segunda-feira, 6 de julho de 2009

Uma história para se contar (2)

Vida que segue, a idéia era nos organizar melhor antes de colocarmos nossos planos em prática. Quando casamos eu trabalhava em uma empresa de consultoria que tomova muito do meu tempo com viagens e isso só nos ajudava a confirmar que os planos estavam corretos.

Tempos depois eu abri uma empresa de consultoria com meus grandes amigos Ricardo e Carlos e o trabalho que já era grande, aumentou 347%. Ao invés de fazermos apenas nossa parte de consultores de entrega dos serviços, passamos a fazer o planejamento, elaboração de táticas de venda, venda, networking com clientes e parceiros, pagamento de contas, interação com contadora, assinatura de contrato de plano de saúde, procura por recursos para trabalhar nos projetos, identificação de oportunidades, participação em eventos para divulgação da empresa, preparação do material de venda, cafézinho e tantas outras coisas que é transparente para quem trabalha em uma empresa já constituída. Porém, não havia problemas em relação à gravidez, pois estava tudo dentro do planejado. Fazendo um parentesis, o ponto interessante da experiência de abrir uma empresa é a interação que temos com outras pessoas durante o processo. Quando decide entrar nessa brincadeira você é taxado de louco, pois “quem vai largar uma coisa que é certa para enfrentar uma aventura cheia de incertezas”? Isso soa familiar para vocês? Ouvimos isso com bastante frequência em tantas outras aventuras que resolvemos encarar. O mais interessante é que as mesmas pessoas que os taxam de loucos, depois batem nas costas dizendo “Nossa! O que vocês conseguiram é muito interessante! Eu queria ter um pouco disso que conquistaram!”. Eu não estou dizendo que as pessoas são negativas ou invejosas (algumas eram), mas a idéia é demonstrar que algumas vezes o receio de encarar o começo de uma caminhada priva a oportunidade de viver grandes momentos. Existe uma excelente frase que expressa bem a importância e o peso de início de toda iniciativa: “A good beginning is half way to success”.

Chega a formatura da Nanade em 2003 e, com o evento, a vontade de ser mãe começou a voltar ao palco principal. Porém, era impossível pensar em algo neste aspecto devido à quantidade de trabalho. Nestes momentos que vemos quão valorozas são as pessoas que escolhemos. O maior sonho da Nanade é ser mãe, de gêmeos, mas ela tinha os pés no chão e entendia, mesmo que contrariada, que uma criança naquele momento não seria a melhor opção, imaginem duas. Porém, em nenhum momento eu senti cobrança de sua parte para acelerar os relógios ou diminuir as barras dos objetivos que traçamos para que a luz verde se acendesse para a tentativa dos nossos filhotes. Muito pelo contrário, seus planos estavam sendo adiados e eu sentia todo o apoio necessário para continuar na batalha para encontrar um ambiente propício para que entrássemos juntos neste longo caminho. Eu a admiro, acima do respeito e do amor que sinto pela minha princesa, eu a admiro. Admiro o fato de que ela, acima de todos os seus sonhos, suportou os meus. Admiro a sua habilidade de transformar os seus anseios em pensamentos positivos e ações práticas para que eu pudesse fazer a minha parte do jogo. Admiro sua capacidade de lidar com esta situação de maneira tão criativa. Cada gravidez de amigas e pessoas próximas eram tratadas como se fossem dela. Acredito que esta era a forma de viver parcialmente seu sonho e apaziguar o chamado natural que urgia em sua cabeça e corpo. Talvez as amigas sentissem apenas o lado de estarem sendo mimadas, mas não têm a idéia do bem que estavam fazendo para a Nanade. Eu sentia quão satisfeita ficava a minha princesa depois de interagir com as gravidinhas. Era uma realização mesmo. Não tenho como agradecer tudo isso que ela me ofereceu. Aliás, tenho sim, retribuindo tudo o que recebi a cada dia que acordo ao seu lado, não por obrigação, mas por prazer de prover a alegria sentida durante todo esse tempo.

No início de 2005 decidimos fechar a empresa e com isso parti com a Nanade para São Paulo. A idéia era usar esta mudança como um treinamento para alcançar o nosso plano maior, o Canadá. Estávamos cortando o cordão umbilical e ajudando não somente a nossa cabeça, mas principalmente a dos nossos familiares para que se acostumassem com a idéia de morarmos longe. A mudança para São Paulo foi a gota d’água no relógio biológico da Nanade, parece que a cidade grande fez ebulir os hormônios e proporcionalmente diminuir a paciência quanto aos fatores externos que influenciavam a decisão. Esse sinal verde teria que arrumar um jeito de aparecer. Depois de um ano em Sampa (não sei como consegui segurar tanto tempo) fui trabalhar do outro lado do balcão, ou seja, deixei de ser consultor e passei a ser cliente. Este era a última variável que faltava para podermos finalmente correr ao encontro de nossos pequenos. Nada mais de 10 a 12 horas por dia de trabalho, de viagens constantes, agora era horário fixo de 9-18, finais de semanas liberados para lazer e uma boa fonte de renda. Finalmente chegou a hora, minha linda!

Porém, não sabíamos que estávamos nos preparando para uma maratona. 1, 2, 3 meses, nada! Estamos tentando, daqui a pouco vem. 4, 5, 6 meses e o sinal verde virou amarelo. Tem alguma coisa errada aí! Fomos procurar um médico. A visita ao médico foi super tranquila. Ele nos disse que não poderia fazer muita coisa, pois meus exames mostravam que estava tudo ok. Eu havia repetido o espermograma só para ter certeza que as taxas estavam normais. “É assim, mesmo! Em média um casal normal demora 6 meses para engravidar. Pelo quadro que me falou isso pode ser ainda resultado da sua vida estressada de antes. Use cueca frouxa e durante o período fértil da sua esposa procurem praticar bastante, pois a prática leva a perfeição”. Excelente! Saí do médico com uma boa sensação. Precisa desestressar e a melhor forma de fazer isso é praticando o que ele nos prescreveu. Uh hu! Quer coisa melhor do que isso? Tenho certeza que nos divertiremos muito neste segundo semestre.

A diversão durou apenas até a segunda semana do primeiro ciclo. Nunca pensamos que um dia iríamos não querer praticar o esporte. Isso é uma situação inconcebível.Pelo menos isso nunca havia passado pela minha cabeça. Essa obrigação acaba com a graça do “brinquedo”. Depois do terceiro dia não tinha Dança do Pombo que resolvesse. Jantávamos já com lágrimas nos olhos lembrando que teríamos que tentar acertar o alvo mais tarde. A partir do terceiro mês, o simples fato de escutar qualquer assunto relacionado nos causava dores físicas. “Tem certeza que quer tentar hoje?”. “Querer, querer, eu não quero, mas vai que é hoje que acertamos os números da megasena?”. Não podíamos desperdiçar oportunidade e não podemos ser acusados de não tentar. Nos próximos 6 meses emagrecemos 8 kg e ficamos com olheiras de urso panda. A voz afinou, os cabelos ficaram bonitos e sedosos, a pele parecendo um pêssego, mas nada de vermos as duas listras nos testes de gravidez.

Depois do primeiro ano sem sucesso voltamos aos médicos para uma segunda bateria de exames. Neste ponto já poderíamos ser considerados para aplicar para tratamentos de infertilidade. Os nossos exames sempre deram todos normais novamente, então o culpado passou a ser a ansiedade de Nanade. Tadinha! Como não ficar ansiosa, também! Ela esperou por isso por 5 anos de casamento e não tem como controlar. Ela entrou no Ioga, exercícios, tratamento para relaxamento, foco nos estudos e acabamos comprando a Dalila para que o instinto materno da Nanade fosse de alguma forma utilizado. Isso funcionou, acho que é por isso que a gata é tão mimada. Paralelamente eu comecei a tomar um complexo vitamínico com foco na vitamina e comecei mais uma série de espermogramas. Eu estava de saco cheio disso e lemrbo que reclamei ao médico. “Vou ser bem sincero, esse negócio de espermograma é a pior coisa que existe”. “Ah é?! Espere até chegar aos 40 anos, o buraco será literalmente mais embaixo e você sentirá saudade desta época”. Nossa! Esse médico era realmente bom, ela sabia como me incentivar. Nesta fase sempre ouvíamos histórias de pessoas que tentavam engravidar por vários anos, depois desistiam e resolviam adotar alguém ou fazer um tratamento de inseminação artificial. Depois de conseguirem os filhos, conseguiam engravidar naturalmente, pois já não tinham mais a pressão e a ansiedade em suas cabeças. Tenho certeza que existem várias pessoas que passaram e/ou passam por essa mesma situação e precisamos compartilhar um segredo: estas histórias não ajudam! Eu tenho certeza absoluta que aqueles que as contam têm a melhor das intensões, mas realmente elas funcionam no sentido oposto, pois aumenta a ansiedade mostrando que o caminho pode ser muito maior do que pensamos.

Mais 6 meses com estas tentativas até que meu médico resolveu que iria pedir um exame mais específico para tentar entender melhor o quadro. Foi então que pediu um exame que demonstraria o formato dos espermas. Bingo! Acharam o problema! Eu tenho quantidade suficiente de espermatozoides e com boa mobilidade. Porém, a percentagem de esperma com o formato correto (denominarei-os de ninjas), capaz de fecundar o óvulo, eram apenas de 1% a 4% do total, quando o mínimo necessário para obter sucesso nas tentativas era 15%. Caramba, minha mãe ficou toda triste, ela disse: “Eu tenho tanto orgulho dos meus filhinhos nordestinos, todos de cabeça redondinhas, porém não sabia que isso teria um efeito colateral”. Pois é, Mãezinha! O pior é que os cabeçudos ainda atrapalham os ninjas na hora da natação e a probabilidade de sucesso nesses casos é de menos de 1%.

Nós nunca havíamos ouvido falar nisso, por isso nunca nos atentamos para o fato. Minha tia Susan disse que esse problema é muito conhecido no Nordeste. Existe até um nome científico bem disseminado no ambiente acadêmico e popular que ajuda às pessoas na procura do melhor apoio para resolução deste problema. Estou classificado como um exemplar vivo do difundido conceito da “Gala Rala”. É tia, você está certa, mas neste caso não tem maizena que resolva.

Faltavam 3 meses para virmos para o Canadá quando o problema foi realmente definido. Precisaríamos de apoio, leia-se um programa de auxílio para fertilização, para conseguirmos engravidar. Digo, tínhamos menos de 1% de chance de conseguirmos naturalmente, mas decidimos que no Canadá daríamos início ao tratamento. Isso gerou mais ansiedade e stress, pois sabíamos que a Nanade já estava no seu limite em relação a este assunto.

Próximo post, falaremos sobre a caminhada já nas Terras Geladas. Será que precisamos de tratamento ou o frio ajudou engrossar a “parada”?

5 comentários:

K disse...

Nossa!!!

Não fazia idéia disso tudo! E ainda fiquei perguntando na Páscoa quando vocês teriam filhos. Sinto muito! Preciso aprender a controlar minha língua.

Mas agora os parabéns são em dobro, né? Ou seria ao quadrado?

Que seja! Posso imaginar como a Nanade está feliz... desde os meus 12 anos que eu, literalmente, sonho em ser mãe. E a hora certa pro sinal verde nunca chega, só vai ficando mais longe... Então posso dizer que entendo o que ela sentiu todo esse tempo. E ainda vivenciou um dos meus maiores medos: o de ter dificuldade quando a "hora certa" chegar. Portanto, sr. Luciano, trate de paparicar muito essa mamãe, porque todo esse tempo o coração dela esteve apertadinho esperando esse resultado positivo.

Beijos enormes pra vocês,

K.

Ninha disse...

É gêmeos ???????????????????
A neeeeeeemmm, nao acredito nisso !
Como Deus é grande, Deus é muito grande!!!! Que felicidade gente.
Parabéns, parabéns \o/

Eu to boba com toda essa história.

Vcs merecem.

Abraços, Ninha e DO

Danielle disse...

Adorei o blog de vcs! Meu nome eh Danielle e eu estava procurando informacoes sobre o Canada e acabei caindo no blog de vcs...

Tb temos um blog e vivemos em NY. Nosso processo de residencia no Canada esta correndo e ha algumas semanas atras fizemos os exames medicos... Bem eh isso...

Adorei o blog, muito engracado e cheio de emocoes!

Beijos, Danielle

Danielle disse...

Ah, se quiser dar uma olhadinha no nosso blog: www.walkinginourshoes.blogspot.com

Claudinha disse...

Meu, você tem que escrever um livro, é muito bom nisso!!!

Parabens Mamis Nanane e Papis Lu

Manda logo o próximo post!!! Please!!!