais o corpo da mulher. Além disso, ao invés do processo durar 1 mês, duraria 2. Isso nos assustou um pouco. Sabíamos que para ter sucesso precisaríamos acreditar e estar com toda a nossa atenção focada. Este definitivamente não era o caso naquele momento.

Decidimos então ficar um mês sem nem tocar no assunto. O incômodo em relação às tentativas falhas era grande, mas o alívio de não encarar tudo de novo era maior. A Nanade estava esgotada fisicamente e nosso psicológico estava completamente destruído. Precisávamos, antes de tudo, resgatar a nossa alegria, pois era isso que nos impulsionava. Hoje me dei conta de uma coisa que havia passado despercebida. Vocês notaram que o último post do blog antes da notícia da gravidez havia sido em março? Isso não foi uma coincidência...

Quase não tocamos no assunto no primeiro mês. Nos unimos muito, nos conhecemos ainda mais, descobrimos novas alegrias e resgatamos algumas outras esquecidas. Porém, foi um período que sumimos do mapa. Nossos amigos sempre perguntavam pela nossa ausência, se estava tudo bem, mas resolvemos não compartilhar esse desafio naquele momento. Foi mais uma excelente época de auto descoberta. Conversamos sobre a importância de termos saúde, de sermos pessoas com boa capacidade de relacionamento, comemoramos nossas conquistas, revivemos momentos de alegrias. Chegamos ao final do primeiro mês descansados e resolvemos que começaríamos o processo de novo. Porém, havíamos ignorado o assunto por 1 mês e decidimos esperar mais 1 mês para podermos definir nossos planos e táticas para encarar essa jornada. E assim se seguiu.

Durante nossas conversas no segundo mês chegamos a pensar em desistir e começar um processo de adoção, mas sabíamos que a luta seria tão grande quanto a continuação desse que já havíamos iniciado. Além disso, queríamos esgotar todas as nossas possibilidades antes de partirmos para algo radical. Assim, decidimos partir logo para o ICSI. Fizemos contas, conseguimos apoio da família, lemos muito sobre o processo e voltamos a falar com o médico. Ele nos pediu para voltar no início do ciclo menstrual da Nanade para dar início à primeira fase de monitoramento. Estávamos animados novamente e o médico nos alertou que isso nos ajudaria, pois o processo iria requerer muito da gente, principalmente da Nanade.

Monitoramento se inicia, exame de sangue e ultra quase todos os dias. Essa rotina já era conhecida, mas a Nanade já não estava reclamando. As coisas começaram a mudar quando foi identificada a ovulação. No processo anterior iríamos coletar os espermatozóides e inserir na Nanade, mas desta vez recebemos uma lista de afazeres. Teríamos que conversar com a enfermeira, counselor, embriologista, começar a tomar as tão temíveis injeções diárias na barriga e fazer uma biópsia do últero. A biópsia foi o primeiro alerta do que a Nanade passaria a enfrentar a partir daquele momento. O médico enfiou uma tesoura cirúrgica em seu útero, sem anestesia, e retirou um “taco” da parte interior. Antes de cortar ele disse “it is going to hurt a little, but you need to hang on. It will be quick”. Vendo a cena eu soube exatamente os dois momentos que ele fechou a tesoura para tirar o pedaço, pois o rosto da Nanade se contorcia de dor. Ele nos explicou que a biópsia serviria para avaliar se as paredes do útero estavam prontas para “agarrar” um embrião e também que a falta do pedaço retirado iria causar uma inflação no útero que aumentaria a chance de engravidar no mês seguinte. Putz, precisava arrancar um pedaço para isso? Não tem um supositório de superbonder que pudesse auxiliar? Acho que seria mais tranquilo desta forma. Após a retirada, o médico perguntou se a Nanade estava bem, se ela iria “faint”, já que isso é normal devido à dor. A Nanade pediu um tempo para se recuperar e ele nos avisou que estávamos liberados para ir para casa. 5 minutos depois a Nanade se levantou e tentou se vestir. Neste momento ela anunciou “Amor! Eu acho que vou fancy!”, já se agarrando pelas paredes. Eu não sabia se ria ou a ajudava a ficar em pé. Você vai o que? “Para de gracinha, me ajuda aqui que tá tudo rodando”. Fica esperta, mulher! Fancy você fica quando se “emperequeta” toda para tirar sangue.

Neste dia começamos a tomar a injeção. A enfermeira aplicou a primeira e disse que deveríamos voltar no dia seguinte para conversar com a enfermeira chefe. Ela seria responsável por nos explicar como seria o andamento da nossa jornada. Dia seguinte estávamos lá para ouvir o que nos esperava. A idéia básica é a seguinte. A partir do próximo ciclo eles irão estimular o ovário a produzir a maior quantidade de óvulos possível para que possam coletá-los e inseminá-los. Quanto mais embriões formados (óvulos inseminados), mais chances teríamos de engravidar. Para estimular a formação de óvulos, eles precisavam cortar a comunicação entre o ovário e o cérebro, caso contrário haveria a liberação prematura dos óvulos e todo o trabalho seria jogado por água abaixo. A injeção que ela começou a tomar no dia anterior era exatamente para evitar este problema. Pois bem, a Nanade deveria tomar essa injeção todo dia na parte da manhã e não havia condição de ir todos os dias na clínica, que fica em Mississauga, só para isso. A Nanade falou logo que não tinha coragem para fazê-lo, mesmo sendo aquelas injeções pequenininhas, tipo de insulina. Sobrou para quem? Dalila! Eu ficava imaginando como o gato iria se virar para dar estas injeções na Nanade. Bom, pelo menos foi essa a sugestão que eu dei. Eu acredito que ela estaria mais segura com a Dalila fazendo este trabalho do que com a absurda idéia de me envolverem nesta brincadeira. Injeção! Vocês estao falando sério? Não tive como fugir! A enfermeira me explicou como fazia e me disse que era para eu relaxar que não iria causar mal algum à ela. “Pinch her belly skin and perform one quick movement in, that is it”. Ok! Depois não digam que não avisei.

A enfermeira nos trouxe um calhamaço de documentos para assinarmos. Deveríamos aceitar os riscos e definir o futuro do material colhido que não fosse usado. Ela nos explicou o que eram os papéis e quais eram nossas opções. Assim, levamos tudo para casa para tomar nossas decisões. No fim, iremos doar tudo para pesquisas, afinal só estamos tendo a oportunidade de passar por isso porque outras pessoas fizeram esta boa ação. Sentimos que esta é a nossa forma de darmos algo em troca ao que estamos recebendo.

Uma grande preocupação da Nanade era a retirada dos óvulos. Ela estava traumatizada com a biópsia e saber que alguém iria ter que chegar até os ovários com uma agulha, a assustava terrivelmente. A enfermeira nos acalmou e disse que ela passaria por esta experiência enquanto estivesse dormindo. A recuperação às vezes é um pouco mais complicadinha, mas o dia da retirada é tudo tranquilo. Ok! Continuamos nossa jornada.

Fomos conversar com a counselor e ela achou muito legal a idéia de que eu estava dando as injeções. Isso demonstrava muito companheirismo, pois eu estava sentindo o momento e participando ativamente de cada passo. Mal sabia ela que só estava fazendo isso porque temos um gato incompetente que não consegue aplicar uma simples injeção. Eu falei que já tinha machucado muito a Nanade nas primeiras injeções, pois não tinha muita prática. Porém, havia pesquisado o melhor método e agora utilizava a técnica do dardo. Eu segurava a barriga e imaginava que estava no campeonato mundial: 1, 2, 3 e lança! (Conseguiram entender o movimento?) Era a forma que mais me sentia seguro. Fomos ao embriologista e ela nos mostrou passo a passo como funcionaria a fertilização. Foi uma experiência muito interessante. Eu recomendo a todos que vejam o vídeo que indiquei no post anterior para terem uma idéia de como funciona. Ela nos disse que retirar muitos óvulos não significa que serão gerados muitos embriões, mas que quanto maior o número de óvulos retirados, maior a possibilidade de se chegar a um bom número. O normal é retirarem cerca de 25 óvulos e no final gerarem cerca de 4 embriões prontos para serem implantados. Começamos a discutir então quantos óvulos seriam inseridos. Eles normalmente inserem de 1 a 3 embriões. Nosso caso, como a Nanade não apresentava nenhum problema, colocar 3 seria um pouco de exagero, uma vez que a chance dos 3 se implatarem era grande. Por outro lado, colocar 1 também seria arriscado, pois é um tiro único para acertar o alvo. Concordamos com o número 2. Afinal, se 1 falhar, tem o outro, se os dois obtiverem sucesso, não seria o fim do mundo. Muito pelo contrário, a Nanade realizaria seu sonho.

Chega o fim do primeiro ciclo e as coisas ficam cada dia mais próximas. Estava na hora de começarmos a estimular a produção de óvulos. Como? Outra injeção na barriga! Agora iria dar uma injeção de manhã para cortar a comunicação entre o ovário e o cérebro e outra de noite para estimular o ovário. A barriga da Nanade parecia uma peneira. Fizemos um mapeamento para planejar uma estratégia de onde seriam dadas as injeções, mas não tinha jeito. Porém, apesar desta provação a Nanade estava com um excelente espírito. Acredito que eu ficava mais nervoso para dar as injeções do que ela para receber (vocês podem confirmar isso no vídeo que colocaremos no final do post). A parte das injeções foi uma boa surpresa. Nós pensávamos que seria um período muito complicado, mas não foi. Junto com a segunda injeção voltaram também as práticas de monitoramento para ver os óvulos. Agora ao invés de aparecer um óvulo se desenvolvendo, a ultra mostrava um exército se formando. Em uma das ultras a mulher parou de contar depois que passou de 20. Isso era um excelente sinal. Tudo estava correndo como planejado, mas tinha um efeito colateral. A mulherada vai entender melhor esta parte do texto. Vocês sabem aquela dorzinha que dá quando um óvulo está quase maduro e perto de ser liberado? Pois é! Imaginem como seria ter mais de 20 óvulos neste estado. A barriga da Nanade estava inchada, ela tinha dificuldade de andar, sentar e levantar. Os hormônios estavam em níveis assustadores e o gênio da mulher... sem comentários. Porém, por incrível que pareça estávamos levando tudo com muita tranquilidade. O tempo passava muito rápido e logo chegou o dia da retirada dos óvulos.

Há dois dias da retirada estávamos muito empolgados. Conversamos com o médico e ele nos falou para parar com todas as injeções. Agora só faltava a última, aquela que a Nanade já havia tomado duas vezes para liberar os óvulos (nos ciclos de IUI). Assim ocorreu e dois dias depois estávamos na clínica para o grande desafio. A Nanade estava nervosa, mas muito confiante. Assim que chegamos à clínica ela já colocou aquelas roupinhas de cirurgia e sentamos na sala de espera e recuperação. Pudemos presenciar que muitas pessoas passam por este processo. Só neste dia tinham pelo menos 4 casais além de nós. Haviam duas histórias interessantes que merecem comentários. A primeira eram duas mulheres casadas que estavam realizando o sonho da maternidade. Para isso, elas iriam retirar o óvulo de uma, inseminar com um espermatozóide conseguido num banco e a transferência seria feita para que a outra pudesse engravidar. Neste dia elas estavam fazendo a transferência do embrião e a enfermeira sempre muito simpática estava as parabenizando. “Espero que dê tudo certo a partir de agora. Parabéns mamãe e parabéns mamãe”. A outra história não é tão feliz. Havia um casal que já havia tentado uma vez e no processo anterior não haviam conseguido recuperar nenhum óvulo. Logo que ela saiu da sala de cirurgia, a Nanade entrou. Assim, pude ouvir um pouco da história deles. Ela tinha um problema no ovário e estava tentando pela segunda vez passar por todo esse processo. A enfermeira voltou e disse que haviam retirado o líquido, agora era hora de procurar pelos óvulos. Até aquele momento, tudo estava dentro do esperado. A Nanade retorna da sala de cirurgia junto com a enfermeira que deu a notícia bombástica para esse casal. Novamente eles não tinha conseguido achar nenhum óvulo. A mulher não consegia se conter e aquela imagem foi muito marcante. Eu conseguia entender o que ela estava passando e nem precisei tomar injeção para isso. Passar por todo esse processo e não conseguir chegar ao objetivo final deve ser uma sensação devastadora. Ao mesmo tempo me dei conta que ainda não tinha recebido a notícia de qual era o resultado da pesquisa da Nanade e isso me afligiu. Eu não sabia que havia esta possibilidade. Para mim, se tinha os folículos obrigatoriamente existiam óvulos ali, mas parece que não era o caso. Neste meio tempo eu tive que fazer a minha parte do processo. Porém, nada de agulhas, injeções, remédios, biópsias. O homem tem uma vantagem incrível. Há uma ferramenta própria para retirada do material necessário, basta chacoalhar. De volta à sala de recuperação passei mais 5 minutos de angústia com a Nanade passando mal e a falta da informação sobre o resultado. Até que vem a notícia em alto e bom som. "Parabéns, nós conseguimos coletar 34 óvulos". Eu sinceramente não consegui comemorar como deveria. A mulher em prantos ao nosso lado prestou bastante atenção no que a enfermeira falou, isso trouxe mais um enxurrada de lágrimas de sua parte. Quase pedi para a enfermeira pegar meia dúzia e oferecer para ela, mas não seria muito educado de minha parte.

Chega o momento de fecundarem os óvulos e esse passou a ser nossa grande expectativa. Este passo tem uma importância enorme pois gerar embriões de qualidade é uma tarefa complexa e primordial para alcançar o sucesso. Porém, falaremos mais sobre isso no próximo post. Acredito que estamos dando detalhes demais e isso está deixando os posts muito grandes.

Aguentem firmes, pois as emoções ainda estão por vir. Por enquanto fiquem com um apanhado de vídeos e fotos que mostram um pouco do que passamos.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Uma história para se contar (3)

Antes de começar este post gostaria de agradecer às diversas mensagens de parabenização que recebemos. Ainda não chegamos nem na metade da brincadeira, portanto aguentem firmes que ainda tem muita emoção por vir.

A mudança para o Canadá era uma barreira para a Nanade. Ela sabia que só poderíamos começar a correr atrás deste sonho após 3 meses da nossa entrada no país, pois o OHIP tem essa “carência”. Assim, 3 meses para mudar mais 3 meses para começar a entender quais seriam os passos necessários para fazermos a inseminação era tempo demais para a cabecinha dela. Depois de 6 anos esperando, cada minuto era uma eternidade. Porém, não tinha o que fazer, pois não dava tempo de começar antes de sair. Os 3 primeiros meses no Canadá acabaram passando muito rápido neste aspecto. Como puderam avaliar pelos primeiros posts do blog, tinhamos muitas outras preocupações que tomavam nosso tempo. Morávamos numa granja, tínhamos que arrumar emprego, carro, carteira de motorista e muitas outras coisas que nos faziam esquecer um pouco desse assunto.

3 Meses de Canadá, junho de 2008, OHIP na mão, começa a corrida pelo ouro. Em outras palavras, começa a corrida pelo maravilhoso mundo do sistema de saúde canadense. A primeira coisa que fizemos foi ligar diretamente para uma clínica de fertilidade, mas eles disseram que não poderiam nos atender, uma vez que deveríamos ser indicados por um médico especialista. Para chegar a um médico especialista deveríamos primeiro passar por um médico de família. Para conseguir um médico de família precisaríamos achar alguém que estivesse disposto a ser médico de família, que pelo visto é uma coisa muito complicada por aqui. Mais informações podem ser lidas no nosso post sobre essa viagem (http://nanadeelunocanada.blogspot.com/2008/09/disclaimer-post-longo-estou-tentando.html). Depois de tudo isso precisaríamos convencer os médicos que já sabíamos qual era o problema para evitar passar por todo o caminho já percorrido no Brasil. Ledo engano!

Tudo começou no médico de família. Chegamos já decididos com o que queríamos. Na primeira consulta com a Iaia Boneca já pedimos uma indicação para uma clínica de fertilidade. Porém, vocês já sabem como foram as coisas, né? Tivemos que esperar uma semana para sermos atendidos pelo nosso médico de família para podermos requisitar esta indicação. O papo começou da estaca zero. “Use cuecas frouxas e....”. Vamos parar este papo por aqui. Eu já passei por tudo isso! Cueca frouxa, amendoim, castanha de cajú, catuaba, sexo 5 vezes por semana, novena, promessa para Tuéris, you name it! Só queremos uma indicação para uma clínica de fertilidade! Simples assim! Bom, parece que não é tão simples quanto imaginávamos. Ele disse que antes de nos indicar para a clínica, ele deveria ver o resultado dos exames médicos. Eu mostrei os que tínhamos do Brasil, mas como tudo que trouxemos, não valeu de nada. Lá fui eu para mais um espermograma. A Nanade já tava com ciúmes do potinho. Aqui no Canadá tem uma vantagem em relação ao exame. É possível realizar a coleta em casa e, muita ênfase, com auxílio externo, se é que me entendem. Eu não tive essa ajudinha, mas o fato de coletar em casa já foi um grande diferencial. O resultado, adivinhem, o formato era dominado pelos cabeçudos. Assim consegui minha indicação para o Urologista. Primeira barreira vencida.

O urologista começou com o mesmo papo e joguei muito aberto. Veja bem, eu já sei exatamente o que eu tenho, não preciso mais de exames e períodos de avaliação. Meu problema é que o formato dos espermatozóides não é o ideal e tenho menos de 4% de ninjas. Eu ainda não consegui achar a tradução de “Gala Rala”, acho que seria algo como “Thin Gala” ou “I am shooting Blank” e assim ficava difícil explicar a situação. Acho que ele nunca foi no Nordeste. Compreensível! A única coisa que precisava era uma indicação para uma clínica de fertilidade. “Tudo bem, tudo bem, mas para fazer isso preciso fazer um teste de varicocele (que eu já tinha feito no Brasil) e mais 3 espermogramas. Com isso poderei indicar para uma clínica de fertilidade”. Há esta altura a Nanade já estava pirada! Mais 3 meses? Pois é, bonita, mas pelo menos agora já estamos no processo. Temos que ter calma, já estamos no caminho certo! Depois dos 3 meses os resultados foram exatamente o que já havíamos dito e finalmente conseguimos a indicação para a clínica. A Nanade estava no Brasil e esperamos por mais um mês para iniciarmos de fato nosso processo. Agora sim, finalmente o sinal verde se acendeu e a brincadeira começou.

A Nanade chegou sedenta do Brasil, a única coisa que falava era: “será que já neste mês iremos fazer a inseminação?”. Calma bonita! Acredito que ainda haverá uma fase de avaliação para saber o que fazer. E assim começou a caminhada. Vocês lembram que a Nanade estava com ciúmes do potinho? Pois, é! Ela pagou o pato. A primeira fase do processo foi entender onde eles deveriam atacar. Então fizemos um exame de sangue e a Nanade fez uma ultrassonografia (chamarei de “ultra” a partir deste momento) externa e interna. A partir daí a Nanade repetiu os exames quase todos os dias por duas semanas seguidas. O objetivo era entender o seu ciclo para poderem atuar futuramente. Paralelamente fiz mais exames que, adivinhem, envolviam espermogramas. Acho que no meu testamento os potinhos terão um lugar especial. Durante a fase de avaliação da Nanade aconteceu um episódio que foi um sonho. No dia que foi constatada a ovulação, o médico prescreveu sexo para a noite. Essa é a melhor situação que existe na face da terra. Por pior que eu me comportasse, por prescrição médica, teria que haver sexo de noite. Nada de dança do pombo, nada de flores, nada de conversa, nada de não jogar cueca no chão, nada! Este dia eu ditava as regras. Quero chegar em casa, jantar pronto na mesa, banho tomado e futebol na TV. Depois disso, massagem nas costas e vamos aos trabalhos. Vocês acham que aconteceu assim? Claro que não, pois não tenho moral em casa! Mas isso é uma outra história!

Final do primeiro mês, tudo identificado e adivinhem?!! O formato dos espermatozóides impediam, ou diminuiam muito, a nossa possibilidade de engravidar. Jura??!! Que novidade!!! Isso nós já sabíamos, agora queremos saber o que fazer. Para o nosso caso existiam basicamente três opções:

- Intrauterine Insemination (IUI). Esta técnica é realizada através da coleta e “lavagem” do esperma. Esta lavagem ajuda a separar os espermatozóides bons dos ruins. O resultado é inserido diretamente no útero da mulher na época da ovulação.
- In-Vitro Fertilization (IVF). Esta técnica consiste no estímulo ao ovário para produção excessiva dos óvulos que serão retirados para a realização da fertilização fora do corpo (in vitro). O óvulo será jogado numa “piscina” de espermatozoides que farão o trabalho de fertilizá-lo.
- Intracytoplasmic sperm injection (ICSI). Essa técnica tem o mesmo princípio da anterior, porém é escolhido um espermatozóide para ser colocado diretamente em um óvulo para garantir que a fecundação ocorra.

Para uma melhor vizualização dos dois últimos métodos, vejam o vídeo a seguir. Recomendo que todos assistam, pois o processo é impressionante. http://www.youtube.com/watch?v=kcJWPWb2uBs.

Até começar o processo de fertilização propriamente dito tudo é coberto pelo OHIP (ultra, exames de sangue e alguns exames complementares). Alguns exames muito específicos não são cobertos, mas também não tem um custo proibitivo. Algumas pessoas nos perguntaram sobre preços, mas é muito difícil falar, pois tudo varia de acordo com os métodos a serem utilizados. Ouvimos uma história de uma pessoa que a cada tentativa ela gastava cerca de 25K dollars devido aos remédios que ela tinha que tomar e essa é a grande variável. Sabemos de outro caso onde a variação do preço do remédio era de 90% de acordo com o local e a marca obtida e isso logicamente muda totalmente o preço final do processo. Assim, cada caso é um caso, não há como prever.

Durante a nossa viagem conseguimos entender exatamente o que deve ocorrer para haver a concepção de uma criança. Fica a pergunta no ar: como alguém consegue engravidar por método normal? É incrível a quantidade de variáveis que devem estar alinhadas para que possamos receber um pimpolho em casa. Resumidamente falando: os ovários começam uma corrida, gerando vários folículos sob o estítulo do FSH. O crescimento destes folículos fazem o corpo aumentar a quantidade de estrógeno, que ajudam a formar o endométrio e outras coisinhas a mais. No auge do amadurecimento do folículo a alta quantidade de estrógeno é percebida pelo cérebro que libera uma produção elevada de LH, responsável por liberar o óvulo maduro (vencedor da corrida). Se o óvulo não for fertilizado em 72 horas, tudo vai por água abaixo, literalmente. Assim, paralelamente à liberação do óvulo deve haver a inserção de espermatozóides que inicialmente ficam armazenados numa “piscininha” na estrada do colo do útero. Aos poucos eles passam pela cavidade que deve conter o PH ajustado para que não os matem antes que cheguem ao seu destino. Depois de fertilizado, o embrião deve se ajustar às paredes do útero e o corpo deve começar a produzir HCG (que é a forma de saber se a mulher está grávida), estrógeno, progesterona. Ufaaaa! Tudo isso deve ter uma sincronia perfeita para que possamos ver as duas listrinhas no exame de gravidez. Novamente: como alguém consegue engravidar por método normal?

Começa o nosso processo de IUI. A Nanade entra na fase de monitoração mais uma vez. Exame de sangue e ultra quase diárias por duas semanas. O objetivo era saber exatamente o dia da ovulação e assim iniciar minha brilhante participação de coleta de espermatozóides. Depois de lavados, eles seriam inseridos diretamente no últero (como dito anteriormente). A vantagem desse método é que resolve alguns problemas como a questão do PH e da má formação. A lavagem do esperma trará apenas os espermatozoides fortes e já que serão introduzidos diretamente no útero, não precisarão mais passar pelo cólo, onde PH mais ácido poderia matá-los. Assim foi feito, no dia anterior à ovulação a Nanade tomou uma injeção na barriga que iria assegurar a liberação do óvulo. A injeção é bastante dolorida e ela ficou reclamando a noite inteira. Porém, nada iria atrapalhar. O que é uma injeção na barriga para quem tirou sangue durante 10 dias seguidos? Com essa abordagem nossas chances aumentaram de menos de 1% para 20%. Festa total! Depois da lavagem do esperma a contagem de espermatozóides estava ótima. A Nanade ficou 30 minutos deitada para garantir que os manézinhos se encontrariam. No dia seguinte repetimos o processo e mais 10 milhões de figurinhas foram inseridos no seu útero. Nossa confiança chegou a 100%, mas precisávamos esperar 10 dias para fazer o exame de gravidez. Que espera agoniante!

Neste período conversamos bastante sobre todo o processo, como havíamos amadurecido, quais eram os nossos planos, como daríamos a notícia aos nossos familiares e amigos, nomes, quartos e tantos outros diversos assuntos. A Nanade já se sentia grávida, sentia cheiros diferentes, seios crescendo, enjoos, indisposição e tantas outras coisas que ela lia em relação à sintomas de gravidez. Ela estava em estado de graça. Chega o dia do exame e estávamos muito confiantes, pois sabiamos que este método resolvia nossos problemas e agora era só confirmar o que já sabíamos. Seríamos pais no meio do inverno! Who cares????

Recebo a ligação da clínica com o resultado e........ negativo! Hã? Are you sure? “Yes, sir! Sorry for that. Please call Dr XYZ to discuss the continuation of your treatment”. Eu fiquei sem saber o que fazer. Como eu ligaria para a Nanade? Ela estava certa que tudo já havia funcionado e é nestes momentos que temos as maiores decepções. Tentei enrolar e não ligar, mas ela não se conteve e me ligou no meio do dia. Tive que falar a verdade e esperar pelo melhor. Ela só disse: “ok, meu amor. Depois conversamos”. Eu sabia que não era só isso, mas tinha que me contentar com sua resposta.

Cheguei em casa depois do trabalho e pude presenciar um dos momentos mais difíceis de nossa história. Os olhos inchados, cabisbaixa, sem palavras, encolhida sobre a cama como se estivesse perdido todas as esperanças, um luto velado por algo que deveria ter acontecido, um sonho tão real e próximo que se desfez com uma simples ligação.Ela não precisava falar nada, pois eu conseguia ver exatamente o que estava “dizendo”. Parecia que haviam tirado o mundo debaixo de seus pés. O que eram todos aqueles sinais? O que devemos fazer? Será que precisarei passar por todo esse sofrimento novamente? Por que não entramos antes no processo? Quanto tempo mais teremos que sofrer assim? Como pode ter dado errado? Por que não tentamos no Brasil antes de vir? Cadê a minha mãe? A cama quentinha era a única coisa que a confortava. Fiquei ao seu lado tentando fazer carinho e a confortando, mas percebia que ela havia se fechado num mundo diferente. Seu olhar me trazia dor, eu podia sentir o seu sofrimento. Durante 3 dias ela não falou nada, não levantou, não reclamou, não brigou pela cozinha desarrumada, não deu atenção para a Dalila e, o que mais me fez falta, não sorriu. O som da sua gargalhada é o meu combustível e eu tinha que fazer algo para tirá-la daquele estado. Resolvi ligar para o médico e marquei uma consulta para o dia seguinte. Ela se negou a ir, disse que começaria a chorar logo na entrada e não queria passar por este vexame. Fui sozinho, pois também precisava de respostas. Foi aí que percebi que o médico é muito mais do que um geneticista. Ele me fez voltar em casa para buscar a Nanade, pois precisava conversar com os dois juntos. Quando voltamos tivemos uma longa e esclarecedora conversa. O grande problema é que ignoramos o fato de que 20% é diferente de 100%. Aliás, muito pelo contrário, o normal é não acontecer. O ser humano é a espécie com a pior taxa de sucesso na reprodução entre os seres vivos. Se quiséssemos ter filhos teríamos que lutar e saber que esses contratempos iriam ocorrer eventualmente, mas que pelos resultados que tinha em mãos, ele garantia que teríamos sucesso. “O caso de vocês é simples, mas não podem ignorar os números”.

Voltamos para casa renovados... kinda! Se quiséssemos tentar novamente teríamos que voltar em 3 dias para começar a rotina de monitoramento. Desta vez a Nanade já não estava empolgada e isso deveria ter sido uma característica boa,mas não foi. Ao invés de se sentir mais leve e despreocupada, esta falta de empolgação funcionou com um efeito contrário. Tirar sangue doía muito mais, a ultra incomodava em demasia, o caminho para a clínica era mais longo, pegar ônibus era um fardo, saber a quantidade de óvulos na corrida já não tinha graça. Eu também estava um pouco descrente e tentava passar confiança, mas o primeiro resultado trouxe um efeito negativo para mim. Eu passei a me sentir culpado por tudo que a Nanade estava passando e não podia fazer nada. A sensação de impotência, em todos os aspectos, era completa. O processo se arrastou e demorou mais do que o normal. Os dias pareciam anos, as semanas não se fechavam. A injeção para liberar o óvulo foi uma verdadeira facada na sua barriga, a comida não tinha gosto. A Dalila era a única coisa que conseguia fazer as feições da Nanade se modificar em algo que lembrava um breve sorriso, mas ainda nenhuma música fugia do seu interior. No dia da ovulação não acordamos com aquele friozinho na barriga e quando voltamos para casa não conversamos sobre planos. Os 10 dias seguintes foram tão morosos quanto os anteriores e o resultado não poderia ter sido diferente: negativo. A explicação era que os cabeçudos não eram “lavados”, pois ainda conseguiam nadar sem problemas. Porém, eles atrapalhavam o andamento dos outros por serem numericamente muito maiores. Assim, a solução mais eficiente seria o ICSI, já que eles pegariam um espermatozóide e colocariam em um óvulo. Nem o IVF seria recomendável.

Estávamos num ponto de decisão. Deveríamos mudar de método e tentar o ICSI ou continuar naquele IUI? A única certeza que tínhamos é que estávamos psicologicamente esgotados e tentar encarar novamente este ciclo não parecia a melhor opção do momento. Precisávamos ter a cabeça no lugar para verificar os custos, a base emocional e as condições físicas necessárias para encarar um novo ciclo, então decidimos tirar férias desse assunto para arejar a cabeça.

Que o tempo nos traga a tranquilidade e sabedoria necessárias para definir nosso futuro.

Bom, achei que caberia tudo neste post, mas parece que teremos mais um para completar. Ainda tem muito o que contar.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Uma história para se contar (2)

Vida que segue, a idéia era nos organizar melhor antes de colocarmos nossos planos em prática. Quando casamos eu trabalhava em uma empresa de consultoria que tomova muito do meu tempo com viagens e isso só nos ajudava a confirmar que os planos estavam corretos.

Tempos depois eu abri uma empresa de consultoria com meus grandes amigos Ricardo e Carlos e o trabalho que já era grande, aumentou 347%. Ao invés de fazermos apenas nossa parte de consultores de entrega dos serviços, passamos a fazer o planejamento, elaboração de táticas de venda, venda, networking com clientes e parceiros, pagamento de contas, interação com contadora, assinatura de contrato de plano de saúde, procura por recursos para trabalhar nos projetos, identificação de oportunidades, participação em eventos para divulgação da empresa, preparação do material de venda, cafézinho e tantas outras coisas que é transparente para quem trabalha em uma empresa já constituída. Porém, não havia problemas em relação à gravidez, pois estava tudo dentro do planejado. Fazendo um parentesis, o ponto interessante da experiência de abrir uma empresa é a interação que temos com outras pessoas durante o processo. Quando decide entrar nessa brincadeira você é taxado de louco, pois “quem vai largar uma coisa que é certa para enfrentar uma aventura cheia de incertezas”? Isso soa familiar para vocês? Ouvimos isso com bastante frequência em tantas outras aventuras que resolvemos encarar. O mais interessante é que as mesmas pessoas que os taxam de loucos, depois batem nas costas dizendo “Nossa! O que vocês conseguiram é muito interessante! Eu queria ter um pouco disso que conquistaram!”. Eu não estou dizendo que as pessoas são negativas ou invejosas (algumas eram), mas a idéia é demonstrar que algumas vezes o receio de encarar o começo de uma caminhada priva a oportunidade de viver grandes momentos. Existe uma excelente frase que expressa bem a importância e o peso de início de toda iniciativa: “A good beginning is half way to success”.

Chega a formatura da Nanade em 2003 e, com o evento, a vontade de ser mãe começou a voltar ao palco principal. Porém, era impossível pensar em algo neste aspecto devido à quantidade de trabalho. Nestes momentos que vemos quão valorozas são as pessoas que escolhemos. O maior sonho da Nanade é ser mãe, de gêmeos, mas ela tinha os pés no chão e entendia, mesmo que contrariada, que uma criança naquele momento não seria a melhor opção, imaginem duas. Porém, em nenhum momento eu senti cobrança de sua parte para acelerar os relógios ou diminuir as barras dos objetivos que traçamos para que a luz verde se acendesse para a tentativa dos nossos filhotes. Muito pelo contrário, seus planos estavam sendo adiados e eu sentia todo o apoio necessário para continuar na batalha para encontrar um ambiente propício para que entrássemos juntos neste longo caminho. Eu a admiro, acima do respeito e do amor que sinto pela minha princesa, eu a admiro. Admiro o fato de que ela, acima de todos os seus sonhos, suportou os meus. Admiro a sua habilidade de transformar os seus anseios em pensamentos positivos e ações práticas para que eu pudesse fazer a minha parte do jogo. Admiro sua capacidade de lidar com esta situação de maneira tão criativa. Cada gravidez de amigas e pessoas próximas eram tratadas como se fossem dela. Acredito que esta era a forma de viver parcialmente seu sonho e apaziguar o chamado natural que urgia em sua cabeça e corpo. Talvez as amigas sentissem apenas o lado de estarem sendo mimadas, mas não têm a idéia do bem que estavam fazendo para a Nanade. Eu sentia quão satisfeita ficava a minha princesa depois de interagir com as gravidinhas. Era uma realização mesmo. Não tenho como agradecer tudo isso que ela me ofereceu. Aliás, tenho sim, retribuindo tudo o que recebi a cada dia que acordo ao seu lado, não por obrigação, mas por prazer de prover a alegria sentida durante todo esse tempo.

No início de 2005 decidimos fechar a empresa e com isso parti com a Nanade para São Paulo. A idéia era usar esta mudança como um treinamento para alcançar o nosso plano maior, o Canadá. Estávamos cortando o cordão umbilical e ajudando não somente a nossa cabeça, mas principalmente a dos nossos familiares para que se acostumassem com a idéia de morarmos longe. A mudança para São Paulo foi a gota d’água no relógio biológico da Nanade, parece que a cidade grande fez ebulir os hormônios e proporcionalmente diminuir a paciência quanto aos fatores externos que influenciavam a decisão. Esse sinal verde teria que arrumar um jeito de aparecer. Depois de um ano em Sampa (não sei como consegui segurar tanto tempo) fui trabalhar do outro lado do balcão, ou seja, deixei de ser consultor e passei a ser cliente. Este era a última variável que faltava para podermos finalmente correr ao encontro de nossos pequenos. Nada mais de 10 a 12 horas por dia de trabalho, de viagens constantes, agora era horário fixo de 9-18, finais de semanas liberados para lazer e uma boa fonte de renda. Finalmente chegou a hora, minha linda!

Porém, não sabíamos que estávamos nos preparando para uma maratona. 1, 2, 3 meses, nada! Estamos tentando, daqui a pouco vem. 4, 5, 6 meses e o sinal verde virou amarelo. Tem alguma coisa errada aí! Fomos procurar um médico. A visita ao médico foi super tranquila. Ele nos disse que não poderia fazer muita coisa, pois meus exames mostravam que estava tudo ok. Eu havia repetido o espermograma só para ter certeza que as taxas estavam normais. “É assim, mesmo! Em média um casal normal demora 6 meses para engravidar. Pelo quadro que me falou isso pode ser ainda resultado da sua vida estressada de antes. Use cueca frouxa e durante o período fértil da sua esposa procurem praticar bastante, pois a prática leva a perfeição”. Excelente! Saí do médico com uma boa sensação. Precisa desestressar e a melhor forma de fazer isso é praticando o que ele nos prescreveu. Uh hu! Quer coisa melhor do que isso? Tenho certeza que nos divertiremos muito neste segundo semestre.

A diversão durou apenas até a segunda semana do primeiro ciclo. Nunca pensamos que um dia iríamos não querer praticar o esporte. Isso é uma situação inconcebível.Pelo menos isso nunca havia passado pela minha cabeça. Essa obrigação acaba com a graça do “brinquedo”. Depois do terceiro dia não tinha Dança do Pombo que resolvesse. Jantávamos já com lágrimas nos olhos lembrando que teríamos que tentar acertar o alvo mais tarde. A partir do terceiro mês, o simples fato de escutar qualquer assunto relacionado nos causava dores físicas. “Tem certeza que quer tentar hoje?”. “Querer, querer, eu não quero, mas vai que é hoje que acertamos os números da megasena?”. Não podíamos desperdiçar oportunidade e não podemos ser acusados de não tentar. Nos próximos 6 meses emagrecemos 8 kg e ficamos com olheiras de urso panda. A voz afinou, os cabelos ficaram bonitos e sedosos, a pele parecendo um pêssego, mas nada de vermos as duas listras nos testes de gravidez.

Depois do primeiro ano sem sucesso voltamos aos médicos para uma segunda bateria de exames. Neste ponto já poderíamos ser considerados para aplicar para tratamentos de infertilidade. Os nossos exames sempre deram todos normais novamente, então o culpado passou a ser a ansiedade de Nanade. Tadinha! Como não ficar ansiosa, também! Ela esperou por isso por 5 anos de casamento e não tem como controlar. Ela entrou no Ioga, exercícios, tratamento para relaxamento, foco nos estudos e acabamos comprando a Dalila para que o instinto materno da Nanade fosse de alguma forma utilizado. Isso funcionou, acho que é por isso que a gata é tão mimada. Paralelamente eu comecei a tomar um complexo vitamínico com foco na vitamina e comecei mais uma série de espermogramas. Eu estava de saco cheio disso e lemrbo que reclamei ao médico. “Vou ser bem sincero, esse negócio de espermograma é a pior coisa que existe”. “Ah é?! Espere até chegar aos 40 anos, o buraco será literalmente mais embaixo e você sentirá saudade desta época”. Nossa! Esse médico era realmente bom, ela sabia como me incentivar. Nesta fase sempre ouvíamos histórias de pessoas que tentavam engravidar por vários anos, depois desistiam e resolviam adotar alguém ou fazer um tratamento de inseminação artificial. Depois de conseguirem os filhos, conseguiam engravidar naturalmente, pois já não tinham mais a pressão e a ansiedade em suas cabeças. Tenho certeza que existem várias pessoas que passaram e/ou passam por essa mesma situação e precisamos compartilhar um segredo: estas histórias não ajudam! Eu tenho certeza absoluta que aqueles que as contam têm a melhor das intensões, mas realmente elas funcionam no sentido oposto, pois aumenta a ansiedade mostrando que o caminho pode ser muito maior do que pensamos.

Mais 6 meses com estas tentativas até que meu médico resolveu que iria pedir um exame mais específico para tentar entender melhor o quadro. Foi então que pediu um exame que demonstraria o formato dos espermas. Bingo! Acharam o problema! Eu tenho quantidade suficiente de espermatozoides e com boa mobilidade. Porém, a percentagem de esperma com o formato correto (denominarei-os de ninjas), capaz de fecundar o óvulo, eram apenas de 1% a 4% do total, quando o mínimo necessário para obter sucesso nas tentativas era 15%. Caramba, minha mãe ficou toda triste, ela disse: “Eu tenho tanto orgulho dos meus filhinhos nordestinos, todos de cabeça redondinhas, porém não sabia que isso teria um efeito colateral”. Pois é, Mãezinha! O pior é que os cabeçudos ainda atrapalham os ninjas na hora da natação e a probabilidade de sucesso nesses casos é de menos de 1%.

Nós nunca havíamos ouvido falar nisso, por isso nunca nos atentamos para o fato. Minha tia Susan disse que esse problema é muito conhecido no Nordeste. Existe até um nome científico bem disseminado no ambiente acadêmico e popular que ajuda às pessoas na procura do melhor apoio para resolução deste problema. Estou classificado como um exemplar vivo do difundido conceito da “Gala Rala”. É tia, você está certa, mas neste caso não tem maizena que resolva.

Faltavam 3 meses para virmos para o Canadá quando o problema foi realmente definido. Precisaríamos de apoio, leia-se um programa de auxílio para fertilização, para conseguirmos engravidar. Digo, tínhamos menos de 1% de chance de conseguirmos naturalmente, mas decidimos que no Canadá daríamos início ao tratamento. Isso gerou mais ansiedade e stress, pois sabíamos que a Nanade já estava no seu limite em relação a este assunto.

Próximo post, falaremos sobre a caminhada já nas Terras Geladas. Será que precisamos de tratamento ou o frio ajudou engrossar a “parada”?

Nanade & Lu Plus 2

Não é um no show de reality TV, é apenas reality.



No sábado, em meio a muita confusão descobrimos que a população da casa vai dobrar (ninguém considera a Dalila como familía, certo?). A prova está abaixo. A qualidade está ruim, pois é uma foto da impressão da ultrasonografia (ninguém entende a não ser os pais), mas a emoção é enorme.





Quando chegar em casa irei scanear a ultrasonografia para ver se melhora e atualizarei o post.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Uma história para se contar

Algumas coisas na vida são tão simples que não merecem uma explicação, outras tão complicadas que não conseguem ser explicadas. Nossa história, ainda em andamento, tem partes simples como a preparação de uma festa de casamento e complicadas como a busca da compreensão em relação ao insucesso de tentativas na concepção de uma semente para a continuidade de nossa história. No meio destes dois extremos existiram várias situações que merecem ser divulgadas. Tentaremos passar todos os sentimentos que compartilhamos fechados em nosso mundo, pois acreditamos que eles nos transformaram em pessoas felizes e melhores. Melhor do que viver uma emoção, é saber reconhecê-la e revivê-la quantas vezes possível.

Nossa história começa há muito tempo atrás, mais de 15 anos quando ouvi pela primeira vez a frase: “Eu quero ser mãe nova, depois de casar eu quero engravidar em no máximo um ano”. Nossa! Nós havíamos dado só um beijo! Eu achava que haviam outras coisas mais românticas para se dizer após o primeiro beijo e da minha parte só saiu: eeeerrrrrrrrrrrr, ok! Afinal, depois daquele beijo docinho e aquela coisa linda nos meus braços, o que mais eu podia fazer a não ser concordar. Porém, o que havia acontecido com as fases de namoro, noivado e coisas afins? Além é claro de algumas variáveis muito importantes como dinheiro e estabilidade emocional. Na época eu tinha 17 anos, ela 14, vocês imaginam como isso é interpretado na cabeça de um “pivete”? Como eu pensava da mesma forma, ou seja, não queria ser pai “véio”, então não encarava como um problema, mas minha interpretação foi “claro, claro, quando casarmos iremos providenciar isso”. Muita calma nessa hora, ainda temos muito chão pela frente antes de pensar neste passo.

Chega o grande momento. A preparação da festa de casamento, uma cerimônia onde o noivo (este que vos fala) é tão (ou menos) importante do que os ornamentos da igreja, estava a todo vapor quando a Nanade mais do que nunca reafirmava seus planos de ter filhos rapidamente. Parece que nem os 7 anos e meio de enrolação, digo namoro, ajudaram a tirar a idéia fixa de ser mãe cedo daquela cabecinha. Aliás, esse “passo adiante” não era apenas uma idéia da noiva, mas de toda a família da parte do noivo. Os véios ainda não tinham netos e minha avó por parte de mãe ainda não tinha bisnetos. Aliás, esta realidade se mantém até hoje. Pela parte da família da noiva temos que fazer uma menção honrosa ao Alex. O filho mais velho da família buscapé é uma máquina de gerar menino. Se algum dia vocês estiverem perto dele e ele espirrar, cooooooooorram, caso não queria engravidar. É incrível a capacidade deste cara, como diz o meu amigo Ricardo, se pingar no chão nasce uma árvore. Vale ressaltar que antes de casarmos realizamos vários testes para avaliarmos nossa saúde. Um dos testes que realizei foi o espermograma, que merece ser contado com detalhes.

Eu resolvi fazer o exame por pura escolha pessoal, queria saber se estava tudo bem comigo e este exame estava na lista. Eu sempre achei que os laboratórios seriam bem preparados e de fato existem alguns com uma estrutura muito boa. Porém, como tenho uma sorte incrível para passar por experiências valiosas para serem contadas, fui cair num laboratório lixão em Brasília. Eu estava extremamente nervoso, pois seria a primeira vez que alguém teria certeza que eu estava me “divertindo” dentro de um recinto. Claro que nós nunca achamos que nossos pais sabem, então reformularei esta frase: seria a primeira vez que eu teria certeza que alguém tinha certeza que eu estava me “divertindo” dentro de um recinto. Acreditem, isso não é uma sensação muito agradável e com certeza não ajuda no resultado do exame, se é que me entendem.

Cheguei no laboratório, peguei uma senha e fiquei aguardando na sala de espera junto com uma dúzia de pessoas que esperavam ser chamadas para diversos exames. Chegou o meu número e fui ser atendido pela recepcionista. Eu realmente estava morrendo de vergonha. Quem em sã consciência escolhe fazer um espermograma sem qualquer motivo? Muito trêmulo entreguei o papel com o requisição do exame para a moça que gentilmente me perguntou num tom que toda a sala conseguia ouvir. “Espermograma?”. “Si..sim... é.. é..é isso que está escrito aí, certo?”. Minha voz quase não saia e eu não tinha coragem de olhar para trás, pois sentia que todos os olhares estavam batendo na minha nuca. A visão que eu tinha da sala (na minha imaginação) era uma pessoa cochichando uns com os outros e uma senhora tampando o ouvido do seu filho na primeira fila. Não sei se foi isso que ocorreu, mas era isso que estava na minha cabeça. “Cris, trás um recipiente para espermograma”, novamente aquela voz que não cabia dentro do balcão de entrada reverbera no recinto. Uma mulher simpática veio com um copinho que parecia um balde (ainda na minha imaginação). Eu fiquei assustado com o tamanho e perguntei se precisaria encher aquilo. Ela riu e disse que não, era só o que eu pudesse fornecer. Puxei força do fundo do meu estômago e consegui soltar a única piadinha que veio à minha cabeça. “Ufa! Ainda bem! Caso contrário precisaria de uns 3 dias” e veio um sorriso amarelado. Foi então que a recepcionista com toda a sua simpatia me disse uma palavra de apoio: “próximo!”.

Bom, não sabia o que fazer e me dirigi à simpática Cris para me ajudar (não da forma que estão pensando). A Cris me explicou que eu tinha que coletar o “material” e quando terminasse poderia apertar a campainha na parede que ela voltaria para pegar a encomenda. Fiquei muito mais confiante por ver que existia todo um esquema para te deixar mais a vontade para a realização do exame. Muito mais seguro de mim, resolvi seguir adiante: “Ok, posso ir para o local, onde é o ambiente preparado?”. Ela esticou o braço e apontou para o banheiro que se localizava no meio da sala de espera, aquela com um dúzia de pessoas que haviam acabado de ouvir o que eu estava fazendo ali. “Cris, me ajude por favor! Você tem certeza que não há outro recinto mais, digamos, discreto, onde eu pudesse me “concentrar” melhor?”. “Não, este é o único local disponível”. Rapidamente a confiança e segurança foram por água abaixo. Eu sinceramente não sei como consegui atravessar a sala sob todos aqueles olhares para poder me trancar naquele banheiro que mais parecia uma cela de solitária. Eu não sei nem o que pensei na hora, pois acredito que esta lembrança foi apagada da minha memória. A única coisa que lembro é que quando fechei a porta e me preparei para começar o serviço ouvi um “shhp shhp shhp shhp, ihihihihihihihihihihihhihihi”. Aquilo foi uma bomba, eu não sabia o que as pessoas comentavam lá fora, mas eu tinha certeza que estavam rindo da minha cara. Isso atrasou o jogo em mais 10 minutos pelo menos. Sem contar que no meio da partida ainda rolou aquela batida de porta de alguém com vontade de ir ao banheiro. O cara ainda insistiu: “amigo, estou apertado”. “Acredite, quanto menos você insistir, mas rápido eu sairei, você definitivamente não está ajudando”.

Finalmente consegui chegar ao final. Os momentos decisivos foram os são mais angustiantes. Não vou explicar em detalhes, mas alguém já teve uma “emergência” onde teve que para no meio da estrada para se aliviar nas matas brasileiras e se deparou com o desafio de fazer isso em pé? Você não sabe se faz força nas pernas ou na barriga, se segura na árvore ou tira a calça da frente, se se preocupa com os mosquitos ou com os carros que passam na estrada. Sabem como é? Pois é exatamente este o sentimento. Após sair do recinto ignorei completamente quem estava sentado na sala de espera e corri para a campainha. Achei que tinha acabado, mas ao apertar a campainha a “sirene” tocou do lado de fora também e mais uma vez eu fui o centro das atenções. Eu parecia um menino que tinha acabado que quebrar o vaso chinês da mãe. Cabisbaixo, mãos para trás, não sabia se corria, chorava ou se escondia, mas sabia que tinha encarar o problema uma última vez. Finalmente a Cris apareceu e entreguei o pacote. Fim da agonia. Ufa!

No dia seguinte o laboratório ligou dizendo que a amostra não foi suficiente para realizar os exames e eu teria que voltar para encarar essa brincadeira novamente. AAHHHHHH, para com isso! Como alguém pode fornecer material suficiente neste recinto? Será que eu poderia fazer a coleta em casa e levar o material pronto? "Não senhor! Não é possível!" Caramba, esse pessoal deve estar filmando tudo e colocando no youtube, não é possível! Diga-se de passagem isso não existia nesta época. Para finalizar, consegui achar outro laboratório mais descente e realizei o exame novamente sem maiores traumas.

O resultado final foi satisfatório. Eu tinha a quantidade normal de espermas, a mobilidade estava boa e nada indicasse que eu teria problema para gerar uma criança. Nos poderíamos colocar nossos planos em prática a partir do momento que achássemos apropriado. Que beleza!

Nos posts seguintes, continuaremos contando nosso caminho. O que passamos em São Paulo e aqui no Canadá. Até a próxima.