terça-feira, 4 de agosto de 2009

Uma história para se contar (6)

Continuando esta história que está mais longa do que imaginávamos. Acredito que conseguirei fechar com este post. Tenham calma.

Na quinta feira, após decidirmos não fazer uma nova drenagem, voltamos para casa e me dirigi ao trabalho. Durante o dia a Nanade relatou que a barriga havia crescido um pouco, mas nada que precisasse de uma ação mais drástica. Quando voltei do trabalho não havia mudado muito, mas a barriga voltou a crescer de noite e a Nanade teve que dormir sentada novamente. Na sexta feira ela acordou bem, mas durante o dia voltou a piorar. Assim, não houve jeito, tivemos que ligar para a clínica e eles nos disseram que teria que fazer uma nova drenagem no dia seguinte, pois já haviam fechado naquele dia.

Durante a noite a barriga da Nanade chegou ao maior nível que já havíamos visto. Mais uma vez ela cresceu 4 cm em pouquíssimo tempo. Ficamos em dúvida se ela aguentaria até o dia seguinte. Tentamos dormir (eu no quarto e ela sentada na sala), mas ela acordou às 2:30 com muitas dores. Tentamos esperar até às 7:00 da manhã para irmos direto para a clínica, mas não foi possível, as dores estavam muito fortes e ela mal conseguia respirar. Corremos para o mesmo hospital em Brampton às 3:30h da manhã para tentarmos controlar os sintomas. Ao chegarmos ao hospital fomos direto à recepção e o rapaz perguntou: “is she pregnant?”. Sim, 4 semanas de gravidez. “You mean.... 4 months, right?”. Não não, 4 semanas, por isso que estamos aqui. Ele nos direcionou para sermos atendidos e começou aquela espera. Pedimos para o hospital entrar em contato com o médico, mas eles disseram que não poderiam, a não ser que fosse um caso extremo. Bom, nós acreditávamos que era um caso extremo, por isso havíamos ido para o hospital, caso contrário esperaríamos até às 7:00h para nos deslocarmos diretamente à clínica. Ela disse que já tinham visto casos piores, onde a pessoa havia praticamente parado de respirar e por isso o médico foi chamado. Isso realmente não era uma informação que gostaríamos de ouvir. Será que precisaríamos chegar neste ponto para que pudéssemos ser atendidos de maneira apropriada? Felizmente o crescimento da barriga havia estabilizado, mas a Nanade continuava com dor. Outra coisa que nos incomodava é que as dores também vinham em “ondas” como se fossem contrações. Isso era a última coisa que precisávamos naquele momento. Quando chegou às 5 da manhã a enfermeira falou que seria melhor irmos para casa e depois para a clínica direto, pois lá no hospital acabaríamos esperando mais do que isso para sermos atendidos. Isso é um absurdo! A Nanade estava sentindo muita dor e nosso medo é que a falta de ar fosse algo mais sério. Decidimos ficar no hospital mesmo até às 6:30, pois se algo mais sério ocorresse estaríamos no local certo. Eu não saberia o que fazer, então voltar para casa estava fora de cogitação. Sem contar que Brampton é beeeeem longe.

Chegamos à clínica às 7:00h e os exames constataram que realmente precisaria de uma outra drenagem. De uma hora para outra esta alternativa era a mais aguardada pela Nanade, pois as dores noturnas eram piores do que virar espetinho.

Apesar de estar muito disposta a encarar a drenagem, a Nanade estava nervosa. Dentro da sala de procedimento o médico perguntou se estava preparada para começar e ela abriu o bocão a chorar. A pessoa responsável pela ultra, uma Romena chamada Lucia, fez as vias de ombro amigo. Ela segurou a mão da Nanade enquanto o a agulha buscava as bolhas de fluidos em sua barriga. Quando entrei na sala a máquina de coca cola estava bem fraquinha, quase não saia líquido, o que me deixou curioso. Da outra vez a barriga não estava nem tão inchada assim e o líquido jorrava abundantemente, por que está saindo pouquinho agora? A enfermeira disse que a barriga estava inchada não somente por causa do líquido, mas também devido ao tamanho dos ovários da Nanade. 30 minutos e 1.5 litros depois fomos para casa com três outros agendamentos. Voltaríamos no dia seguinte para ver a evolução, na segunda feira a Nanade tomaria outra dose de plasma na veia e na quarta feira estaríamos lá novamente para avaliar o quadro geral. Nossas planejadas férias em Niagara acabavam de ir por água abaixo, mas era por um motivo nobre. O médico disse que dificilmente voltaria a acontecer. Tomara, pois já estávamos ficando com medo de final de semana. Lembro que tive que dirigir o carro à 20Km/h até em casa, pois qualquer buraco na pista fazia a Nanade se contoncer com o incômodo.

Assim seguimos! Fizemos tudo que havia sido marcado e finalmente na quarta feira veio a notícia que esperávamos. A Nanade havia saído do quadro de hiperovulação. De fato a sua barriga já estava diminuindo e as dores já não incomodavam. Precisaríamos voltar no sábado para fazer uma ultra para avaliar o tamanho dos ovários, mas isso era apenas para garantir que nada mais ocorreria. Chega de finais de semanas conturbados! Segundo o médico podíamos ficar tranquilos que o pior havia passado. Comemoramos junto com o pessoal na reunião de sexta e divulgamos que as turbulências haviam passado. Agora era aproveita a gravidez.

Porém.......... esse porém é bem grande. Não sabíamos que ainda estávamos para passar pelo pior momento.

Acordo no sábado de manhã com a Nanade me chamando na sala. “Dor, amor! Dor, muita dor!” Calma! Dor onde? “Dor! Dor! Dor!”. Vi que ela não tinha condição de falar então comecei a me arrumar para ir para a clínica. Em 3 minutos estava pronto e tentei levar a Nanade escada abaixo. Cada degrau era um suplício e resolvi pegá-la no colo para acelerar a locomoção. Tivemos sorte que um dos vizinhos ouviu os gritos e veio nos ajudar. Ele saia abrindo as portas à nossa frente enquanto eu a carregava e ficou com a Nanade na porta do prédio enquanto fui buscar o carro. Já no carro a caminho da clínica eu tentei entender o que ela estava sentindo, mas não tinha jeito. Ela estava em transe concentrada no que a incomodava. Mais uma vez as dores vinham em ondas, mas a força era estupidamente superior ao que havíamos presenciado na semana anterior. Eu pensava comigo: não é possível! O médico disse que isso não voltaria a acontecer! A barriga não inchou, ela não ganhou peso, nada parecia ao que havíamos vivido. Porém isso era um ponto negativo. A Nanade ficava repetindo: “amor, não quero perder nosso filho! Me ajude!”. Eu ajudava como podia, dirigia o mais rápido possível para a clínica enquanto deixava minha mão espalmada sobre a barriga dela e repetia sempre “fique, fique, fique”. Eram as únicas coisas que eu podia fazer. As dores voltavam cada vez piores. A clínica parecia mais longe do que nunca. Quase não havia carro na rua, pois era um sábado às 10 da manhã e mesmo assim parecia que nunca chegava. “Amor, eu não quer perder nosso filho”. Só de lembrar me dá um nó na garganta.

Chegamos à clínica e enquanto ela ficou no carro eu corri para arrumar uma sala para ela ser avaliada. Cheguei muito cansado e nervoso e a recepcionista percebeu que era algo sério. “There is no room available at this moment. Could she wait for a while?”. Não! Não pode! Ela está passando muito mal e preciso que ela seja atendida agora. Corri no carro para buscá-la e assim que cheguei lá a mulher já apareceu dizendo o quarto que deveríamos ir. Levei a Nanade no colo até o quarto e cheguei lá quase desmaiando. Durante os exames o médico falou que não era aborto, o que me deixou bem aliviado, mas ao mesmo tempo não sabia o que esperar. Ele disse que isso ovário torcido (http://en.wikipedia.org/wiki/Ovarian_torsion) e que devíamos correr para o hospital, pois isso causaria muita dor até que ela voltasse ao normal. Ele entrou em contato com o hospital, nos deu um “referral” que iria nos fazer pular toda a fase de análise do problema e nos fez sair correndo. Chegamos ao hospital e começou a guerra. Deixei a Nanade no carro e fui pegar uma maca ou algo do tipo. Ele falaram que antes eu teria que entrar na fila normal para triagem. Veja bem, eu tenho esta indicação dizendo qual é o problema e o que precisa ser feito. Minha esposa está com muitas dores e grávida. Eu realmente estou preocupado que essa espera cause algum problema maior. “Sir, you need to be on the line for the triage”. Ok, o que não tem solução, solucionado está. Entrei na fila e ela falou que eu tinha que buscar a paciente. Eu acho que você não entendeu, minha mulher está berrando de dor no carro, se eu a trouxer aqui vai causar uma grande bagunça. “Sir, you need to bring the patient here”. Eu a busquei e ela já chegou vomitando, para mostrar que o caso era sério. Rapidinho passamos na frente da triagem e nos enviaram para a sala de emergência. “Dor! Dor! Amor, faz parar!”. Pedi quase de joelhos que a enfermeira fizesse algo e ela disse que precisaria de uma palavra da médica. Ok! Mas onde está essa médica? Não é possível deixarem uma pessoa neste estado numa maca gritando de dor enquanto aguarda algo. 10 minutos de sofrimento depois volta a mulher com uma injeção de morfina. Enquanto isso veio uma pessoa me dizer que eu precisava tirar o meu carro da vaga da emergência e também ir lá fora assinar um “num sei o que”. Eu precisava de apoio e liguei para a Jack. Em 15 minutos ja tinha um exército lá fora para apoiar no que eu precisasse. Jack, Flávio, Dona Van, Francisco e Lu estavam no saguão esperando.

Antes do pessoal chegar, fomos direcionados à sala de ultra. A Nanade estava apagada, pois depois da injeção ela ficava completamente nocauteada. Quando estávamos na sala de ultra tivemos uma boa surpresa. A mulher mostrou que o bebe ainda estava lá. Este foi o primeiro alívio. Eu disse que havíamos passado por um processo de fertilização e que havíamos transferido 2 embriões. Ela mexeu o aparelho e deu outra excelente notícia. “You are right. There are two little babies in there”. Tentei passar isso para a Nanade para ver se ela melhorava, mas não tinha jeito. O efeito da morfina começava a passar e o tsunami de dor vinha se formando.

Pedi que a Jack ficasse com a Nanade enquanto resolvia a burocracia e retirava o carro. Fiquei lá fora com o pessoal e comi algo, pois a esta altura já eram 2 da tarde. Quando voltei, a médica estava lá para explicar o que seria feito. Ela disse que provavelmente era ovário torcido e que teriam que fazer uma laparoscopia para avaliar melhor. Depois disso havia 3 opções: fazer uma nova drenagem (caso não fosse ovário revirado), desvirar o ovário ou remover o ovário (caso o ovário já tivesse necrosado). Porém, este terceiro é somente em último caso. A previsão para entrar na sala de cirurgia era de 2 horas. Perguntei como faríamos até lá, pois o efeito da morfina durava duas horas e já estava acabando e não havia condições de deixá-la sofrendo daquele jeito. A médica disse que injetaria uma nova dose de morfina e também prescreveria um supositório contra dor, que não permitira que a dor chegasse a níveis altos. Ok! Foi ministrada a outra dose de morfina e ficamos esperando o outro remédio. Nada! Cadê o outro remédio? “We have purchased it and they are going to deliver it in a minute”. Esse papinho durou a tarde inteira. 4 da tarde, nada de morfina, nada de supusitório, nada de sala de cirurgia e a Nanade volta ao estado crítico. Ela já não tinha lágrimas, não sei como suportou tanto. Fiquei brigando com uma enfermeira lutadora de sumô e já estava quase saindo no tapa com a mulher quando apareceu um anjo e nos ofereceu para sermos transferidos para um quarto semi privado.

Ao chegarmos lá em cima começou a guerra novamente. Mais morfina, por favor? Cadê o supositório? Cadê os médicos? Que horas será a cirugia? Nenhuma dessas perguntas eram respondidas de forma satisfatória e eu já não tinha estômago para suportar o sofrimento da Nanade. Eu via que ela se esforçava para lutar, mas a dor estava vencendo. Ela já havia dito com todas as palavras que seu limite havia passado e que não aguentava mais. Porém, o que eu poderia fazer? Ainda bem que a Jack e a Dona Van estavam por lá. Elas ficavam com a Nanade enquanto me recuperava lá fora em um bate papo com o Flávio. O nível de angustia já havia chegado ao máximo. Para que precisávamos passar por tudo aquilo? Logo agora que achávamos que tudo havia terminado e as coisas fluiriam no curso normal da natureza... De tanto enchermos o saco das enfermeiras elas conseguiram contactar a médica e ministrar mais morfina, porém desta vez não foi uma injeção, era através do soro que ela estava recebendo. Assim, a dor não passava, mas também não chegava a um nível crítico. A Nanade ficava dormindo e fazendo caretas. De vez em quando soltava um gemido e reclamava, mas era algo bem mais suportável. O Flávio, a Jack e a Dona Van precisavam ir embora, pois haviam saído às pressas de casa. Pouco antes disso chegou a médica para “avaliar se realmente era preciso fazer a cirurgia”. Isso é sério? Somos nós que escolhemos? Se sim, leve-a para a sala de cirurgia agora, pois passou a tarde inteira sofrendo. Não existe, na minha visão leiga, outra coisa que possa ser feita. Eu passei a ficar muito preocupado com a possibilidade de ter que passar a noite inteira em “observação”. Para quem estava ali do lado era claro que o que tinha que ser observado, já havia sido. A médica fez uma última avaliação e disse que iria preparar a sala de cirurgia. Alívio finalmente! 45 minutos depois volta a enfermeira e pede para a Nanade ir para a maca. Com dificuldade ela se locomove até a maca e aguarda ser levada. Neste instante chegam o Francisco e a Lu para nos dar aquela força final. Na porta do centro cirúrgico eu me despeço com a certeza que eles irão desvirar o ovário e ela sairá do outro lado novinha em folha.

Na sala de cirurgia um médico faz as últimas perguntas para a Nanade, que volta a sentir dores muito fortes. Quando ele estava quase saindo ela arruma força e diz: “eu estou grávida”. Ele volta para a maca e repete: “you are pregnant! Nobody told me! Are you aware of the risks?”. Ela disse que não quis nem ouvir o que ele tinha para dizer, mas ela já sabia o que era. Talvez este momento de lucidez tenha servido para ela compartilhar esta imporante variável. Os riscos e consequências estavam fora de suas mãos, que aliás, estavam de volta para tentar resistir à dor insuportável.

Lá fora eu aguardava com tranquilidade. Eu sabia que estava tudo resolvido a partir daquele momento. Além disso, o Francisco e a Lu me davam o apoio antes provido pela Jack, Flávio e Dona Van. Eu não poderia estar melhor assessorado. 15 minutos, 30, 45 e nada. Começo a ficar nervoso e de repente uma voz no alto falante diz : “Code blue, code blue! Operation room Second floor! Code blue”. O que é isso? De repente um monte de médicos saem correndo de todos os buracos do hospital. Meu coração acelerou a mil. O que é cold blue? Onde essa galera tá indo? Aquela foi a primeira vez que senti a seriedade da situação. A única coisa que me deixou mais calmo é que os médicos saiam de onde a Nanade estava e corriam na direção oposta. Fui atrás para ver o que era e pude perceber que code blue é parada cardíaca e uma vovózinha estava precisando de auxílio. Eu tive que ser egoísta neste momento e ficar aliviado com a situação.

Mais 30 minutos e volta a médica procurando a família Barreto. Eu me apresentei e ela pediu para que fôssemos para outro local, mais isolado. Fiquei preocupado. Quando sentei ela disse que a Nanade estava bem, que a cirurgia havia sido bem sucedida. Eles tentaram uma laparoscopia normal, com uma incisão pequena no umbigo, mas o ovário estava tão grande que as ferramentas não tinham acesso. Assim, tiveram que fazer uma incisão maior, igual a de uma cesária para poder chegar ao ovário. Ela disse que antes mesmo de chegar ao ovário já começou a pegar pedaços dele que estava se esfacelando. O ovário já estava necrosado e era o causador da dor, então não teve jeito, tiveram que removê-lo inteiro. Eu literalmente fiquei 1 minuto em silêncio. Eu não esperava por isso. Achei que era algo muito mais simples. Eu perguntei pelos bebês e ela disse que não havia tocado no útero, assim ela estava de dedos cruzados para que nada ocorresse. Dedos cruzados? Essa é a resposta que terei? Ela disse que teria que avaliar qual dos dois ovários estavam provendo progesterona para os bebês, se fosse o direito provavelmente o impacto na gravidez seria maior. Porém, não havia o que fazer, só aguardar. Eu estava meio em choque. Como a minha princesa suportou tudo isso? Eu perguntei pelos nenês de novo e ela foi muito seca. “If they are there, they are there. Cross your fingers and hope for the best. Our priority is your wife and you must think like that as well.”. A médica estava olhando pelo lado racional e eu não conseguia acompanhá-la. O emocional estava todo destroçado e querendo tomar a frente das minhas ações. Ela disse que a Nanade ficaria mais uma hora no recovery room e voltaria para o quarto depois.

Enquanto isso na sala de recuperação aparece o bendito supositório. Agora não precisava mais, eles já haviam retirado o causador de problemas. “Sabe o que você fazem com esse supositório?” Pergunta a Nanade! Mas antes que ela completasse a resposta, eles completaram para ela.

Eu voltei para contar as novidades para o Francisco e a Lu que prontamente iniciaram uma oração de agradecimento. Neste momento chegou o meu limite. Eu perdi as forças para reagir. Não sabia o que fazer, não sabia o que esperar, não sabia o que e como dizer para a Nanade tudo aquilo. Meu corpo ficou dormente, eu fiquei pálido. O Francisco e a Lu me deram um abraço tão apertado que me senti em casa. Senti todo o apoio que precisava para poder continuar na luta. Afinal, isso era apenas uma batalha, diga-se de passagem, que havíamos vencido. O futuro indica incerteza, mas isso era bem melhor do que estávamos há 2 horas atrás.

O Francisco me acompanhou até em casa para que eu tomasse um banho e me preparasse para a noite. Cheguei em casa e liguei para os familiares para dizer o que havia acontecido e para deixá-los tranquilos. O que não aconteceu, lógico. Nos dias posteriores todos queriam estar aqui, mas pedimos mais tempo para entendermos o que estava por vir.

Voltando para o hospital eu não sabia como iria econtrar a Nanade. Estava pronto para ficar com ela durante a noite para apoiá-la, mas logo na entrada as enfermeiras já me disseram que não seria possível. Seria melhor eu ir para casa descansar e estar de volta no dia seguinte. Quando entrei no quarto pude ver uma outra figura da Nanade. Ela estava com o sorriso novamente na cara, tinha acabado de sair de uma cirurgia e seu rostinho já estava iluminado novamente. A Lu me disse que não havia comentado nada o que tinha ocorrido, pois queria que eu que desse as notícias. Quando cheguei na cama ela perguntou o que tinha ocorrido. Eu expliquei toda a história, que ela estava bem, que havia passado por algo muito extremo, mas que tudo indicava que tudo estaria bem. A única coisa que não havia certeza, era sobre a continuidade do nosso sonho. Talvez precisássemos postergar um pouquinho nossos objetivos, mas não tinha nada certo. Ela olhou bem fundo no meu olho e disse. Meu amor, não se preocupe, eles estão aqui. Eu senti muita força e a partir daquele segundo eu não me preocupei mais com relação a este assunto.

Fui dormir na casa do Felipe, que prontamente me ofereceu estadia. Sua casa ficava mais perto do hospital do que a minha e como ele também estava sozinho, pois a família está no Brasil, decidi aceitar o convite. Tenho que falar a verdade. Cai numa armadilha. Casa de homem solteiro é um perigo. Chegando lá ele me ofereceu um jantar, se é que hot pockets pode ser considerado assim. Na primeira mordida que dei no negócio, saiu um ar tão quente de dentro que fiquei sem os cílios do olho direito. Para completar o jantar, uma sukita sem gás, que pelo menos não dá gases. Depois de um agradabilíssimo papo, fui dormir no quarto do Joãozinho. O Felipe disse: “cara, eu coloquei dois cobertores para você aqui” se precisar de mais, me avise!”. Putz! Dois cobertores e ainda precisar de mais? Fiquei imaginando que ele era um cara friorento, mas ignorei o aviso de amigo. Comecei a sentir um incômodo durante a noite e achei que era vontade de ir ao banheiro. Levantei e vi que o incômodo era a temperatura. A casa estava tão fria que o xixi empedrou. Eu não conseguia me mover direito e tive que pegar todas as toalhas do banheiro para poder amenizar a situação. Teve uma vantagem incrível. De manhã eu acredito que rejuvenesci uns 3 anos. A câmara criogênita do Felipão realmente funciona. Ele devia cobrar ingresso por esta experiência. Brincadeiras a parte, Felipe. Muito obrigado pelo espaço e pela companhia. Eu realmente estava precisando e não tenho como agradecer. Ainda falando sério.... Fabi, volte logo!

Aliás, não tenho como agradecer à todos aqueles que compartilharam conosco estes momentos difícieis. O domingo (dia seguinte) recebemos mais de 30 pessoas nos visitando e isso ajudou a Nanade na recuperação. Depois de dois dias ela saiu do hospital e fomos nos hospedar na casa do Elias e da Celinha. Na semana seguinte a Lu Breckenfeld ficou em casa para ajudar a Nanade e a partir daí foram mais outras pequenas aventuras que já não temos mais espaço para contar.

Chegamos no dia de fazer a ultrassonagrafia para verificar como estavam os figurinhas. Muitos perguntaram se ficamos emocionados ao ver os corações das criancinhas batendo, mas acho que o sentimento mais forte naquele momento foi o alívio. Sabíamos que eles são tao guerreiros quanto nós. Apesar de toda a turbulência, eles estão lá, se desenvolvendo e se preparando para trazer alegria para nossas vidas. Abaixo tem o vídeo da primeira ultra. Muitos devem ter visto, mas fica aqui para aqueles que ainda não os conhecem. Com vocês.... os bebês.



Antes de acabar eu gostaria de falar umas coisinhas. Mais do que nunca eu dou valor à pessoa que escolhi como minha companheira. Porém, gostaria de estender um agradecimento à minha mãezinha.

Mãe,
acredito que sua influência me levou à escolha instintiva de uma pessoa que externamente parece frágil e insegura, mas que guarda um poder mágico e uma força de viver que motivam a todos que estão ao seu lado. Quem vê de fora não imagina que o alicerce está centrado em sua figura, mas sua leveza em nos guiar muitas vezes esconde o real valor que contém. Longe de querer abdicar desta posição, mas entendendo a importância de ser, mais do que parecer, vive a vida à apoiar nossos desafios e clarear nossos caminhos. Sabemos que podemos contar com esta proteção constantemente, afinal ela está tatuada em nosso interior assim como nossos próprios pensamentos. Você é capaz de estar conosco mesmo quando não pensamos nisso. É inerente, intrínseco, inseparável. Essa é mais uma prova do que falei no início. Durante todo esse processo que passei consegui entender um pouco, ainda que da minha maneira, do que é ser mãe. Vi o apego, a luta, o cuidado, o sofrimento físico e psicológico, a força, o foco, a persistência, a sinceridade com os sentimentos e acima de tudo, o amor necessário para gerar uma criança. Por um motivo muito óbvio, isso tudo não foi novidade, pois ao olhar para trás através de uma perspectiva muito mais madura, pude verificar a história se repetindo. Fico grato por ter me provido esta capacidade, feliz por ter me moldado com estes valores e orgulhoso em poder saber que o amor que sinto pela Nanade foi você que me ensinou a nutrir. A Nanade contém as mesmas características e isso é o primeiro passo para ser a mãe que um dia uma criança terá orgulho de divulgar para todos ouvirem: EU AMO A MINHA MÃE! Que assim seja!

Muito obrigado e todos que nos acompanharam até este ponto. Agora chegamos no dia de hoje e as novidades serão descritas com espaços maiores de tempo.

Antes de fechar, gostaria de compartilhar uma frase que a Lucia disse no dia da nossa primeira ultra com as crianças. Ela foi a pessoa que apoiou a Nanade durante a segunda drenagem e também acompanhou boa parte desta luta. Durante a realização da ultra e após ouvir o restante da história que ela não conhecia, ela disse uma frase que traduz muito bem minha interpretação em relação à minha poderosa princesa.

“You are very brave. After all you have experienced, you can still smile”

16 comentários:

:= disse...

Esses carinhas são ninjas mesmo, hein?
Boa sorte daqui pra frente e tudo de bom.

* POLINHA POROROCA * disse...

caramba quanta emoção esses ultimos meses hein lu e nanande.... aff tem que ser muito forte mesmo como vcs sao para aguentar toda essa trajetoria.
que bom que tudo deu certo e que no meio da angustia veio tb a felicidade de saber que sao 2.
temos certezas que os bebezinhos tb serão fortes e orguhosos dos pais!
bjos dos tios paulinha e vinicius

Ninha disse...

Lu e Nanade.
Eu fiquei com a respiração agora presa, pois ja passei por isso. Tive ovário torcido e quase fui p/ mesa de cirurgia, mas as dores duraram horas tb e acredite, é uma dor horrível que nem no parto normal eu senti. Isso complicou um pouco o fato de conseguirmos engravidar tb mas nem chega aos pés de toda essa batalha que vcs 4 estão passando. Eu desejo de verdade Luciano e Nanade que de agora em diante Deus os de toda graça e alegria que vcs merecem.

Um grande abc,
Ninha e Do

Carlos Henrique disse...

Mulek vocês são guerreiros mesmo! E estamos todos sempre torcendo pelo seu sucesso, saúde e felicidade. Que bom que estou aqui para poder vivenciar tudo isso de perto! Conte comigo sempre mesmo!!
Abraçao do CarlosH

K disse...

Que montanha-russa!!! Realmente, a Nanade pode até parecer frágil, mas mostrou que é uma verdadeira guerreira. E você também teve que ser muito forte pra passar por tudo isso. Nossa, ainda bem que tinha gente por aí pra dividir um pouco o peso disso tudo com vocês.

Parabéns por toda essa força e coragem.

Beijo,

K.

O Lacombe disse...

Casal,
parabens pelos gemeos! Que a gravidez corra bem ate o final. Estamos trocendo.
Nunca vi tanto sacrificio e sofrimento. Nunca soube dos riscos envolvidos nesses processos. Nunca havia escutado nenhum relato.
Realmente, as mulheres sao seres iluminados. A maternidade exige muita forca, eh um poder que emana das maes.
Mais uma vez, parabens.
Abracos,
Octavio

Priscila Martins Baldacci disse...

Olá!
A gente não se conhece, mas sempre lemos o blog de vocês!
Ficamos felizes de ter dado tudo certo e desejamos ainda mais força!
Muita saúde, paz e muito amor!
Boa sorte nos desafios e esperamos estar aí no Canadá em breve! Quem sabe não poderemos ser amigos?
Abraços,
Pri e Rico

Unknown disse...

Lu,obrigada pelas palavras.Vc me emociona sempre!!!!!!
Fico feliz de ter tido um filho maravilhoso como vc,sou feliz por vc existir!!!!!
Nanade já é uma mãe maravilhosa!!!!!
Com certeza os filhos de vcs irão se orgulhar dos pais que terão e serão felizes!!!!!
Beijinhos e saudades

Anônimo disse...

Luciano
Enquanto lia teu relato ficava pensando na Nanade, que me parece tão frágil mas que na verdade é uma fortaleza. Parabéns pelo relato e obrigada por compartilhar conosco momentos tão especiais. Um abração, Rosa

Anônimo disse...
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Eliane disse...

Oi Luciano,
que Deus abençoe muito vcs!
Estava aqui lendo todo esse relato e pensando que todo esse sofrimento vale a pena. A melhor coisa do mundo é saber que tudo vai dar certo.
Grande beijo, Eliane

Clau e Zé disse...

Q raiva desse pessoal desse hospital, francamente
Mas nossa, me emocionei com o relato...
Força e coragem!

Raquel Santos disse...

OOII SOU LEITORA DO BLOG DE VCS DESDE QUE CHEGARAM E HOJE NAO ME CONTIVE EM FAZER UM COMENTARIO: É IMPRESSIONANTE A PRESENÇA DE DEUS QDO MAIS PRECISAMOS DE FORTALEZA! VCS ESTARÃO EM MINHAS ORAÇÕES E SERAO EXEMPLOS DE GARRA!
ABRAÇOS E MUITA LUZ

Anchises disse...

Luciano e Nanade,
Nossa, parabéns pela força e pela coragem que vocês estão tendo. Eu quase desmaiei só de ler a descrição do Luciano, não consigo nem imaginar o que foi passar por tudo isso na real.
Mas fico super hiper feliz por vocês, tenho certeza que tudo isso está valendo a pena e que vocês vão ganhar um belo Lucianozinho e uma Nanadezinha super charmosa. (ta aí o meu palpite).
Um grande abraço e desejo muita força e muita relicidade para vocês todos.

Claudinha disse...

Bem que você tinha avisado pra preparar a caixinha de lenço hein, a Kleenex devia te pagar comissão!!!
Nanade e Lu, vocês merecem sombra, água fresca e curtir a gravidez, graças a Deus estão bem acessorados por aamigos tão especiais!!!
Um beijo no coração de vocês 4.

Unknown disse...

Quanto emoção Lu e Nanade. Só hoje li esse post e me emocionei com os detalhes de todo esse terrível momento. Mas Deus é muito bom e a partir de agora é hora de viver só a felicidade. A viagem a Las Vegas foi mais do que merecida pra vocês!!!! beijos dos tios dos babies, Alle e Lu