domingo, 14 de setembro de 2008

Compra do carro

ESTAVA COM UM POST PRONTO E ESSE BLOGSPOT ME SACANEOU. PERDI TUDO NOVAMENTE.

Compra de carro:
Muitas variáveis
Carteira de motorista
Compramos
Haagen Dazs

Eeeeeee

Sem mais. Espero que este site exploda!

domingo, 7 de setembro de 2008

Sistema de Saúde no Canadá. A maior decepção até o momento.

***DISCLAIMER*** POST LONGO!

Estou tentando colocar os assuntos em dia, as coisas vão acontecendo, mas o tempo para escrever está curto. Afinal, temos que aproveitar o verão enquanto ele está por aí. O tempo começa a ficar mais frio, os dias mais curtos e as folhas começam a se avermelhar. Acredito que estamos começando a entrar no nosso tão esperado desafio, a prova de fogo, ou de gelo, o maior período de provação, o tão temido inverno canadense.

Durante um papo com amigos fizemos um ranking das coisas que mais nos desagradavam no Canadá. Primeira coisa a dizer é que é bom poder estar neste momento de crítica, pois demonstra que estamos realmente com os pés no chão e capazes de medir os prós e contras de nossas novas vidas. Segunda coisa é que houve uma surpresa no ítem escolhido como primeiro no ranking. Ao invés do frio, a comida. O canadense come muito mal, não há uma culinária que possa ser considerada local. Aliás, se fosse necessário eleger qual é o tipo de cozinha canadense com certeza o resultado seria algo misturado entre curry e “flied lice”. Desculpas a quem gosta, mas acho as cozinhas indiana e chinesa um lixo! Enquanto a cozinha indiana se preocupa mais com o cheiro do que com o gosto. Mas o cheiro apenas externo, pois quando a parada passa por uma digestão, não quem quem ande de taxi. A chinesa não se preocupa com nada, joguem tudo numa panela quente com arroz ou macarrão e pronto. Claro que há as exceções, mas no geral...

Vou colocar uma passagem rápida que nem merecia comentário. Fui a um restaurante mongol, que nada mais é do que a comida chinesa feita na sua frente. O convite foi feito por um amigo do trabalho e ele realmente estava muito empolgado com a idéia, então como negar? Chegando ao local entramos na fila dos ingredientes onde a primeira coisa a se escolher são as carnes. Ele me recomendou misturar “lamb” com “beef”, pois daria um gosto especial ao prato. Assim, o fiz! Diga-se de passagem eu estava tão perdido que ele podia falar qualquer mistura ninja que eu seguiria seus conselhos. Tudo era novo, me senti como um gringo numa casa de feijoada onde todos os ingredientes são duvidosos, mas no fim o resultado é muito bom... para alguns. Coloquei as carnes da forma que ele sugeriu, espinafre, cebola, macarrão, um molho que parecia ser de tomate, vinho para cozinhar, alho poró, alho picado e manjericão. Quase uma pizza mongol! Lembrei da minha infância quando via meu avô fazendo lavagem para porco em sua fazenda. Só faltou casca de melancia e aipim para a minha “ruma” de comida. Eu ainda não tinha visto nada, a escolha dos ingredientes era a parte mais agradável do almoço. O duro seria comer aquela gororoba depois da mistura.

Chegamos ao início da fila, aquela chapa enorme com 3 “cozinheiros” que jogavam os ingredientes e adicionavam água para dissolver aquela porcaria toda. O segredo da cozinha mongol é que logo após retirar a comida de um cliente, o outro já usufrui da rebarba, sendo presenteado com não somente os ingredientes que escolheu, mas também com os restos queimados do companheiro de sofrimento que passou por ali imediatamente 0.3 segundos antes. Logo, toda comida tem o mesmo gosto. Se fosse no Brasil o processo receberia um selo de qualidade ISO 9000 para atestar esta eficiência. Ao ver a imagem da chapa pensei em desistir, mas seria uma desfeita muito grande. Quando havia apenas 2 pessoas à minha frente os “chefs” resolveram limpar a chapa. Vieram então as vontades de desistir número 2, 3 e 4. Uma espátula fedida raspava um crosta preta de gordura nojenta e restos de vegetais que eram jogados ao lado como se fosse um local muito bem protegido, higiênico e longe dos olhos de quem iria degustar a comida. Porém, realmente acho que isto não os incomoda. Eu comecei a olhar para os clientes para ver se tinha algum ficando verde ou pálido, essa seria a minha deixa para desistir. Infelizmente o estômago do pessoal daqui já está acostumado com maus tratos.

Comida misturada, agora era o maior desafio. O cheiro e a visão me levavam a crer que eu tinha pedido comida diretamente do lixo de um restaurante italiano. Eu ficava pensando quão absurdo seria esta situação, mas até me diverti imaginando isso. Ao saborear a comida, tive uma grande surpresa, pois comecei a achar a idéia anterior realmente uma opção válida. Depois de queimar a língua, literalmente falando, consegui ter acesso ao gosto daquele... troço. A pessoa que me convidou estava me olhando fixamente para ver minha reação à primeira “garfada”. Não sei se ele queria rir, atestando que aquilo tudo era uma pegadinha, ou se realmente estava esperando que eu passasse por debaixo da mesa, no melhor estilo Ana Maria Braga. Prontamente veio a pergunta “So, how do you like it?”. A vontade que tive foi responder “I like it out of my freaking mouth!”. O gosto era de estrume, ou algo bem parecido com isso, mas ainda não havia conseguido identificar se era de “lamb” ou “beef”. Depois da segunda “garfada” o suor começou a descer. A comida estava apimentada mesmo eu não tendo inserido qualquer ingrediente com esta característica. Espero que não me entendam mal, mas, vestido, eu não gosto de nenhuma comida que me faça suar para completar os trabalhos. Se já estava causando problemas na hora de entrar, imaginem na saída. Nestes momentos que algumas peças do quebra cabeça começam a se juntar (Metrô, OVNAs, Mongóis, quem??!!). O meu amigo continuou na sua busca por informações. “E aí? Gostou do carneiro?”. Sei lá! Se carneiro tiver gosto de cabo de guarda-chuva, então estou o saboreando em toda a sua magnitude. Me esforcei ao máximo para conseguir comer pelo menos metade do bowl e me livrar o mais rápido possível daquela obrigação e partir direto para a sobremesa. Veio o convite para a segunda rodada, mas dispensei sem vergonha alguma. Peguei uns brigadeiros e passei o resto do almoço comendo-os na velocidade de uma formiga. No final saí sem saber quem era o mongol da aventura.

Vamos ao que interessa, dei uma volta enorme para chegar onde queria. Acho que só existe uma coisa pior que comida aqui no Canadá. Assim, o primeiro lugar no ranking, na minha opinião, vai para o sistema de saúde. Este assunto realmente nos causou uma grande decepção, não esperávamos que o nível de atendimento fosse tão baixo.

Quando chegamos no Canadá tivemos um problema com o seguro saúde que contratamos no Brasil. Precisamos de um médico especialistas e eles não conseguiram achar para nós. Colocamos um post aqui falando sobre isso, mas realmente acredito que o problema não é 100% do seguro. Aliás, eu diria uns 10% apenas. A situação da saúde realmente não é boa e isso é uma unanimidade. Os próprios canadenses reconhecem esta deficiência, portanto venham preparados. Uma coisa que conversei bastante com a Nanade é que estávamos acostumados com um nível de serviço que realmente estava acima da média. Os planos de saúde que tínhamos, assim como a maioria bem estabelecida no Brasil, nos permitia ir a hospitais para tratar qualquer ocasião, independente da gravidade. Antes de vir para cá morávamos em São Paulo, então qualquer probleminha íamos ao Albert Einstein e sempre tínhamos médicos especialistas à nossa espera. Esse é um luxo que não temos aqui. O sistema de saúde é público. Não há comparação entre os sistemas públicos do Brasil e do Canadá, mas também não podemos comparar público com privado. Então, respirem fundo e bola pra frente.

As coisas funcionam da seguinte forma:
  1. Devemos ter um médico de família. Ele é um clínico geral e sua primeira fonte de consulta para qualquer problema. Não há como ir diretamente para um especialista, você só consegue depois de uma indicação do MF (não confundam, é Médico de Família, e não Motherf...!).
  2. Caso não tenhamos um MF ou ele não esteja disponível no momento que precise, então você pode ir para uma walking clínic. Existem algumas WC (não confundam, é Walking clinic, e não latrina!) que normalmente funcionam no formato de ordem de chegada.
  3. Caso tenhamos uma urgência, devemos ir diretamente para os hospitais. Já pegamos uma dica com amigos que moram a mais tempo no Canadá que se realmente precisar ir para um hospital, ligue para 911 e uma ambulância virá te buscar, caso contrário a espera é longa.

Todos contextualizados, vamos à nossa aventura: achar um MF. O primeiro passo é procurar um médico que esteja aceitando novos pacientes para ser médico de família. Pelo que ouvimos 30% das pessoas no Canadá, inclusive canadenses, estão desassistidos neste aspecto. Então já viram como seria nossa busca! Para iniciarmos entramos numa página na Internet que indica todas as informações sobre médicos, localidades, especializações e, o mais importante, se estão aceitando novos pacientes. (http://www.cpso.on.ca/Doctor_Search/dr_srch_hm.htm). Pegamos uma lista de médicos com as características que queríamos e começamos a ligar. Sem exagero, ligamos para mais de 20 médicos, todos disseram que já não estavam mais aceitando novos pacientes e que a página estava desatualizada. BTW, a página é atualizada, segundo informações dos médicos, uma vez por ano. SO, YOU ARE RUINING THE PURPOSE OF IT, YOU MF! Mandei uma mensagem para amigos pedindo dicas para achar um médico de família e a melhor resposta que obtive foi ter calma, perseverança e paciência. Caramba, essas palavras nunca param de aparecer neste processo.

Partimos então para a segunda opção, fomos para uma WC. Nós estávamos procurando uma indicação para uma oftalmologista e tentamos ir na WC 4 vezes, as 3 primeiras ou o médico tinha saído mais cedo, ou estava doente. Na verdade a WC perto de casa estava com falta de médicos e os que estavam por lá estavam sobrecarregados, que novidade! Finalmente quando conseguimos conciliar nossa agenda com a da WC tivemos uma excelente surpresa ao ver um aviso que o médico estava aceitando novos pacientes. Nos empolgamos! Falamos de nossa situação para a recepcionista e a reação dela foi a seguinte. “Look, If I were you I would come tomorrow to see Dr Whatever”. ?????!!!!!!. Nós só queremos uma indicação para um oftalmologista, isso não deve ser tão difícil. Até eu, que não entendo “lhufas”, consigo fazer isso. Pegue um papel, escreva “go to the doctor” and that's it! Ela reforçou o aviso e nos colocou na fila. Enquanto ainda estávamos em pé preenchendo a nossa ficha, uma recepcionista virou para a outra e disse num tom de voz audível para quem estava do outro lado do balcão de atendimento. “Look, she is in love. How cute is that?”. “Shut up!!” disse a outra recepcionista. “Ooooooo, that's sweet, she is in love!”. Não pudemos nos conter e olhamos para trás para entender o que elas estavam falando. Pensamos que fosse uma menininha que estava se tratando na parte de fisioterapia ou algo do tipo. Ao nos virarmos vimos uma senhora com os cabelos da Iaiá Boneca, maquiagem da Elke Maravilha, roupa de mendigo, meia da Emília, o braço todo seco depois daquela coçada (parecia perna de pavão) e um Croc amarelo. Para terem uma noção exata da imagem, pensem na Cuca do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Acho que o Monteiro Lobato já foi residente permanente no Canadá e tirou muita inspiração daqui. As recepcionista continuaram comentando sobre o amor da véia por alguém do outro lado da rua. Era impressionante, pois a mulher tinha aquele ar de apaixonada e nem ouvia o que as mulheres falavam. Se nós conseguíamos ouvir, ela também conseguia, mas o amor era maior do que tudo e ela estava surda. Quando voltamos nossa atenção para a recepcionista, ela disse. “She is the doctor who is going to see you”. Eu acho que fizemos uma cara muito esquisita, pois a recepcionista só nos respondeu com aquela boca torta dizendo silenciosamente “...told ya!”.

Estamos na chuva, no WC, nos molhar não é uma opção boa nesta situação, mas quão complicado seria passar uma folha de papel/fax/qualquer coisa para nos indicar a um oftalmologista. Resolvemos correr o risco e ver se a doida era apenas esquisita ou se tinha problemas sérios. Afinal ela era uma médica, em nossos conceitos ela faz parte de um grupo seleto de pessoas privilegiadas em relação ao seu intelecto e que necessitam de muito foco para chegar em suas posições. Lá fomos nós! Para encurtar uma história longa, falamos nosso problema, ela começou a chorar as pitangas que o Canadá não tratava bem os médicos e se quisesse ganhar dinheiro os médicos devem ir para os USA, etc , etc, etc. Ok, freak! Could you refer us to an eye doctor? “Sure! I will do it and get back in a second. You can wait outside”. Ok! Chegamos lá fora e depois de 10 minutos a recepcionista nos perguntou. “So, Did you get your referral?”. Claro, claro! A doutora Lesinha foi fazer a papelada. “I hope she remembers that! Ehehe”. Que?! “...told ya!”. Caramba! Mais 10 minutos e vem a descompensada com um papel na mão e um nome escrito. Que isso? Amigo secreto? “Call Dr XXX and say I've referred you”. Ok! You Who? “Oh my name is Dr Cuca (sei lá o nome da doida)”. Peguei o pedaço de papel e tinha somente o nome do médico. Ué! Onde consigo o telefone? Não tem nenhum formulário padrão? Nada! “No, if they request that, than we send, but don't worry, he knows me!”. Ai, ai, ai. Vamos lá! Terra nova, nova forma de tratar as coisas. Vai que o doido da história sou eu e eu não sei??!!.

Dia seguinte pegamos o telefone do médico no site que colocamos acima e ligamos. Não precisamos dizer que a primeira coisa que a recepcionista disse foi que precisávamos do pedido formal, que sem isso eles não atenderiam. Lá fomos nós de novo para a WC, isso tava pior que dor de barriga. Desta vez fizemos uma reclamação formal e conversamos com o médico principal. O cara bem mais centrado, mas com as mesmas roupas maltrapilhas e uma voz que tenho certeza que ele estava bêbado. Fomos muito bem atendidos e conseguimos o que estávamos procurando. Ele disse que estava aceitando novos pacientes e diante das opções que tínhamos preferimos ficar com o ébrio. Afinal, com ele podemos ter a sorte de pegá-lo num dia bom em que bebida ainda não subiu a cabeça. Já a doida...

Depois disso não precisamos mais de médicos. Ainda bem que somos pessoas com uma saúde muito boa. Apenas semana passada que a Nanade teve um início de intoxicação por causa dos produtos de limpeza que usamos para fazer uma desinfecção na nova casa, mas foi só eu dizer que se ela não melhorasse eu a levaria para ver a Cuca que ela melhorou rapidinho (além do apoio do Flávio, Márcia, Edward e Jack, logicamente!).

Ainda to devendo a aventura do carro e nossa mudança para a nova casa.