quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Visto Americano no Canadá. Não é lenda!

Aproveitarei o embalo te ter escrito um post para colocar outro assunto bem interessante que é quase uma lenda. Visto Americano requisitado a partir do Canadá.

Ano passado fiz algumas viagens para os USA a trabalho e numa delas resolvemos que a Nanade iria comigo. Afinal, uma oportunidade para conhecer San Francisco "metade" "de graça" não poderia ser jogada fora. Tivemos uma surpresa quando a Nanade recebeu um não do consulado em São Paulo. A razão foi que eles pediram o meu passaporte e a Nanade não tinha levado. Aliás, em momento algum eles dizem isso, então como adinvinhar a cabeça dessa galera? A experiência foi muito frustrante, mas resolvemos que só iríamos tirar o visto americano para a Nanade depois que tivéssemos o visto canadense nas mãos. Todos dizem que é muito mais fácil nesta situação.

Devido a diversos fatores pessoais, quando recebemos nossos vistos canadenses resolvemos antecipar nossa vinda para o Canadá. A idéia era passarmos 15 dias em Orlando, aproveitando um pouco a vida, pois eu estava há 7 anos sem férias, para depois chegarmos descansados na nossa batalha de novos imigrantes. O problema é que a fila para o visto americano só nos permitiria requisitá-lo faltando 10 dias para a nossa viagem e seria muito arriscado, uma vez que o consulado estava fazendo jogo duro com os brasileiro para devolução dos passaportes. Uma amiga nossa demorou quase um mês para receber seu passaporte de volta e disse que encontrou várias pessoas que perderam suas viagens por causa dessa gracinha.

Planos mudados, viagem direta para o Canadá e a minha promessa que a Nanade teria um visto até o final do ano nas mãos. Os USA aqui do lado, não tem como não ter este pedaço de papel. Buffalo, a Ciudad del Lest Canadense, NY à 2 horas de Vôo, San francisco, Las vegas a preços ridículos.... precisamos desta carta de liberdade. Quando fui ao consulado brasileiro pela primeira vez peguei um jornal brasileiro que havia um passo a passo de como conseguir o visto americano em Toronto. Recebemos uma ducha de água fria ao ler, pois a Consul americana dizia textualmente que as pessoas devem tirar o seu visto em seus paises de origem. Assim, fica muito mais fácil para eles avaliarem os seus antecendentes e laços com o país. Bom, fazer o que?

Começamos a planejar uma viagem da Nanade para o Brasil durante as suas férias para que ela pudesse visitar a família E tirar o visto no Brasil. Como sempre a fila estava kilométrica e ficou difícil qualquer movimento. Até que surgiu a oportunidade de visitar Orlando com meus pais e resolvemos procurar algo por aqui mesmo. Bom, vamos tentar, se não der certo vamos ao Brasil.

Primeiro desafio: arrumar uma data. Vocês acham que aqui é diferente? Nada disso! O Canadense não precisa de visto para ir aos USA, por isso achamos que a fila seria mais light. Ledo engano! Com a quantidade de imigrantes no país as filas também são grandes. O sistema para agendar a "entrevista" é online (https://www.nvars.com/) e as cidades disponíveis são Toronto, Ottawa, Vancouver, Quebec City, Montreal e Halifax, se não me engano. Em toronto existe a possibilidade de agendar com até 6 semanas de antecedência. Para a nossa surpresa não havia qualquer data disponível. Depois de tentar várias vezes recebemos uma excelente dica que seria melhor tentar também em outras cidades, pois Toronto é sempre muito concorrido. Também nada conseguimos! O que resolveu foi a Nanade ficar o dia inteiro, e não é exagero, no site tentando achar uma vaga. No segundo dia conseguimos uma vaga em Ottawa para 1 mês depois do dia que estávamos. Isso nos tranquilizou, mas queríamos algo mais próximo, tanto em tempo, quanto em distância. No segundo dia finalmente achamos a data e o local que queríamos. Toronto para "daqui a uma semana".

Segundo desafio: correr atrás dos documentos, pagamento de taxas, coleta de evidências que temos ligaçao com o país, fotos (aliás, 2 fotos de passaporte custou CAN$22.00, acreditem!), etc. Uma das coisas que deve ser levada é a carta de confirmação emitida no momento que fazemos o agendamento. Esta carta tem a lista das coisas que devem ser entregues e algumas regras para o dia, como por exemplo nenhuma máquina fotográfica, celular ou qualquer outro aparelho eletrônico pode adentrar ao recinto e ninguém além da pessoa que vai tirar o visto poderá estar no local, a não ser que a pessoa seja de menor. Ooops, isso nos levou ao desafio 3.

Terceiro desafio: Treinar a Nanade para a entrevista. Eu passava o dia fingindo que era o oficial de imigração e a Nanade a entrevistada. Perguntava por que queria ir, quanto tempo estava no país, por que havia tido seu visto negado e tantas outras coisas que achávamos que seriam cruciais para obtermos o visto. A Nanade estava muito nervosa com esta situação, mas acho que a vontade de ir para a Orlando e para "East City" era maior.

Quarto desafio: Encarar o dia D. A entrevista estava marcada para 9:30h e chegamos à frente do consulado às 9:15. Na calçada há uma barreira de cimento, como se fossem uns cones, e um segurança do consulado fica para dentro. Quando estávamos chegando até ele, uma pessoa o abordou antes de nós. Quando íamos ultrapassar a barreira recebemos um grito de desconsertar qualquer um. "Wait there!!!!". Caramba! Isso tudo é receio de falar com duas pessoas ao mesmo tempo? O guardinha não tinha muito tato e pediu para ver os documentos da Nanade. Havíamos combinado que eu tentaria entrar para auxiliá-la, mas se não desse certo, nosso treinamento seria suficiente. Depois de ver os documentos ele virou para mim e perguntou "Are you the interpreter?". Opa, nossa deixa! Sim! "You must provide a photo ID". Como somos errados, mas não tanto, resolvi dizer que era o marido, mas que funcionaria como intérprete. "You must provide it anyway". Mais grosso que papel de enrolar prego. Ok! Sem problemas! Passamos pela primeira barreira. Depois foi só apresentar os documentos nas próximas duas. Chegamos ao primeiro booth e uma mulher com a cara da Vovó Zilda também foi muito seca. Perguntou se eu era marido e pediu que aguardássemos para ser chamados. A sala estava cheio de chineses, koreanos, indianos, etc. Acredito que é nesta hora que eles pegam os documentos e fazem um background check para validar nossa situação. Enquanto aguardávamos ficávamos nos divertindo com a dificuldade dos agentes para chamar os nomes. Indian Passport vaghnabrashaaba Singh. Ahahahahahahahahahahhaahah. Chinese Passaport Ia Yu. ahahahhahahahahahaha. Indian Passport (qualquer nome que parece um pneu sendo furado) Vaghabanda Vagaluma, sei lá. ahahahahhahahahah. A mulher demorava três horas para falar cada nome. Realmente uma diversão. Durante essas chamadas conhecemos, ou vimos, pela primeira vez uma pessoa oriunda do Nepal. Caramba, existe mesmo. Em minha To do list, agora só falta conhecer alguém de Papua Nova Guiné e Ilhas Seisheles. Aproximadamente 40 minutos depois... Brazilian Passport Aliiiaa Aaaa. Ih amor, acho que é você, mas agora não teve muita graça (:-)). Por um lado isso foi bom, pois ao chegarmos ao segundo booth a mulher já tinha um sentimento de dívida. "Sorry, this name is not so commom". Acho que ela tava acostumada com muitas letrinhas sem vogais. "Don't worry it is a difficult name even for me". Esta mulher foi muito simpática e tirou as digitais da Nanade. Bom sinal, acreditávamos que se não fosse ser aceita, nem as digitais seriam tiradas. Mais 5 minutos e fomos chamados para o terceiro booth e mais uma mulher simpática. A Nanade começou o discurso com o "I don't speak english". Ela falou para não se preocupar. Fez as perguntas de sempre: por que quer ir para os USA, quanto tempo...... Virou para mim e perguntou onde eu trabalhava, pediu para ver meu passaporte e como havíamos aprendido esta lição da última vez, o passaporte estava em mãos. Ela viu que eu tinha várias entradas, virou para a Nanade e disse "you have a very good english, you should not say the opposite. You are going to receive your Visa at home in one week". AAAAAAAAAAEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE. Haagen Dazs. Haagen Dazs.

O processo todo demorou aproximadamente 1 hora e foi muito tranquilo. Depois que tiramos o visto conversamos com algumas pessoas que já estão aqui no Canadá a mais tempo e elas disseram que tirar visto aqui é tranquilo mesmo, que provavelmente nós entendemos errado. O que o USA quer é que as pessoas tirem o visto em seus home country e não no país de origem. Como o Canadá é nosso home country agora, então não tivemos problemas. Porém, pessoas que vêm para cá como turistas e tentam tirar o visto americano por aqui são negadas imediatamente. Bom, pelo menos foi o que escutamos. Fica a dica.

Uma semana depois a Nanade recebe o seu passaporte com o tão esperado visto. Detalhes, o visto vale por 10 anos e tem escrito em letras garrafais "LANDED IMMIGRANT IN CANADA". Acho que da próxima vez que formos para lá eu pegarei carona com ela. O visto tá bonito e é real! Não é lenda!

Agora só falta estrear. "East City", here we go!

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Saia da mãe ou do país?

Hoje estava numa excelente discussão sobre algumas barreiras que enfrentamos em nosso caminho para sair do país. Dentre outras coisas, diante de alguns relatos, percebemos que há dois grandes grupos que nos cercam: os orgulhosos e os invejosos. No geral, veja que estou realmente generalizando, os orgulhosos são aqueles que têm coragem de fazer o que você está fazendo mas não têm vontade. Os invejosos são aqueles que têm vontade, mas não têm coragem.

A minha estratégia nestes casos era simples. Para os orgulhosos eu perdia meu tempo explicando que o Canadá não é frio por 12 meses, que existe verão, outono e primavera, que o governo realmente ajuda as pessoas, que existe de fato oportunidades de se obter uma boa posição e que o país precisa muito mais do que apenas lavadores de pratos. Para os invejosos eu simplesmente concordava com suas teorias que resultavam na idéia absurda que nosso objetivo de vida era virar engraxate de esquimó. Se isto os fazia bem, para mim estava ótimo.

Outro grande problema é a questão da separação física da família e é neste ponto que gostaria de focar este post. Muitas vezes vemos casos em que as famílias "acusam" os futuros imigrantes de abandono ou até mesmo os próprios imigrantes sentem a culpa por estar deixando seus pais e avós para "trás". Isto pode ser um fator decisivo para aqueles que estão em dúvida sobre seu futuro. Assim, resolvi contar a minha experiência para que possa ser utilizado como um peso nesta balança.

Quando estava no processo ouvi do meu pai duas frases que apenas atestaram minha decisão. Enfatizando que isso é uma situaçõ muito particular, mas vou colocá-la aqui de qualquer forma.

Só para contextualizar, meu pai é de Ilhéus - BA e saiu de casa aos 11 anos de idade carregado pela mão pelo meu avô para ir atrás do sonho, de ambos, de seguir uma carreita militar. Quase 50 anos depois ele se aposentou como General e deu o prazer à minha vó de vê-lo recebendo o comando de uma região do Nordeste cujo o quartel General fica em Salvador. Lembro muito bem dessa cerimônia quando minha vó com os olhos marejados olhou para mim e disse. "Meu filho, isso é uma realização sem tamanho". 4 meses depois, minha vó faleceu. Tenho certeza que ela não se conteve com a emoção e teve que ir contar para o meu avô que toda a dor que haviam passado tempos atrás havia valido a pena. Na minha cabeça ficou aquela imagem, aquela vibração, aquele sentimento que consegui extrair da voz trêmula e olhos focados na figura do meu pai. Na minha interpretação isso é tudo o que quero prover à nossa família. Talvez hoje eu consiga ter uma visão muito mais clara daquele momento, assim consigo explicar melhor.

Crescemos com uma única obrigação imposta por meu pai: sermos felizes. Assim, quando soube de nossas pretensões ele me falou, dentro de vários papos, duas frases que me marcaram. "Meu filho, nós já vivemos nossa vida, conquistamos nossas conquistas, batalhamos nossas batalhas, vencemos nossas vitórias. Por favor, complete nossa vida vivendo a sua." e "Se ficasse para ver meus pais envelhecendo, as únicas histórias que teria a contar seriam as suas mortes".

Isso foi suficiente para que este problema não fosse mais considerado. Hoje percebemos o orgulho que nossos pais sentem ao falar que estamos por aqui. Ainda há outra boa variável, depois de algum tempo podemos abrir o processo para que eles também se tornem residentes permanentes assim como nós. Vir ou não é uma decisão particular, mas a possibilidade existe.

Quanto ao fato de compartilhar a vida, as conquistas e até os momentos diários, as coisas estão muito mais simples. Hoje o skype nos permite ter um número em Brasília e nossa família pode nos ligar como se estivéssemos lá. Caso queiramos nos ver, basta abrir o programa e colocar a câmera. Fora isso, guardamos emoções e as apresentamos de maneira a surpreendê-los e sempre lembrá-los de nosso relacionamento. Vou colocar abaixo uma das cartas que enviei para meu pai. Nesta situação, eu havia acabado de mudar para São Paulo e gostaria de demostrar a ele como faz parte de minha vida. Espero que gostem.

"Pai,
Após a elaboração do livro em homenagem aos seus 60 anos surgiu em mim uma vontade de continuar lhe escrevendo o sentimento que me acomete quando penso em você. Essa vontade sempre foi postergada por falta de tempo. Porém, é válido dizer que o tempo existe, o que precisamos é saber priorizar. Após a leitura daqueles slides que você me mostrou, onde havia o arrependimento de uma pessoa perante a falta de um pai devido aos acontecimentos da vida e a ocorrência de minha mudança para São Paulo, resolvi começar a escrever-lhe. Nada melhor do que aproveitar um pouco o tempo colocando no papel sensações glorificantes. Quero externar o que sinto sozinho, quero mostrar-lhe como é bom ter uma pessoa que lhe apóia e lhe ensina.

Essas cartas servirão também como um diário para passar as coisas boas que vivemos. Afinal, de que adianta experimentarmos se não pudermos dividir?

Toda vez, ao final da tarde, penso o que realizei durante o dia, exatamente como sempre ouço sua voz me dizer. Se você soubesse como isso me faz crescer...

Esta é minha segunda semana aqui em São Paulo e a cada dia fico mais feliz. É muito interessante olhar pela janela e ver um mar de luzes, os barulhos da cidade grande, as oportunidades surgindo uma atrás da outra. Quando isso acontece sinto-me um vitorioso, sinto-me capaz de realizar qualquer coisa, acho que nunca havia sentido isso antes.Vejo um mundo pela janela que está à espera da minha gana por sucesso e ao ver a Nanade feliz aqui ao meu lado me sinto completo e preciso externar isso. Não há pessoa melhor a compartilhar do que aquele que sempre acreditou em meu potencial, na verdade mais do que isso, apostou suas fichas.

Orgulho... É isso que procuro passar as pessoas. Eu sinto orgulho de você, pai, e cada vez que penso nisso levo uma descarga de energia positiva. Por isso, tento alcançar sua magnitude. Quero que as pessoas se sintam da mesma forma que me sinto ao me espelhar em você.

Você faz parte de mim.

Eu te amo,

Luciano Barreto"

Espero que estas palavras que tanto me incentivaram também sirvam para outras pessoas. Sei que a maioria que está aqui não precisa de incentivo, mas esta variável família sempre será um contraponto a se considerar.